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Ajuda social, salva-vidas dos pobres da África do Sul durante confinamento

31/03/2020 09h00

Joanesburgo, 31 Mar 2020 (AFP) - Com os bolsos vazios, como sempre no final do mês, Ntombi Dlamini não pode se dar ao luxo de fazer provisões antes do confinamento, embora, para seu alívio, possa contar com a ajuda social do Estado, que desta vez chegou alguns dias adiantada.

"Estou muito feliz, porque as prateleiras estavam vazias", diz essa avó sul-africana de 60 anos, que cria quatro netos na "township" de Alexandra, em Joanesburgo.

"Hoje eu vou poder comer. E depois comprar comida até o coronavírus passar", acrescenta.

Mais de 17 dos 57 milhões de sul-africanos vivem com assistência social, a segunda maior fonte de renda familiar no país, depois dos salários, segundo estatísticas oficiais.

O pagamento antecipado da ajuda era uma das principais prioridades do governo, depois que o país entrou em um período de confinamento na sexta-feira, devido à pandemia de coronavírus. A doença representa uma ameaça especial para os mais pobres.

"Percebemos a ansiedade e o medo que essa pandemia desperta entre milhões de famílias sul-africanas, especialmente as mais vulneráveis", disse o ministro do Desenvolvimento Social, Lindiwe Sisulu.

"Não entre em pânico. A assistência social será paga nos dias 30 e 31 deste mês", acrescentou.

Em Port-Elizabeth (sul), longas filas se formaram nos pontos de pagamento. No "township" de Kwazakhele, houve um grande tumulto, pois centenas de idosos se recusaram a respeitar as regras de distanciamento impostas pelas autoridades.

"Ficamos na fila assim por horas, por que parar agora?", reclamou uma senhora furiosa, brandindo sua bengala. "Este vírus não importa para nós, temos filhos e netos para alimentar!", insistiu.

- Muito medo -Um pouco fora do caminho, Nomonde Maphai, de 87 anos, assiste à cena com cautela. "Ontem terminei o último saco de fubá", conta ela, preocupada, determinada a não voltar para casa de mãos vazias.

Segundo a Agência de Previdência Social da África do Sul, dois idosos morreram na segunda-feira, depois que desmaiaram na fila por ajuda.

Em Joanesburgo, a distribuição foi muito mais ordenada. Lá, os beneficiários foram autorizados a buscar seus cheques em pontos de distribuição nos supermercados.

Mas, assim que recebem o dinheiro, os beneficiários não têm outra opção a não ser irem para os supermercados lotados dos bairros pobres.

"Olha como está minha perna. Eu não posso nem falar sobre o quanto dói", desabafa Christine Mhiongo, 64 anos, deficiente, enquanto passa pelo caixa com um saco de pés de galinha congelados.

"É realmente difícil fazer compras e se locomover", suspira Grace, de 61. "Na semana passada, eu não consegui nem chegar ao centro comercial, de tantas pessoas que havia", comenta.

Os idosos, às vezes deficientes, sabem que são o alvo favorito da COVID-19, que já infectou mais de 1.300 pessoas no país - com três mortos -, de acordo com o último balanço oficial publicado na noite de segunda-feira.

"Tenho muito medo do coronavírus", admite Leti Maluleka, de 57 anos, que mora com outras dez pessoas em uma cabana em Alexandra. "Eu lavo minhas mãos, mas é tudo que posso fazer", diz.

"Somos tantas pessoas em casa que, se um de nós for infectado, muito rapidamente seremos todos", conclui.

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