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Cessar-fogo de três dias no Afeganistão no final do Ramadã

23/05/2020 21h38

Cabul, 24 Mai 2020 (AFP) - O Afeganistão está caminhando para três dias de trégua a partir de domingo, por ocasião da Aid al Fitr, festa que marca o fim do Ramadã, depois que os talibãs anunciaram um cessar-fogo, aceito pelo presidente Ashraf Ghani.

Os talibãs, que vêm realizando ataques mortíferos contra as forças afegãs há semanas, anunciaram, para surpresa geral, uma suspensão unilateral dos combates para que seus concidadãos "possam celebrar em paz" a festa de Aid al-Fitr, marcando o fim do jejum muçulmano do Ramadã, de acordo com comunicado divulgado por um de seus porta-vozes.

A liderança insurgente exortou seus combatentes "a tomar medidas especiais para a segurança dos compatriotas e a não realizar operações ofensivas contra o inimigo", embora possam se defender se forem atacados, segundo o comunicado.

É a primeira vez que os talibãs falam em depor suas armas desde que uma coalizão internacional liderada pelos Estados Unidos os expulsou do poder no final de 2001.

O presidente afegão, Ashraf Ghani, recebeu a proposta logo depois.

"Como comandante em chefe, eu disse à ANDSF (as forças nacionais de defesa e segurança) que respeitem essa trégua de três dias e que apenas se defendam em caso de ataque", escreveu no Twitter o presidente, que "aplaudiu" o anúncio do talibã.

Zalmay Khalilzad, o emissário dos Estados Unidos durante o acordo de Doha, negociado pelos talibãs e os americanos e que prevê a retirada de tropas estrangeiras do Afeganistão antes do verão de 2021 em troca de garantias de segurança, comemorou no Twitter o anúncio inesperado e o classificou de "uma oportunidade importante que não se deve perder".

O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, também disse esperar que "todas as partes aproveitem esta oportunidade de paz".

No final de abril, os rebeldes rejeitaram a oferta de cessar-fogo de Ghani para o Ramadã, classificando-a de "nem racional nem convincente".

Ashraf Ghani, que há anos multiplica os pedidos de cessar-fogo, conseguiu alcançar três dias sem combates em junho de 2018, por ocasião do Aíd al Fitr.

Essa trégua deu origem a surpreendentes cenas de confraternização entre os talibãs e as forças de segurança.

Os talibãs também respeitaram uma trégua parcial de nove dias no final de fevereiro, por ocasião da assinatura do acordo de Doha com os americanos.

- Aviso dos EUA -Mas eles intensificaram seus ataques às forças de segurança afegãs e realizaram mais de 3.800 ataques desde março, matando 420 civis e ferindo 906 outros, segundo as autoridades afegãs.

A missão de assistência da ONU no Afeganistão (Manua), em um relatório na terça-feira passada, contou 208 civis mortos em abril devido aos ataques rebeldes, um número que aumenta 25% em relação a abril de 2019.

Nesta semana, eles tentaram, em vão, tomar Kunduz, uma cidade estratégica do norte, que atacaram várias vezes nos últimos anos e que controlaram por um curto período de tempo.

Por outro lado, as perdas civis infligidas pelas forças de segurança à população aumentaram 38% em um ano, com 172 mortes em abril, segundo o Manua.

Apesar do forte aumento da violência, o líder talibã Haibatullah Akhundzada disse em uma mensagem escrita na quarta-feira que seu movimento estava "comprometido com o acordo assinado com os Estados Unidos".

Zalmay Khalilizad estava na época em Doha, no Catar, para se encontrar com os talibãs.

O negociador dos Estados Unidos, satisfeito com as três reuniões "construtivas" que teve com seu colega enviado pelos talibãs, Mohammad Abdul Ghani Baradar, emitiu um aviso.

"Eu disse aos talibãs que a violência de todos os atores deve diminuir", escreveu no Twitter.

Alguns dias antes, ele considerara que os insurgentes violavam "o espírito, se não a letra" do acordo de Doha, pois, em sua opinião, comprometiam-se a uma redução global da violência, algo que não se refletia no "número de ataques e o número de afegãos mortos nesses ataques ".

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