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T-MEC, sucessor do Nafta, entra em vigor durante incerteza da pandemia

30/06/2020 08h57

Washington, 30 Jun 2020 (AFP) - O novo acordo de livre-comércio da América do Norte (T-MEC em espanhol, UMSCA em inglês), uma promessa eleitoral do presidente americano, Donald Trump, entrará em vigor na quarta-feira (1o), em meio à crise do coronavírus, que levou o mundo à pior crise econômica desde a Grande Depressão.

Apesar das incertezas provocada pela COVID-19, que abalou o comércio e as redes de abastecimento, autoridades e especialistas veem com esperança o Tratado México, Estados Unidos, Canadá (T-MEC), que substitui o TLCAN (Tratado de Livre-Comércio da América do Norte, Nafta em inglês), em vigor desde 1994.

"Os laços econômicos da região são mais sólidos", afirmou o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, na segunda-feira.

"Quando a poeira da pandemia baixar, nossas empresas terão uma nova clareza", disse Pompeo, em uma videoconferência.

No México, o presidente Andrés Manuel López Obrador afirmou que o novo pacto proporcionará mais investimentos estrangeiros, mais empregos e bem-estar ao país.

"É muito oportuno, porque estamos por sair da pandemia e precisamos reativar a economia", completou.

O fluxo comercial entre os três países, que antes da COVID-19 representavam quase 30% do PIB mundial, alcançou US$ 1,2 trilhão em 2019.

"Milhões de empregos dependem de uma relação sólida e estável com nossos sócios", declarou o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, que considera a entrada em vigor do T-MEC "vital" para manter um comércio "livre e justo" na região.

O T-MEC, sucessor do TLCAN/Nafta, foi assinado pelos líderes dos três países em 30 de novembro de 2018, após árduas negociações iniciadas em 2017 por pressão de Trump. Para o presidente dos EUA, o antigo acordo era uma "catástrofe" para os interesses americanos.

Em busca de sua reeleição em novembro, Donald Trump celebrou o "fim do pesadelo do Nafta" ao promulgar no fim de janeiro o novo texto. A confirmação por parte do Congresso demorou mais de um ano, após idas e vindas entre a Casa Branca e a oposição democrata, que exigia garantias de que o México não praticaria concorrência desleal com os trabalhadores americanos.

Com o T-MEC, "as possibilidades são enormes", afirmou o diretor da organização empresarial americana AS/COA, Steve Liston, que destacou oportunidades que não existiam quando o TLCAN foi concebido, em particular no comércio eletrônico.

- Nuvens no horizonte -Apesar da confiança na resiliência da América do Norte diante da COVID-19, o T-MEC começa com nuvens no horizonte.

Além das contrações do PIB calculadas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) para este ano (-8% nos Estados Unidos, -10,5% no México e -8,4% no Canadá), o mundo deve registrar uma queda do volume do comércio, e muitos empregos devem ser perdidos nos três países.

A pandemia provocou questionamentos sobre a globalização, com pedidos para se privilegiar a produção local, inclusive por motivos de segurança nacional.

O T-MEC modifica os dispositivos para a solução de divergências, e o governo dos Estados Unidos pretende utilizá-los.

O representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Robert Lighthizer, já advertiu que Washington garantirá o cumprimento do que foi negociado desde o primeiro dia.

Lighthizer também alertou que o governo avalia apresentar uma queixa ao México por falta de aprovação de produtos biotecnológicos americanos, assim como acompanhará "de perto" o protegido setor de laticínios do Canadá.

O T-MEC conserva a maioria das medidas de livre-comércio do Nafta. Apresenta, no entanto, mudanças consideráveis para as regras de origem da indústria automotiva: em particular, que 75% da produção deve ter insumos norte-americanos e que entre 40% e 45% devem ser fabricados por operários que recebam ao menos US$ 16 por hora. Além disso, 70% do aço e do alumínio de um veículo devem ser da América do Norte.

Os dispositivos não necessariamente garantem o retorno das fábricas aos Estados Unidos, como esperava Trump.

No fim de semana, o Nikkei Asian Review informou que as montadoras japonesas estão optando por pagar mais aos trabalhadores mexicanos, inclusive pagar mais tarifas, em vez de transferirem suas fábricas, o que seria mais caro.

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