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Bairros chineses em todo o mundo afetados pelo pânico do coronavírus

18/02/2020 10h09

Melbourne, 18 Fev 2020 (AFP) - De San Francisco a Melbourne, os bairros chineses das megalópoles estão estranhamente calmos, desertos de visitantes que cederam ao pânico desde o surgimento do novo coronavírus na China.

"O alarmismo está em toda parte", lamenta Max Huang, proprietário do restaurante Juicy Bao, no histórico bairro chinês de Melbourne.

Seu estabelecimento é um entre as dezenas de restaurantes na mais antiga "Chinatown" da Austrália, que surgiu durante a corrida do ouro dos anos 1850.

Mesmo que o epicentro da epidemia de COVID-19 esteja a mais de 10 horas de avião e que a Austrália tenha registrado apenas alguns casos, a comunidade chinesa é estigmatizada, como quase em todas as partes do mundo, desde o aparecimento na China do vírus, que deixou quase 1.900 mortos.

Em Melbourne, as ruas estão surpreendentemente calmas e até a dança do dragão do Ano Novo Lunar não conseguiu atrair multidões.

Os comerciantes dizem que sua renda caiu mais da metade, forçando-os a reduzir drasticamente as horas de trabalho de sua equipe. Uma situação que se repete em todas as Chinatowns do planeta.

Agora, no distrito de Richmond, em Vancouver, é fácil conseguir uma mesa no restaurante de frutos do mar Empire.

- Nenhum turista chinês -"Normalmente, teríamos longas filas de espera, mas hoje não há filas", aponta o vice-gerente Ivan Yeung.

"Algumas pessoas já cancelaram suas festas ou refeições em grupo. Muitos restaurantes estão passando pela mesma situação", lamenta ele, desejando um rápido retorno à normalidade.

Em vários países, a proibição de entrada de pessoas da China atingiu fortemente alguns bairros.

"Normalmente, a essa hora, temos turistas chineses, mas agora não temos nenhum", comenta Tony Siu, diretor do popular restaurante cantonês R&G Lounge em São Francisco.

Na Austrália, a proibição foi agravada pelo fato de que quase 100.000 estudantes chineses não puderam retornar a tempo de iniciar seu ano acadêmico.

"Nossos principais clientes vêm da China... é por isso que é muito difícil", diz Su Yin, cuja barraca de panquecas está localizada aos pés de uma universidade de Melbourne que tem muitos estudantes chineses.

Na esperança de tranquilizar clientes em potencial, alguns comerciantes colocaram cartazes informando que suas instalações são desinfetadas regularmente como medida preventiva.

- "Medo dos chineses" -Alguns chegam a fornecer álcool em gel para os clientes e solicitam que seus funcionários usem máscaras e luvas de borracha.

Mas essas medidas não têm apresentado resultado diante da xenofobia, o que contribui para piorar a situação.

Rebecca Lyu, uma estudante chinesa em Londres, explica que tem sido muito difícil convencer suas amigas a jantar ou fazer compras com ela.

"Alguns de meus amigos se recusaram a comer em restaurantes em Chinatown porque têm medo do vírus", disse ela.

Em San Francisco, a loja de lembranças Fred Lo costuma ser muito popular entre os turistas europeus e sul-americanos, mas "nas últimas duas semanas, temos tido muito menos pessoas, pelo menos 50% a menos, mesmo que ninguém esteja doente", afirmou.

Lo estima que este período tem sido ainda mais difíceis do que quando abriu sua loja em 1975.

"Não é justo que tantas pessoas tenham medo dos chineses", ressalta.

Esse comerciante, também presidente da Câmara de Comércio Chinesa de Melbourne, lamenta que a mensagem de que "estamos bem, não tenha medo" não seja ouvida.

Em Londres, David Tang notou que as pessoas o evitam há algumas semanas. "Pego o trem todas as manhãs. Um dia, na semana passada, todos estavam de pé e havia um assento vazio ao meu lado", diz ele, depois "eu ri da situação".

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