Topo

Kinshasa se isola pela COVID-19 na mais recente medida da África

06/04/2020 12h34

Kinshasa, 6 Abr 2020 (AFP) - A República Democrática do Congo (RDC) iniciou nesta segunda-feira (06) o isolamento e confinamento total da capital econômica e sede de embaixadas e governo Kinshasa, considerada epicentro da pandemia da COVID-19.

Durante esse confinamento seletivo até 20 de abril, as autoridades de saúde preveem a desinfecção do município residencial de Gombe, sede do governo, de vários bancos e grandes empresas, além das principais embaixadas.

Desde a manhã desta segunda-feira, os postos de controle serviram de fronteira entre a próspera "República do Gombe" e o restante da cidade, uma segregação que existe desde a colonização belga, segundo constataram os jornalistas da AFP.

Três barreiras foram erguidas pelas autoridades na avenida Huileries, um dos principais pontos de acesso ao Gombe.

"Trabalho no Instituto Nacional de Pesquisa Biomédica (INRB, na linha de frente contra a COVID-19). Passei mais de duas horas esperando, mas não me queixo porque essa doença é muito letal" disse à AFP Jérôme Lumosi, de 35 anos, que chega de um município vizinho.

- Município deserto -Por outro lado, o município está completamente deserto, com todos os comércios fechados, inclusive os grandes supermercados frequentados pela pequena minoria que possui meios de fazer compras por lá.

Gombe aglomera entre 100.000 e 200.000 habitantes com dinheiro, uma minúscula porção dos 12 milhões da megalópole, que em sua maioria vive do setor informal.

"A escolha deste município se deve ao fato de que a partir do Gombe o vírus se espalha pouco a pouco até os demais municípios" afirmaram nesta segunda-feira as autoridades de saúde em seu relatório diário, que registra 161 casos confirmados e 18 mortos.

Em 10 de março, foram confirmados os primeiros casos em Gombe, geralmente entre congoleses que retornavam do exterior, e no próprio entorno do chefe de Estado, Félix Tshisekedi.

Um conselheiro do presidente morreu, assim como dois amigos íntimos de uma ministra que esteve contaminada, segundo várias fontes.

- "Contatos de risco" -Durante o confinamento parcial do Gombe, as equipes de saúde devem procurar "pessoas doentes, contatos de risco e casos sintomáticos" em toda Kinshasa.

"O pessoal doméstico, em particular motoristas, sentinelas, jardineiros, onde forem detectados casos positivos, serão levados a seus municípios de residência para serem submetidos a testes. Se forem positivos, serão isolados" afirmaram as autoridades de saúde.

"Uma desinfecção em massa está prevista durante esse período, à qual os escritórios e os principais edifícios localizados no município de Gombe estarão submetidos. Depois que tudo estiver limpo em Gombe, o trabalho continuará em outros municípios", acrescenta.

Também foram registrados casos no leste da RDC, em Goma, Beni e Bukavu, lugares que foram isolados.

Na vizinha Ruanda, o governo decidiu que todos os ministros e altos funcionários "deverão renunciar um mês de salário" em abril como demonstração de "solidariedade" das autoridades com o povo, tudo isso em um país que impôs um confinamento rígido para impedir a propagação do vírus.

Em Uganda, as autoridades prenderam mais de 100 pessoas por dois meses por violarem o toque de recolher em vigor devido ao coronavírus.

Sudão do Sul, que não havia registrado nenhum caso até o momento, declarou o primeiro no domingo. Etiópia, por sua vez, anunciou suas duas primeiras mortes.

bmb/st/jhd/me/mb\aa