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Inimigos dos EUA devolvem críticas sobre atenção a direitos humanos

01/06/2020 20h05

Washington, 1 Jun 2020 (AFP) - Os países habitualmente criticados pelos Estados Unidos sobre violações dos direitos humanos trouxeram de volta as acusações ao mesmo tempo em que várias cidades americanas são cenário de protestos por indignação em relação à brutalidade policial contra a população negra.

As maiores críticas vieram da China, que dias atrás enfrentou medidas vindas dos EUA por causa da sua decisão de endurecer os controles sobre Hong Kong.

O Irã, que sofreu sanções por ter reprimido protestos em novembro, também aproveitou a oportunidade para criticar o país.

Os Estados Unidos experimentam uma das piores revoltas em 50 anos, com dezenas de cidades sob toque de recolher após a morte de George Floyd, em Minneapolis.

O afro-americano morreu durante sua prisão quando um policial branco pressionou seu pescoço com o joelho por quase nove minutos, enquanto ele implorava: "Não consigo respirar".

"O racismo contra minorias étnicas nos Estados Unidos é uma doença crônica da sociedade americana", disse o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Zhao Lijian.

"A situação atual reflete mais uma vez a gravidade dos problemas de racismo e violência policial nos Estados Unidos", disse ele a repórteres em Pequim.

Enquanto isso, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do Irã, Abbas Mousavi, usou o mesmo tom usado pelo governo do presidente Donald Trump em apoio aos opositores a esse país do Oriente Médio.

"Para o povo americano: o mundo ouviu seu protesto por causa do estado de opressão. O mundo está do seu lado", disse Mousavi, em inglês, no Teerã.

"E às autoridades e à polícia americana: parem a violência contra o seu povo e deixem que respirem", acrescentou.

Nas redes sociais, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Mohammad Javad Zarif, escreveu no Twitter uma condenação por parte do Departamento de Estado ao Irã, na qual ele trocou os nomes dos dois países.

- "Prazer e conforto" -O conselheiro de segurança nacional de Trump, Robert O'Brien, lamentou que as autoridades chinesas tenham "algum tipo de prazer e conforto no que estão vendo" nos Estados Unidos.

Os americanos que buscam reparação pelo ocorrido "não serão presos por protestar pacificamente. Há uma diferença entre nós e vocês", argumentou ele à ABC News.

Muitos protestos foram pacíficos, mas ativistas acusaram a polícia do uso de força excessiva.

O'Brien acrescentou o Zimbábue aos "adversários estrangeiros" que parecem estar desfrutando do que ocorre nos Estados Unidos.

O Zimbábue convocou o embaixador para protestar contra os comentários de O'Brien.

- Desviar a atenção? -Analistas ressaltam, no entanto, que China e Irã não são exemplos sobre direitos humanos.

Ativistas denunciaram que a China tem ao menos um milhão de uigures e outros muçulmanos turcos em uma grande rede de campos de "reeducação".

Em Guangzhou, moradores africanos disseram que neste ano foram expulsos à força pela polícia, e que lhes foi negado atendimento em lojas e restaurantes no contexto da pandemia.

No Irã, um legislador reconheceu que 230 pessoas foram mortas nos protestos do último ano, provocadas por um aumento no preço do combustível, embora grupos do exterior digam que o número foi muito maior.

"Como todos os países, os Estados Unidos nunca foram perfeitos em relação aos direitos humanos. Nada está mais longe da realidade", disse Rob Berschinski, vice-presidente sênior de política da Human Rights First.

"Mas o fato de um defensor de direitos humanos como eu poder dizer isso abertamente é o que diferencia os Estados Unidos e outros países livres da China e Irã", afirmou ele.

"Quando os governos chinês e iraniano criticam os protestos nos Estados Unidos, eles o fazem como forma de distrair seus próprios registros, não porque se importam com a injustiça racial", disse ele.

Berschinski, que atuou no Departamento de Estado durante o governo Barack Obama, disse que Trump feriu a causa, principalmente quando falou no Twitter sobre atirar nos que roubassem.

"Quando cidadãos americanos são brutalizados por nossa polícia e líderes nacionais como o presidente Trump incentivam a violência, a capacidade dos Estados Unidos de falar com credibilidade sobre direitos humanos no exterior fica comprometida", afirmou.

Nos países aliados dos Estados Unidos, houve protestos em solidariedade, como no Reino Unido, Irlanda e Nova Zelândia.

Trump não foi criticado por esses governos. Um porta-voz do primeiro-ministro britânico Boris Johnson qualificou a violência como "muito alarmante" e expressou preocupação sobre as prisões dos jornalistas, o que incluiu ao menos um cidadão britânico.

Por sua vez, um porta-voz do secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que a polícia dos Estados Unidos deve mostrar moderação "como em qualquer outro país do mundo" e que os agentes das forças de segurança de todo o mundo precisam de treinamento em direitos humanos.

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