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Autoridades apelam ao civismo de jovens dos EUA para conter COVID-19

02/07/2020 19h52

Washington, 2 Jul 2020 (AFP) - Acusados de falta de civismo, os jovens americanos estão por trás da recidiva da COVID-19 e em vários estados as autoridades fecharam bares, praias e outros locais de encontro, frequentados por este público após a suspensão do confinamento.

A idade média dos casos registrados na Flórida nos últimos dias varia entre 34 e 36 anos.

Em Los Angeles, 40% dos novos contágios reportados correspondem a menores de 40 anos. Na região metropolitana de Phoenix, um importante foco de infecções no Arizona, a metade é de menores de 35 anos.

No total, metade ou mais dos contágios em Califórnia e Arizona desde o início da pandemia já estão na faixa etária de 18 a 49 anos, e espera-se que essa taxa aumente.

Daí os incontáveis apelos recentes à responsabilidade individual por parte de prefeitos, governadores e funcionários públicos federais.

"Estamos fazendo um apelo especial aos jovens", disse o vice-presidente Mike Pence na quarta-feira. "Temos que proteger os mais vulneráveis que nós".

"Por favor, por favor, usem máscara", implorou nesta quinta-feira Jerome Adams, máxima autoridade médica dos Estados Unidos, o "generalista" do governo.

Os bares, que foram abrindo gradualmente no sul do país desde maio, têm voltado a fechar as portas no Texas, na Califórnia e em parte de Michigan. Na Flórida, estão proibidos de servir álcool.

No Texas, o governador também proibiu uma atividade popular entre os jovens, o "tubing", que consiste em descer os rios em grandes câmaras de ar, uma atividade à disposição de qualquer um e que gera grandes aglomerações.

- "Sem sentido" -O presidente Donald Trump continua minimizando os registros atuais (mais de 50.000 novos casos na quarta-feira), assegurando nesta quinta que os Estados Unidos estavam preparados para a situação e que eram "os reis dos respiradores".

Mas o mandatário está cada vez mais isolado no governo. Vários funcionários parecem estar começando a calibrar a gravidade da situação e afirmam que é séria.

O Departamento de Saúde anunciou um próximo "bombardeio" de testes de diagnóstico nas regiões com maior movimento em Texas, Flórida e Louisiana, especificamente com a esperança de detectar casos em menores de 35 anos.

"Quando há muitos jovens assintomáticos em uma situação epidêmica, é muito mais difícil, mas não impossível, rastrear os contatos", disse Brett Giroir, encarregado de coordenar a estratégia de testes neste organismo.

Dias atrás, o vice-presidente Mike Pence fez declarações tranquilizadoras sobre o baixo risco que a COVID-19 representa para jovens que não têm comorbidades, mas lembrou a eles de que se trata "de proteger nossa população mais vulnerável", ou seja, os idosos.

"Não faz sentido dizer que vamos evitar que (o vírus) entre nas casas dos idosos", disse o epidemiologista de Harvard Marc Lipsitch em uma sessão informativa. "Até agora, isto nunca ocorreu", acrescentou, lembrando da trágica experiência de meses atrás no nordeste do país.

Mas as advertências, cada vez mais contundentes das autoridades serão ouvidas?

Os especialistas repetem que as mudanças de comportamento a adotar são, no entanto, simples: lavem as mãos, evitem as multidões, cubram o rosto quando não for possível o distanciamento físico.

Anthony Fauci, diretor do Instituto de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos, alertou que a trajetória atual poderia levar o país a contabilizar 100.000 casos novos por dia, em comparação com os 40.000 registrados na terça-feira, quando ele fez estas declarações.

Na quarta foram registrados mais de 50.000 novos contágios em 24 horas. E Fauci não para de atacar as imagens de bares e restaurantes lotados de jovens que se misturam, despreocupados e sem máscaras.

"Sua atitude, lamentável, mas compreensível, é que tanto faz se se contagiam porque provavelmente não vão adoecer", disse na quinta-feira à BBC. Mas inevitavelmente, serão os vetores que levarão o vírus aos mais vulneráveis, acrescentou.

"Temos que fazer com que as pessoas entendam sua responsabilidade social, especialmente os jovens", insistiu.

Devido às demoras entre o contágio, os testes, a hospitalização e a morte, as próximas semanas vão determinar se as palavras do doutor Fauci foram levadas pelo vento.

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