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Pressão aumenta contra projeto de anexação israelense na Cisjordânia

01/07/2020 16h47

Jerusalém, 1 Jul 2020 (AFP) - De manifestantes palestinos até o primeiro-ministro britânico, os pedidos se intensificaram nesta quarta-feira (1) para que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, abandone o projeto de anexação da Cisjordânia, que deslocaria as "fronteiras" de Israel, sob o risco de provocar um novo conflito.

Israel anexou Jerusalém Oriental em 1967 e as Colinas de Golã em 1981 e agora poderia escrever uma nova página de sua história decretando que uma parte da Cisjordânia ocupada passe a ser "israelense".

Pelo acordo entre Netanyahu e seu ex-rival eleitoral Benny Gantz, o governo de união se pronuncia a partir desta quarta-feira sobre a aplicação do plano do presidente americano, Donald Trump, para o Oriente Médio, que prevê a anexação de colônias e do Vale do Jordão na Cisjordânia.

No primeiro dia do calendário, vários ministros afirmaram que não haveria nenhum anúncio.

Resta saber se Netanyahu optará por anexar o Vale do Jordão, uma vasta planície, e uma centena de colônias judaicas na Cisjordânia ou se vai escolher uma abordagem minimalista, acrescentando a seu território alguns assentamentos.

- Manifestação em Gaza -O primeiro-ministro dispõe de alguns meses: se na eleição presidencial de novembro nos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, contrário à anexação, sair vitorioso, Netanyahu poderia perder o apoio americano a um projeto criticado pela União Europeia, ONU e vários países árabes.

Netanyahu, que se reuniu na terça-feira em Jerusalém com Avi Berkowitz, assessor especial de Trump, e David Friedman, embaixador americano em Israel, disse que estava trabalhando nos últimos dias no tema e que continuaria "nos próximos dias".

O chefe da diplomacia israelense, Gabi Ashkenazi, afirmou nesta quarta-feira que parece "improvável que aconteça hoje", em uma entrevista à rádio militar.

O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, foi destaque na primeira página do jornal Yediot Aharonot, o mais lido do país, ao pedir que Netanyahu anule o projeto.

"Sou um apaixonado defensor de Israel, mas espero profundamente que a anexação não siga adiante", escreveu em um artigo.

Por seu turno, o parlamento alemão aprovou uma resolução contra a anexação, embora sem aprovar as ameaças de sanções da UE contra Israel.

- Manifestações de palestinos -No território de Gaza, controlado pelo grupo islamitas Hamas, mais de 2.000 palestinos protestaram contra o plano.

Qualquer anexação, sem negociações prévias de paz, seria uma "declaração de guerra", afirmou recentemente o Hamas, que, depois de protagonizar três guerras com Israel (2008, 2012, 2014), tenta expressar sua oposição ao projeto sem buscar um novo confronto, de acordo com vários analistas.

Nesta quarta-feira, o Hamas lançou 20 foguetes de teste a partir de Gaza em direção ao mar Mediterrâneo, como forma de advertência, afirmaram à AFP fontes do movimento.

O Hamas e o movimento Fatah do presidente da Autoridade Palestina vão se reunir em Ramallah na quinta-feira e realizarão uma conferência de imprensa.

- "Transparente como cristal" -Os palestinos buscam apoio contra o projeto israelense, que para eles, viola os acordos de paz de Oslo, que propõe uma solução de "dois Estados": uma Palestina independente e viável ao lado de Israel.

Desde a assinatura desses acordos em 1993, a população das colônias judaicas na Cisjordânia, consideradas ilegais pelo direito internacional, aumentou mais de três vezes, superando 450.000 israelenses que convivem com cerca de 2,8 milhões de palestinos.

"O direito internacional é claro: a anexação é ilegal. Se Israel seguir adiante com isso, mostrará seu desrespeito cínico pelo direito internacional ... em favor da 'lei da selva'", disse Saleh Hijazi, especialista da Anistia Internacional sobre o conflito israelense-palestino.

Os palestinos dizem que estão prontos para retomar as negociações bilaterais com os israelenses, mas não sob o plano de Trump.

"Não vamos nos sentar em uma mesa de negociação onde se propõe a anexação ou o plano Trump, porque nesse caso, não se trata de um plano de paz, mas de um projeto para legitimar a ocupação", disse à AFP o negociador palestino Saeb Erakat.

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