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O impacto do coronavírus nos conflitos do Oriente Médio

05/04/2020 16h08

Beirute, 5 Abr 2020 (AFP) - O novo coronavírus deixou milhares de mortos no mundo todo, mas seu impacto nas guerras do Oriente Médio ainda é uma incógnita.

A ONU pede um cessar-fogo dos principais conflitos no mundo para tentar frear a propagação da doença. Na sexta-feira, seu secretário-geral, António Guterres, advertiu que "o pior está por vir" nos países devastados por confrontos bélicos.

Veja abaixo algumas consequências da pandemia nos conflitos na Síria, Iêmen, Líbia e Iraque:

- SíriaQuando o novo coronavírus começou a se propagar pelo mundo, isso coincidiu com a entrada em vigor de mais uma trégua na província de Idlib e seus arredores no noroeste sírio entre o governo e seu aliado russo, por um lado, e grupos extremistas e rebeldes, por outro.

Os três milhões de habitantes desta região viam com pouca esperança que a calma fosse permanecer, mas o medo da pandemia parece contribuir para manter a trégua.

Em março, o balanço de civis mortos chegou a 103, seu nível mais baixo desde o início do conflito em 2011, segundo o Observatório Sírio para os Direitos Humanos (OSDH).

Para os diferentes lados em disputa no terreno, uma boa gestão da epidemia permitiria consolidar sua credibilidade.

"Esta epidemia é uma maneira de Damasco mostrar que apenas o Estado sírio é eficaz e que, por isso, os diferentes territórios têm que se reintegrar sob seu mandato", afirma o especialista Fabrice Balanche.

A pandemia também pode precipitar a retirada das tropas americanas, já que sua "segurança sanitária" é "crucial", acrescenta, apontando que o vazio que deixariam poderia levar ao ressurgimento do grupo Estado Islâmico (EI).

- IêmenO governo iemenita e os rebeldes huthis comemoraram, inicialmente, o apelo da ONU por uma trégua, assim como a Arábia Saudita, que lidera uma coalizão militar que apoia as forças pró-governo desde 2015.

Depois de cinco anos de conflito, porém, a perspectiva de uma relativa calma durou pouco.

Na semana passada, as forças sauditas interceptaram mísseis lançados pelos huthis sobre Riade e uma cidade próxima, do Iêmen. Como represália, a coalizão atacou "alvos militares" em Sanaa, a capital iemenita nas mãos dos rebeldes.

As ONGs temem uma catástrofe, se o vírus se propagar no país, com um sistema sanitário destroçado e uma recorrente escassez de água.

"Se a guerra continuar, o coronavírus vai se espalhar. As pessoas vão morrer nas ruas, os corpos vão apodrecer", teme Mohamed Omar, um taxista de Hodeida, cidade portuária no oeste do país.

- LíbiaAssim como no Iêmen, os protagonistas do conflito líbio saudaram o apelo por um cessar-fogo da ONU, mas depois retomaram os confrontos.

Nestes últimos dias, os combates foram mais intensos, alcançando bairros residenciais da capital.

"Há uma enorme diferença entre as declarações e os atos", disse Guterres na sexta-feira.

Muito atingidos pela pandemia, os países ocidentais poderiam se afastar dos conflitos da região, retirando suas tropas, ou deixando de lado as negociações. E isso, segundo Fabrice Balanche, favoreceria as forças pró-marechal Khalifa Haftar, apoiadas por Rússia, Egito e Emirados Árabes Unidos.

Segundo um informe do International Crisis Group, os esforços para garantir o cessar-fogo na Líbia "já não mobilizam a atenção em seu mais alto nível", devido à pandemia.

- IraqueNo Iraque, embora a guerra já tenha terminado, o país continua sob a ameaça do ressurgimento do EI em várias regiões. E as tensões entre Estados Unidos e Irã se mantêm em escalada.

Esta semana, Washington mobilizou baterias de defesa antiaérea no território iraquiano, o que fez temer um recrudescimento no conflito com Teerã.

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