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Coronavírus dá trégua em Itália e Espanha; EUA espera semana difícil

Mulher usa máscara contra coronavírus nos Estados Unidos (EUA) - John Moore/Getty Images
Mulher usa máscara contra coronavírus nos Estados Unidos (EUA) Imagem: John Moore/Getty Images

05/04/2020 22h37

Espanha, Itália e França registraram uma esperançosa redução do número de mortos por coronavírus nas últimas horas, mas a pandemia, que já matou 68.125 pessoas em todo o mundo, ameaça os Estados Unidos, onde os cidadãos se preparam para sua "semana más dura".

Uma imagem resumiu neste domingo (5) a calamidade que assola o mundo: o papa Francisco, sozinho, dando início à Semana Santa, normalmente sinônimo de igrejas lotadas e procissões, mas que este ano chega com metade da população mundial confinada.

"Olhem para os verdadeiros heróis que vêm à tona nestes dias. Não são os que têm fama, dinheiro e sucesso, e sim os que se entregam para servir aos demais. Sintam-se chamados a arriscar a vida. Não tenham medo de gastá-la por Deus e pelos demais: vão ganhá-la!", disse o papa em uma basílica vazia.

Desde o início da epidemia, foram contabilizados mais de 1.244.740 casos de contágio em 191 países ou territórios.

Nas últimas 24 horas, os países que registraram mais mortos foram Estados Unidos, com 1.082 novos óbitos, Espanha (674) e Reino Unido (621).

Na América Latina, o Brasil tem um terço dos casos da região, com 11.130 contagiados, e o maior número de mortos: 486.

Esperança e prudência

Na Espanha, pelo terceiro dia consecutivo, registrou-se uma redução no número de falecidos pelo novo coronavírus. Nas últimas 24 horas morreram 674 pessoas, o que situa o balanço total de mortos por coronavírus no país em 12.418.

Após uma semana trágica, na qual em 2 de abril foi alcançada a cifra de 950 mortes por dia, as estritas medidas de confinamento, que se estenderão até 25 de abril, parecem começar a dar frutos e as autoridades estudam uma flexibilização progressiva das restrições.

"Trata-se de sermos muito prudentes para não desperdiçar todo o esforço feito pela sociedade espanhola", advertiu o ministro da Saúde, Salvador Illa.

A Espanha é o segundo país do mundo mais castigado pela pandemia, depois da Itália, onde as cifras deste domingo também eram animadoras.

O número de mortos diários por coronavírus foi de 525, a cifra mais baixa desde 19 de março, anunciaram neste domingo os serviços de Proteção Civil desde país que soma 15.887 mortos.

"São boas notícias, mas não deveríamos baixar a guarda", disse o chefe de Proteção Civil, Angelo Borrelli, à imprensa.

E na França, o balanço do domingo foi de 357 mortes, a menor cifra em uma semana.

"Haverá muitos mortos"

Nos Estados Unidos, ao contrário, os óbitos vão continuar aumentando nos próximos dias, advertiu o presidente Donald Trump.

No país já há mais de 320.000 contágios e 9.100 mortos. "Esta, provavelmente, será a semana mais difícil (..) Haverá muitos mortos", advertiu Trump, prevendo a entrada do país em um "período que será horroroso".

O estado de Nova York, epicentro da crise nos Estados Unidos, registrou 594 falecidos nas últimas 24 horas. O total de mortes no estado superou os 4.150.

"Estamos muito perto do pico" de contágios ou pode ser que "esse pico seja uma colina e estejamos nela", disse o governador, Andrew Cuomo.

"Médicos, enfermeiras, especialistas em respiração assistida. Se ainda não estão nessa batalha, venham porque precisamos de vocês", pediu o prefeito de Nova York, Bill de Blasio.

No Reino Unido, que já supera os 4.900 mortos, a situação é tão crítica que a rainha Elizabeth dirigiu-se neste domingo aos britânicos em um discurso histórico no qual agradeceu ao pessoal sanitário que trabalha sem trégua contra a pandemia do novo coronavírus e aos britânicos que ficaram em casa para conter a propagação da doença.

América Latina supera os 30.000 casos

A pandemia também avança na América Latina, que registrava neste domingo quase 30.400 casos confirmados e 1.052 mortes.

O Brasil tem um terço dos casos, com 11.130 contagiados, e o maior número de mortos: 486.

Avizinha-se a "fase mais aguda" da pandemia, admite em um relatório o Ministério da Saúde do Brasil, onde o presidente Jair Bolsonaro tem minimizado a gravidade da doença e rejeitado medidas de confinamento e distanciamento social.

Mas entre os países da região, foi o Equador (3.465 casos e quase 180 mortos) que produziu as cenas mais terríveis até o momento. Cento e cinquenta cadáveres jaziam em residências e nas ruas da cidade de Guayaquil, em meio ao caos provocado pelo colapso dos serviços funerários.

"Temos visto imagens que nunca deviam ter ocorrido e, por isso, como seu servidor público, peço-lhes desculpas", disse o vice-presidente equatoriano, Otto Sonnenholzner, em discurso em rede de rádio e televisão.

Neste domingo, as autoridades chinesas, onde a epidemia surgiu em dezembro, disseram ter exportado equipamentos médicos no valor de mais de 1.3 bilhão de euros, entre os quais, 4 bilhões de máscaras.

No entanto, alguns países, como Holanda e Espanha, se queixaram da qualidade dos insumos chineses.

A Espanha também devolveu no fim de março milhares de testes de diagnósticos defeituosos.

Os Estados Unidos, apesar das críticas feitas à China por sua gestão da epidemia, também se veem obrigados a recorrer a Pequim para conseguir máscaras e outros insumos médicos.

Países como Alemanha, França, Estados Unidos e outros países recomendaram recentemente o uso de máscaras para evitar o contágio. Existe a possibilidade também de que a suspensão progressiva do confinamento ocorra juntamente com o uso obrigatório de máscaras em alguns países.

Melhor do que morrer de fome

À medida que a epidemia avança, fica mais evidente que o confinamento, o distanciamento e a higiene das mãos são privilégios de uma parte do mundo.

Na África, nos campos de refugiados da Grécia e da Jordânia ou nas superpovoadas favelas da América Latina, a quarentena é materialmente impossível.

"É melhor morrer desta doença ou com um tiro do que de fome", diz Garcia Landu, mototaxista de Angola, enquanto sai para procurar trabalho, contrariando as recomendações de confinamento.

O impacto socioeconômico da pandemia começa a ser sentido, mas ainda é impossível de calcular. As cifras recorde de desemprego, empresas em falência e mercados paralisados já são o dia a dia em muitos países, apesar das injeções de recursos e das ajudas financeiras anunciadas.