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Assassinato do general iraniano Soleimani foi 'ilegal', diz especialista da ONU

07/07/2020 11h08

Genebra, 7 Jul 2020 (AFP) - O general iraniano Qassem Soleimani morreu de forma arbitrária e "ilegal" durante um bombardeio americano no Iraque, já que Washington não demonstrou que o militar representava um perigo imediato - afirmou a especialista da ONU em direitos humanos Agnès Callamard, nesta terça-feira (7).

Em um informe enviado hoje pela ONU à imprensa, a relatora especial sobre execuções extrajudiciais, sumárias, ou arbitrárias, Agnès Callamard, concluiu que, "na falta de uma ameaça iminente que pusesse vidas em perigo, a maneira de agir dos Estados Unidos foi ilegal" e violou a Carta das Nações Unidas.

A especialista - que tem mandato do Conselho de Direitos Humanos da ONU, mas se expressa em seu nome - vai apresentar seu relatório na quinta-feira (9) a esta instância da organização. Os Estados Unidos deixaram este órgão do sistema ONU em 2018.

O documento gira em torno do uso de "drones" nos chamados "assassinatos seletivos", mas metade do informe se concentra no "caso Soleimani".

Morto em um ataque americano com "drones" em janeiro deste ano, em Bagdá, o general comandava a Força Quds, a unidade de elite encarregada das operações no exterior dos Guardiães da Revolução.

Soleimani era o arquiteto da estratégia militar do país na região, sobretudo no Iraque e na Síria.

Junto com ele, faleceu o iraquiano Abu Mehdi al-Muhandis, líder dos grupos paramilitares pró-iranianos em seu país.

"Vistas as provas fornecidas até agora pelos Estados Unidos, tomar o general Soleimani como alvo e também matar aqueles que o acompanhavam constituem um assassinato arbitrário, pelo qual os Estados Unidos são responsáveis, em virtude do direito humanitário internacional", afirma Callamard, em seu relatório.

Ao justificar a morte de Soleimani, o presidente americano, Donald Trump, garantiu que o general preparava ataques "iminentes" contra diplomatas e militares americanos.

Em seu informe, Callamard rejeita este argumento e destaca que os Estados Unidos não demonstraram que Soleimani "representasse uma ameaça iminente", a qual tornasse impossível esperar para atacá-lo, ou mesmo pedir "permissão" às autoridades iraquianas para executá-lo.

Ou seja, na avaliação da especialista, Washington não conseguiu provar que seu assassinato foi "necessário".

"Não se forneceu qualquer prova que demonstrasse que o general Soleimani planejasse um ataque iminente contra os interesses americanos (...), ou que os Estados Unidos não tivessem tempo para pedir ajuda à comunidade internacional, incluindo o Conselho de Segurança da ONU, para fazer frente a essas supostas ameaças iminentes", conclui a relatora.

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