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Após incêndio florestal, boliviana Beni enfrenta a COVID-19

25/05/2020 20h14

La Paz, 25 Mai 2020 (AFP) - A região amazônica de Beni, na Bolívia, na fronteira com o Brasil, se encontra em "estado catastrófico" por causa do novo coronavírus, sete meses depois de um incêndio florestal devastar 900 hectares de seu território, rico em flora e fauna.

Região pecuarista e agrícola, Beni, no nordeste da Bolívia, concentra quase 1.100 dos quase 6.300 casos de COVID-19 registrados no país, razão pela qual declarou "desastre sanitário" na semana passada.

Até 21 de abril, o departamento de Beni, com 450.000 habitantes e de onde se origina a presidente interina Jeanine Áñez, estava livre do coronavírus.

Hoje, no entanto, tem três vezes mais infectados do que o departamento de La Paz, com uma população de quase três milhões de habitantes.

E registra 71 das 250 mortes desde que o vírus foi detectado em 10 de março neste país com 11 milhões de habitantes.

Beni é a segunda região mais afetada da Bolívia depois do departamento vizinho de Santa Cruz (leste), que tem mais de três milhões de habitantes e registra 4.200 infectados. As duas regiões somadas concentram 85% dos contágios registrados no país.

- Catástrofe -Devido à precariedade de sua infraestrutura de saúde e com a maior dos médicos em isolamento, os alertas foram ativados em Trinidad, capital de Beni, que concentra 96% dos infectados do departamento e quase todos os mortos (69).

"Beni se encontra em um estado catastrófico", comentou o presidente da Sociedade Médica de Terapia Intensiva, Adrián Ávila, depois que 20 médicos voluntários partiram para a região amazônica para ajudar os colegas que lutam contra a pandemia.

Segundo informações divulgadas pela TV local e nas redes sociais, o pequeno cemitério de Trinidad começou a ser ampliado após ficar superlotado.

O jornalista Rubén Villán relatou neste sábado em sua emissora ter visto "150 cruzes, o que significa 150 pessoas mortas ou enterradas neste novo cemitério de Trinidad".

"Está faltando espaço", acrescentou.

No fim de semana, o jogador de futebol Deibert Román, de 19 anos; seu pai, Belizario Román, dirigente da Associação Local; e seu tio, o técnico Luis Carmelo Román, morreram em questão de horas por falta de atendimento, informou a Federação Boliviana de Futebol.

Com o colapso do hospital público, "o povo está morrendo" em casa, afirmou uma moradora ao canal local de TV "Wara". Ela contou que seu marido faleceu no fim de semana porque "a ambulância não quis vir" recolher o doente.

- Ajuda urgente -Em meio a esta situação crítica, o governo transitório envio a Trinidad nesta segunda-feira seis ministros, entre eles o recém-empossado titular da Saúde, Eidy Roca, que anunciou "um plano de ação imediata" com "a participação de todos os atores, já que é a única forma de minimizar os impactos".

No sábado começou a chegar a Trinidad material e equipamento médico, embora o governo não tenha detalhado as quantidades.

Roca é a terceira titular da Saúde desde que Áñez assumiu em caráter interino a Presidência em novembro passado, após a renúncia de Evo Morales em meio a um protesto geral após a evidência de irregularidades em eleições anuladas nas quais ele disputava um quarto mandato.

O governador de Beni, Fanor Ampo, declarou na sexta-feira "desastre sanitário" no departamento, pois isto "nos permitirá pedir ajuda em nível nacional e internacional para enfrentar a pandemia".

Assim como acontece no resto do país, em Beni não há material suficiente para coletar amostras diárias e não há ventiladores para unidades de terapia intensiva. Uma compra fraudulenta de equipamentos foi frustrada após a descoberta de uma negociata de US$ 5 milhões, o que levou à prisão o ex-ministro da Saúde, Marcelo Navajas.

Segundo prognósticos oficiais, os casos de coronavírus na Bolívia alcançariam no máximo 28.000 e o número de mortos poderia chegar a 800.

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