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Sem recursos em plena pandemia, Iêmen está à beira da penúria, alerta ONU

08/07/2020 11h12

Dubai, 8 Jul 2020 (AFP) - O Iêmen se encontra mais uma vez à beira da fome e da penúria, e a ONU não conta com os "recursos necessários" para evitar uma catástrofe, em meio à pandemia da COVID-19 - adverte a coordenadora humanitária da organização para este país devastado pela guerra, Lise Grande.

Milhões de famílias vulneráveis poderão passar facilmente "de uma situação, na qual ainda conseguem subsistir, para uma queda livre", advertiu Lise, em entrevista à AFP, de Sanaa.

Para um país, no qual mais de dois terços da população (em torno de 24 milhões) dependem da ajuda humanitária, as Nações Unidas conseguiram arrecadar apenas metade dos US$ 2,41 bilhões em ajuda, durante a conferência virtual de doadores realizada em junho.

E apenas nove dos 31 doadores comprometidos repassaram os recursos até o momento, relatou Grande.

"É muito claro que a pandemia da COVID-19 comprimiu os orçamentos de ajuda (humanitária) em todo mundo (...) motivo pelo qual (os doadores) não poderão fazer o que fizeram antes", avaliou a diplomata americana.

A crise econômica mundial provocada pela pandemia terá um "impacto muito importante e grave" na assistência humanitária ao Iêmen, alertou.

- "Profundamente preocupante" -O Iêmen está mergulhado no que a ONU considera a pior crise humanitária do mundo, com milhares de mortos e quatro milhões de pessoas deslocadas pela guerra, com ameaças frequentes de fome extrema e epidemias, como dengue e cólera.

Por falta de meios, os programas essenciais nos setores sanitário e de alimentação estão se esgotando, enquanto a situação econômica se apresenta como "aterradora" nos dias mais duros da crise, completou Grande.

O conflito no Iêmen é travado entre as forças do governo, apoiadas por uma coalizão militar liderada pela Arábia Saudita, e os rebeldes huthis xiitas, que contam com o suporte do Irã. Estes últimos tomaram grande parte do norte del país, incluindo a capital Sanaa, desde 2014.

"Os barcos não estão autorizados a transportar produtos básicos. A moeda se desvaloriza rapidamente. O Banco Central não tem mais fundos. Nas últimas semanas, o preço da cesta básica (familiar) de alimentos aumentou 30%", detalha a representante da ONU.

"Enfrentamos as mesmas circunstâncias sofridas anteriormente, que levam o país para a inanição. Mas não dispomos, desta vez, dos recursos necessários para evitá-la e fazê-la retroceder", insistiu, considerando a situação "profundamente preocupante".

Em plena crise sanitária mundial, a ONU teve de enfrentar a "inacreditável situação" de se ver obrigada a deixar de fornecer combustível para os hospitais, assim como sistemas de abastecimento de água e saneamento em todo país, lamentou Lise.

Até o momento, o Iêmen registra oficialmente cerca de 1.300 casos de infectados por COVID-19, com pelo menos 359 mortos pela doença. Para os especialistas, porém, o balanço de vítimas deve ser ainda mais duro, diante da incapacidade das autoridades locais de fazerem testes de detecção do coronavírus em larga escala. Além disso, os hospitais estão muito mal equipados para poderem determinar as causas dos óbitos.

O Programa Mundial de Alimentos da ONU, que fornece produtos básicos a 13 milhões de pessoas por mês, teve de reduzir sua ajuda, alcançando agora apenas entre 8,5 e 8,7 milhões de pessoas.

"Há 18 meses, nossa operação humanitária era uma das mais bem financiadas do mundo", lembrou Lise Grande.

"A grande diferença é que, desta vez, não contamos com os recursos necessários", lamentou.

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