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Com USMCA, América do Norte começa nova era de livre-comércio

01/07/2020 09h33

Washington, 1 Jul 2020 (AFP) - A América do Norte inicia uma nova era de livre-comércio nesta quarta-feira (1o) com a entrada em vigor do T-MEC (ou USMCA, nas siglas em espanhol e em inglês, respectivamente), o acordo que moderniza o Nafta.

Essa estreia se dá, porém, em meio a uma pandemia, com as fronteiras entre os três sócios parcialmente fechadas e as economias em recessão.

O Acordo México, Estados Unidos e Canadá (USMCA) também está longe de eliminar todos os atritos entre os três países, cujas economias, que somam 27% do PIB mundial, tornaram-se interdependentes há mais de duas décadas.

O sucessor do Nafta (na sigla em inglês), em vigor desde 1994, continua abarcando um mercado de quase meio bilhão de consumidores, com um fluxo comercial de US$ 1,2 trilhão em 2019. Isso foi antes, porém, de a COVID-19 levar o mundo para sua pior recessão desde a Grande Depressão, há quase um século.

Agora, os movimentos não essenciais entre os três estão proibidos até 21 de julho para frear a propagação do novo coronavírus, ainda que a circulação de bens se mantenha.

E o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê fortes contrações para o Produto Interno Bruto (PIB) este ano: -8%, nos Estados Unidos; -10,5%, no México; e -8,4%, no Canadá.

Os três países apostam na implementação do novo pacto para superar as dificuldades.

- "Mais fortes juntos" -"Acreditamos que o USMCA vai garantir que a América do Norte continue sendo a potência econômica mundial e que o acordo criará empregos bem remunerados para americanos, canadenses e mexicanos", disse o subsecretário adjunto de Comércio Internacional dos Estados Unidos, Joseph Semsar, em uma videoconferência organizada na terça-feira (30) pelo Wilson Center.

"Estou muito otimista", declarou no mesmo fórum a subsecretária de Comércio Exterior do México, Luz María de la Mora.

"Meu desejo é que, dentro de um ano, possamos voltar à normalidade em termos de atividade na América do Norte e manter o dinamismo que temos", completou.

Já a encarregada de Comércio do Canadá, Ailish Campbell, comentou que a força do pacto será confirmada, ao se garantir as cadeias de abastecimento.

"Somos mais fortes juntos. Este é o momento certo para que o acordo certo entre em vigor", acrescentou.

Para celebrar, o México confirmou que o presidente Andrés Manuel López Obrador visitará seu colega americano, Donald Trump, em 8 e 9 de julho, em Washington. Será sua primeira viagem ao exterior em 18 meses de governo.

"Vou atestar o início do tratado que considero que vai ajudar muito os três países", afirmou.

O primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau, também poderá se somar ao encontro.

- "Calmaria antes da tempestade" -Promessa eleitoral de Trump, o USMCA foi negociado pelos três sócios desde 2017. Trump estava decidido a acabar com o "nefasto" Nafta, o qual acusava de ter destruído milhares de empregos nos Estados Unidos - em particular, na indústria automotiva, com a realocação da produção para o México, onde a mão de obra é mais barata.

Após maratônicas negociações, o USMCA foi assinado em 30 de novembro de 2018. O texto original acabou sofrendo emendas no Congresso americano, onde a oposição democrata incluiu cláusulas para evitar a concorrência desleal mexicana.

Trump, que busca a reeleição, sancionou a versão final em janeiro, apresentando-a como uma "vitória colossal" para os trabalhadores americanos.

"Este entusiasmo não é injustificado", avalia Duncan Wood, especialista em México do Wilson Center. "Mas pode ser apenas a calmaria antes da tempestade".

Com o agressivo histórico do governo Trump em matéria comercial, não será surpresa se surgirem controvérsias a serem resolvidas.

Em 17 de junho, em comunicação ao Congresso americano, por exemplo,o representante comercial dos Estados Unidos (USTR), Robert Lighthizer, já advertiu que está avaliando apresentar uma queixa ao México pela falta de aprovação de produtos biotecnológicos dos EUA e que vigiará de "muito perto" o protegido setor de laticínios do Canadá.

Não apenas isso. Segundo a imprensa americana, Trump considera voltar a impor tarifas ao alumínio canadense, como já fez em 2018, em meio às discussões sobre o que seria o novo Nafta. Esta semana, o premiê Trudeau considerou o tema "preocupante".

O USMCA modifica as regras de origem da indústria automotiva: 75% da produção deve ter insumos norte-americanos; entre 40% e 45% devem ser fabricados por operários que ganhem pelo menos 16 dólares por hora; e 70% do aço e do alumínio de um veículo deve ser dos EUA.

Além disso, inclui cláusulas sobre comércio eletrônico, proteções à propriedade intelectual e mecanismos de solução de controvérsias para os investidores, melhorando o Nafta.

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