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Pompeo chega a Jerusalém para falar de Irã e 'anexação' da Cisjordânia

13/05/2020 08h34

Jerusalém, 13 Mai 2020 (AFP) - O secretário de Estado americano, Mike Pompeo, chegou a Jerusalém nesta quarta-feira (13) para discutir o projeto de anexação israelense da Cisjordânia ocupada, em sua primeira viagem ao exterior em quase dois meses.

Além de abordar essa questão, Pompeo deve falar do Irã, o inimigo número um de Israel, suspeito de ter aumentado os ataques às posições iranianas na vizinha Síria nas últimas semanas.

O secretário de Estado desembarcou de manhã no aeroporto David Ben Gurion, perto de Tel Aviv, e terá reuniões separadas com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e seu ex-rival eleitoral, o ex-chefe das Forças Armadas Benny Gantz. A dupla formou um governo da coalizão que será inaugurado nesta quinta-feira.

Por razões de saúde, Pompeo não se encontrará com o embaixador dos EUA, David Friedman, que tem "sintomas respiratórios", embora o teste para o novo coronavírus tenha sido negativo, disse hoje um porta-voz da embaixada dos EUA à AFP.

Após 17 meses de uma grave crise política e três eleições, o governo de Netanyahu e Gantz será empossado na quinta-feira diante do Knesset, o Parlamento israelense, em Jerusalém.

O acordo de divisão de poder prevê a apresentação, a partir de 1º de julho, de uma estratégia para implementar o projeto americano, apresentado em janeiro em Washington pelo presidente dos EUA, Donald Trump. O objetivo do plano americano é desbloquear o conflito entre israelenses e palestinos.

O plano dos EUA planeja tornar Jerusalém a capital "indivisível" do "Estado judeu" de Israel e prevê a anexação do vale do Jordão e das mais de 130 colônias israelenses na Cisjordânia ocupada. Também contempla a criação de um Estado palestino em um pequeno território.

- Ameaça para a paz -O que fazer com este plano rejeitado pelos palestinos?

"A decisão será tomada por Israel, e eu quero saber o que o novo governo pensa sobre esse assunto", disse Pompeo em entrevista ao jornal "Israel Hayom", divulgada na terça-feira, antes de sua primeira viagem ao exterior desde 23 de março, devido à pandemia do novo coronavírus.

"Os Estados Unidos são uma parte interessada nesse plano", disse o negociador-chefe palestino, Saeb Erakat, acrescentando que não foi procurado por Washington para preparar esta visita.

"Em nossas várias conversas, os líderes internacionais deixaram claro que a anexação representa uma ameaça não apenas à paz no Oriente Médio, mas a todo sistema internacional", completou.

Na última década, sob o mandato de Netanyahu, a população das colônias israelenses aumentou em 50%, chegando a mais de 450.000 pessoas na Cisjordânia. Na área, também vivem mais de 2,7 milhões de palestinos.

Na véspera da chegada de Pompeo, um soldado israelense foi morto por uma pedra lançada por um palestino em uma vila no norte da Cisjordânia, território ocupado por Israel desde 1967.

Segundo fontes do Exército israelense, a unidade militar fazia uma operação na área. Netanyahu prometeu aplicar a "soberania" de Israel sobre as colônias e o vale do Jordão, uma faixa de terra que se estende por quase 30% da Cisjordânia. Tem diante de si uma margem estratégica de cerca de quatro meses, entre 1º de julho e as eleições presidenciais dos Estados Unidos, em novembro.

Apesar de Pompeo garantir que será uma decisão exclusivamente israelense, ela é "enganosa", porque "o governo Trump realmente deseja que a anexação se materialize", insiste Daniel Shapiro, embaixador dos EUA em Israel sob o comando do ex-presidente Barack Obama.

"O governo Trump provavelmente está pouco preocupado com as delimitações específicas, mas quer uma conquista (...) para apresentar à base evangélica de Trump e aos eleitores judeus de direita, a fim de galvanizá-los para as eleições de novembro", disse Shapiro à AFP.

Em Israel, pesquisas sugerem um apoio elevado à anexação entre os eleitores de direita, mas não entre eleitores de centro-esquerda, orientações políticas representadas no governo de coalizão por Benny Gantz, entre outros, que já expressaram dúvidas sobre uma rápida anexação.

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