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Harvey Weinstein culpado de agressão sexual e estupro, uma nova era para o #MeToo

24/02/2020 16h03

Nova York, 24 Fev 2020 (AFP) - Um júri de Nova York declarou nesta segunda-feira o ex-produtor de cinema Harvey Weinstein culpado de agressão sexual e estupro de duas mulheres, mas não de comportamento sexual predatório, um veredicto que inaugura uma nova era para o movimento #MeToo nos tribunais.

Após quase um mês de julgamento e cinco dias de deliberações, o júri considerou Weinstein, 67 anos, culpado de agressão sexual em primeiro grau por praticar sexo oral na ex-assistente de produção Mimi Haleyi em julho de 2006.

O produtor de filmes como "Pulp Fiction" também foi declarado culpado de estupro em terceiro grau da ex-atriz Jessica Mann em março de 2013.

Weinstein, no entanto, não foi considerado culpado do crime de estupro em primeiro grau de Mann e por duas acusações de comportamento sexual predatório, os delitos mais graves pelos quais era acusado e que poderiam resultar em uma pena de prisão perpétua.

A sentença será definida no próximo 11 de março pelo juiz James Burke, que presidiu o processo no tribunal penal estadual de Manhattan. Weinstein enfrenta uma pena de cinco a 29 anos de prisão.

- Fazendo história -Após citar cada uma das seis mulheres que contaram durante o processo como tinham sido agredidas sexualmente por Weinstein, o promotor de Manhattan, Cyrus Vance, acrescentou que essas mulheres "mudaram o curso da história em relação ao combate à violência sexual".

"Um estupro é um estupro, seja ele cometido por um desconhecido em um beco escuro ou por um dos companheiros durante uma relação íntima. É um estupro ainda que não haja provas físicas e tenha sido algo que ocorreu há muito tempo", acrescentou o promotor.

O movimento Time's Up também comentou que o veredicto inaugura "uma nova era na Justiça".

O movimento Time's Up, que luta contra o assédio e a agressão sexual no ambiente de trabalho, afirmou que o veredicto de Weinstein é uma "nova era de justiça, não apenas para quem as que quebraram o silêncio, que falaram apesar do grande risco pessoal, e sim para todas as sobreviventes de assédio, abuso e agressão no trabalho".

O primeiro julgamento penal de um homem influente acusado no âmbito do movimento #MeToo, que luta contra o assédio e a agressão sexual, começou em 22 de janeiro, culminando em um veredicto unânime entre os sete homens e cinco mulheres do júri nesta segunda.

O comediante Bill Cosby já havia sido considerado culpado em 2018 de drogar e agredir sexualmente uma mulher, mas ele foi acusado em 2015, antes do nascimento do movimento #MeToo.

Weinstein foi denunciado por assédio, agressão sexual ou estupro por mais de 80 mulheres desde a explosão do escândalo em outubro de 2017, incluindo as atrizes Salma Hayek e Gwyneth Paltrow.

Mas ele foi julgado apenas por dois casos: a suposta agressão sexual contra Mimi Haleyi e o estupro da ex-atriz Jessica Mann. Quase todos os outros delitos prescreveram.

Para decidir se Weinstein é um predador sexual, o júri deveria determinar se ele estuprou a atriz de Annabella Sciorra, além de agredir sexualmente Mimi Haleyi e/ou estuprar Jessica Mann.

Sciorra contou que Weinstein a estuprou no inverno de 1993-94, mas como a denúncia diz respeito a um fato que teria acontecido há três décadas, o crime prescreveu. Porém, o seu testemunho, combinado com as acusações de Haleyi e Mann, poderia ser utilizado para que ele fosse considerado um predador sexual.

- "Um grande impacto" -"Foi um veredicto misto. Suponho que ambos os lados podem declarar que houve uma vitória", disse à AFP Bennett Gershman, ex-promotor e professor de Direito da Universidade Pace. "Terá um grande impacto" para o movimento #MeToo, disse.

"Essa é uma vitória extraordinária para a acusação", disse por sua vez a advogada penal Julie Rendelman. "Ainda que ele não tenha sido condenado pelos crimes mais graves, os outros crimes podem mandá-lo para a prisão por até 29 anos".

A Promotoria afirmou durante o processo que Weinstein se aproveitou de seu grande poder na indústria do cinema para agredir sexualmente durante anos aspirantes a atrizes e trabalhadoras do setor.

A defesa exibiu ao júri dezenas de e-mails para demonstra que as acusadores tiveram durante anos uma relação de afeto com o produtor após as supostas agressões, incluindo relações sexuais consentidas.

Weinstein ainda deve responder por uma acusação em Los Angeles sobre um suposto estupro de uma modelo italiana em fevereiro de 2013, e por agressão sexual à ex-modelo Lauren Young na noite seguinte, em um banheiro de um hotel situado em Beverlly Hills.

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