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Ataque em prisão encerra relativa calma no Afeganistão após cessar-fogo

03/08/2020 21h52

Jalalabad, Afeganistão, 4 Ago 2020 (AFP) - Ao menos 29 pessoas, entre civis e detentos, morreram em um ataque a uma prisão do Afeganistão reivindicado pelo grupo extremista Estado Islâmico (EI), anunciaram as autoridades nesta segunda-feira (3), em um país onde o governo e os talibãs haviam decretado uma trégua de três dias.

Homens armados realizaram um grande ataque a uma prisão de Jalalabad (leste) na noite de domingo, nas últimas horas da trégua.

Os confrontos terminaram nesta segunda-feira à tarde no presídio, onde cerca de 1.700 combatentes talibãs e do EI estavam detidos.

O EI reivindicou o ataque um comunicado publicado por sua agência de propaganda Amaq. Os jihadistas deste grupo não faziam parte da trégua.

Cerca de 700 prisioneiros que conseguiram escapar no momento do ataque foram recapturados.

Este foi o incidente mais violento no Afeganistão desde que os talibãs e as forças de segurança afegãs concordaram com um cessar-fogo de três dias, devido ao feriado muçulmano do Eid al-Adha, que acabou no domingo.

Após o ataque, um correspondente da AFP teve acesso à prisão, onde os corpos de invasores e prisioneiros estavam alinhados. Na entrada, havia traços da explosão de um carro-bomba que deu início ao ataque. Várias celas, algumas com prisioneiros dentro, foram incendiadas ou danificadas.

O ataque ocorreu um dia após a agência de inteligência anunciar a morte de um alto comandante do EI, perto de Jalalabad.

A província de Nangarhar foi palco de vários ataques do EI este ano, incluindo um em 12 de maio que matou 32 pessoas no funeral de um comandante da polícia.

- Libertação dos presos -As autoridades afegãs esperam que a trégua acordada com os talibãs permita iniciar as negociações de paz esta semana.

O governo, no entanto, acusou os talibãs de violar o cessar-fogo 38 vezes nesses três dias.

O porta-voz do Ministério do Interior, Tareq Arian, afirmou que os insurgentes mataram 20 civis e feriram 40 ao "perpetrar ataques terroristas e ofensivos, assim como ao usar minas terrestres" durante a trégua.

Os talibãs "não estão comprometidos com o que dizem", acrescentou.

Sob um acordo assinado pelos rebeldes e pelos Estados Unidos em fevereiro, o diálogo inter-afegão deveria ter começado em março, mas foi adiado devido às lutas políticas em Cabul e pela questão da troca de prisioneiros.

Cabul e os talibãs afirmaram estar preparados para iniciar as negociações após o Eid al-Adha. No domingo, o governo afegão se ofereceu para estender a trégua.

Até o momento, os insurgentes não comentaram o assunto.

O maior obstáculo para dar início às negociações é a polêmica troca de prisioneiros, estipulada no acordo de fevereiro.

Segundo o acordo, Cabul debe libertar cerca de 5.000 presos talibãs e os talibãs, 1.000 membros das forças de segurança afegãs.

O Conselho Nacional de Segurança afirmou no domingo que libertou a 4.900 presos. Os talibãs, por sua vez, disseram na semana passada que já cumpriram com sua parte do acordo.

No entanto, as autoridades afegãs se negaram a libertar centenas de presos talibãs acusados de crimes graves.

Segundo o presidente afegão, Ashraf Ghani, uma decisão será anunciada em 7 de agosto em Cabul.

O secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, falou por videoconferência sobre a questão dos prisioneiros nesta segunda-feira com o negociador-chefe do Talibã, mulá Abdul Ghani Baradar, de acordo com o porta-voz talibã Suhail Shaheen. O Departamento de Estado se recusou a comentar.

A diminuição da violência durante o feriado permitiu, porém, algumas reuniões familiares. "Consegui ir à minha aldeia pela primeira vez em dois anos", disse Jalil Ahmad, da província de Uruzgan, uma fortaleza do Talibã no sul. "Havia postos de controle do Talibã na estrada, mas eles não incomodaram ninguém".

Na segunda-feira, na província de Kunduz, no norte, circulavam rumores sobre um grupo talibã nos arredores da cidade de Kunduz. "Hoje, o medo habitual voltou aos rostos e evito sair de casa a menos que seja absolutamente necessário", disse Atiqulá, um morador, à AFP.

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