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Rússia promete milhares de vacinas para COVID-19 até final de 2020

03/08/2020 10h46

Moscou, 3 Ago 2020 (AFP) - A Rússia anunciou nesta segunda-feira (3) que em breve terá capacidade para produzir centenas de milhares de doses da vacina contra o novo coronavírus todos os meses e que elevará sua produção para "vários milhões" a partir do início do próximo ano.

Segundo o ministro do Comércio da Rússia, Denis Maturov, três empresas biomédicas iniciarão em setembro a produção industrial da vacina desenvolvida pelo laboratório de pesquisa em epidemiologia e microbiologia Nikolai Gamaleia.

"De acordo com as primeiras estimativas (...) poderemos fornecer várias centenas de milhares de doses da vacina a cada mês a partir deste ano e depois vários milhões a partir do início do ano que vem", disse à agência pública de notícias TASS.

O chefe do Fundo Russo para Investimentos Diretos, envolvido no desenvolvimento, garantiu nesta segunda que a aprovação oficial da vacina deve acontecer "dentro de dez dias".

"Estaremos à frente não apenas dos Estados Unidos, mas também de outros países. Esta será a primeira vacina aprovada contra o coronavírus", afirmou Kirill Dmitriev na televisão.

A Rússia trabalha há meses, como muitos outros países do mundo, em vários projetos de vacinas contra a COVID-19. A pesquisa do centro Gamaleïa é desenvolvida em colaboração com o ministério da Defesa.

Nesta segunda-feira, o ministério se gabou, em um comunicado, que os ensaios clínicos em militares "mostraram claramente uma resposta imune" ao novo coronavírus, "sem efeitos colaterais ou anormalidades".

Esta vacina utiliza vetor viral, ou seja, usa como portador outro vírus que foi transformado e adaptado para combater a COVID-19. Utiliza adenovírus, uma tecnologia também escolhida pela Universidade de Oxford.

Pesquisadores internacionais alertaram, porém, para o rápido desenvolvimento de vacinas na Rússia e consideraram que vários processos científicos não foram respeitados para acelerar o trabalho realizado sob pressão de Moscou.

Vitali Zverev, professor e chefe de laboratório do instituto de pesquisa Metchnikov, disse à AFP que era muito cedo para homologar uma vacina que não foi testada o suficiente para garantir sua segurança.

"É impossível garantir a segurança de uma vacina durante um período de tempo como este que nos separa do início da pandemia", explicou, acrescentando que as empresas biomédicas russas que irã produzir a vacina não estão acostumadas à tecnologia avançada a ser usada.

Cientistas do centro Gamaleïa foram criticados em maio por terem injetado em si mesmos o protótipo de vacina, um método que rompe com os protocolos usuais, a fim de acelerar o máximo possível o processo científico.

Até o momento, a Rússia não publicou um estudo detalhado dos resultados de seus testes para estabelecer a eficácia dos produtos que afirma ter desenvolvido.

O centro público de pesquisa Vektor, na Sibéria, está trabalhando em outra vacina, cujas primeiras doses devem estar prontas a partir de outubro, segundo as autoridades.

A Rússia é o quarto país no mundo mais afetado pela pandemia, atrás de Estados Unidos, Brasil e Índia. Desde abril, manifesta sua disposição de ser um dos primeiros países, ou mesmo o primeiro, a desenvolver a vacina.

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