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Indonésia enfrenta possível explosão da natalidade após a pandemia

Funcionário joga desinfetante em sala de aula na Indonésia - CHAIDEER MAHYUDDIN/AFP
Funcionário joga desinfetante em sala de aula na Indonésia Imagem: CHAIDEER MAHYUDDIN/AFP

Da AFP, em Jacarta

04/07/2020 12h27

Com o marido desempregado devido à pandemia, a última coisa que Juarsih queria era ter filho, mas ficou grávida no meio da crise de saúde, como muitas indonésias, e o país se prepara para um "baby boom".

A agência de planejamento familiar na Indonésia — o quarto país mais populoso do mundo — espera 400.000 nascimentos adicionais devido às medidas de confinamento que restringiram o acesso aos métodos contraceptivos.

Juarsih, uma indonésia de 41 anos, deixou de usar seus contraceptivos quando os hospitais entraram em colapso pelos pacientes com coronavírus e quando as clínicas fecharam ou reduziram seus horários.

Mãe de dois adolescentes, agora tem medo de fazer um teste de gravidez em um hospital em Bandung, na ilha de Java.

"Me surpreendi muito quando me dei conta de que estava grávida", diz ela. "Comecei a me sentir feliz mais tarde, mas sempre há um sentimento de tristeza (...) porque chega em um momento difícil".

O uso de contraceptivos "caiu drasticamente" desde o início da epidemia no arquipélago, em março, disse à AFP Hasto Wardoyo, chefe do serviço de planejamento familiar da Indonésia (BKKBN).

Os funcionários de saúde também temem o aumento dos abortos ou da mortalidade materna.

"Também estamos preocupados (com o risco) de desnutrição, já que nem todas as famílias podem se dar ao luxo de alimentar bem as crianças", disse.

Campanha em massa

Com o acesso aos hospitais cada vez mais difícil, as autoridades tiveram que buscar soluções para promover o controle da natalidade.

As equipes médicas recorreram às aldeias para alertar que este não é o momento adequado para trazer um bebê ao mundo.

"Podem fazer sexo. Podem se casar. Mas não fiquem grávidas", diziam os médicos em alto-falantes. "Papais, se controlem, nada de sexo sem contraceptivos".

A Indonésia implementou uma política de planejamento familiar na ditadura do general Suharto, há cerca de 50 anos, o que reduziu em grande quantidade a taxa de fertilidade.

Os preservativos continuam sendo pouco populares na Indonésia e 98% dos usuários de contraceptivos são mulheres, através de injeções hormonais ou pílulas anticoncepcionais.

Há ainda o agravante de muitos indonésios temerem ser infectados com covid-19 ao irem ao hospital.

Segundo as estatísticas oficiais, há mais de 57 mil pessoas infectadas com o coronavírus e quase 3.000 mortes na Indonésia, embora os números sejam considerados muito subestimados devido a um número limitado de testes realizados.