Topo

Peru promete recursos para a Amazônia após protesto com três mortes

10/08/2020 16h48

Lima, 10 Ago 2020 (AFP) - O Peru prometeu nesta segunda-feira (10) enviar recursos para a Amazônia peruana, um foco da pandemia de coronavírus, após a morte de três indígenas em confrontos com a polícia. Eles protestavam contra a contaminação e as deficiências sanitárias em frente ao acampamento de uma petrolífera canadense.

"Concordamos em fortalecer a atenção primária à saúde, em face do COVID-19, especificamente na Bretaña, mas em geral na região de Loreto", disse o ministro da Cultura, Alejandro Neyra, à televisão estatal. Ele deu entrevista no hospital regional de Iquitos, principal cidade da Amazônia peruana e foco de infecções por coronavírus há cinco meses.

"Viemos ver os feridos" nos confrontos, 17 policiais e indígenas hospitalizados, acrescentou Neyra, cuja pasta se encarrega das relações com os povos indígenas do Peru. O ministro viajou para a área de mata rica em petróleo, onde se encontrou com líderes indígenas no domingo, depois que a situação se tranquilizou.

Segundo Neyra, houve um acordo para retomar o plano de assistência à saúde e combate à pobreza, mas ele não deu detalhes sobre o montante dos recursos ou os principais pedidos das comunidades amazônicas.

"Pedimos ao governo central que atenda às comunidades indígenas, mas também aos povos indígenas para que não reajam com violência, o que não nos ajuda a chegar a um acordo", afirmou Elisbán Ochoa, governador de Loreto, região onde nasce o Rio Amazonas.

- 12 mil barris a menos -O confronto entre indígenas e policiais ocorreu na noite de sábado, quando cerca de 70 nativos armados - com lanças e flechas segundo eles, mas também com espingardas de chumbo na versão da polícia - tentaram tomar o acampamento da empresa canadense PetroTal, na área da Bretaña. Eles exigem a paralisação dos trabalhos da companhia em um poço de petróleo conhecido como Lote 95, alegando que ele contamina a área por causa de vários vazamentos anteriores.

A PetroTal anunciou no domingo a suspensão de suas operações no local, onde trabalham cerca de 100 pessoas. Com a medida, a empresa vai deixar de produzir 12 mil barris de petróleo por dia, 40% da produção no país, de acordo com o gerente geral da petroleira no Peru, Rolando Egúsquiza, citado pela imprensa local.

A pandemia, que afeta o Peru desde março, foi especialmente grave na Amazônia, onde dezenas de etnias indígenas vivem na pobreza. Com 33 milhões de habitantes, o país tem mais de 478 mil infecções e 21 mil mortes por COVID-19 registradas. É o terceiro país com mais casos na América Latina, depois do Brasil e do México.

- Versões divergentes-De acordo com o Ministério do Interior, o confronto começou quando indígenas, que carregavam espingardas, atiraram e feriram um policial. A Organização Regional dos Povos Indígenas do Norte da Amazônia do Peru (Orpio), no entanto, disse que os agentes iniciaram o embate.

"A polícia, entre a multidão, começou a disparar rajadas e até mesmo os policiais atiraram uns nos outros, por causa da escuridão", disse a entidade em um comunicado. "Os irmãos indígenas não tinham armas de fogo. Só carregavam suas flechas como instrumento ancestral de defesa, de uso tradicional e cultural, queriam entrar para assumir a estação", acrescentou a Orpio.

Segundo a organização, o protesto tinha o objetivo de expressar repúdio "à petroleira e ao Estado frente ao abandono e morte de seus familiares por falta de tratamento e medicamentos" para a COVID-19.

ljc/fj/yow/ic