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Novas manifestações em Belarus contra Lukashenko, que se aproxima de Putin

15/08/2020 12h13

Minsk, Bielorrússia, 15 Ago 2020 (AFP) - Milhares de manifestantes se reuniram novamente neste sábado (15) em Belarus para protestar contra a reeleição do presidente Alexander Lukashenko, que conversou por telefone com Vladimir Putin para abordar o que considera uma "agressão contra seu país e toda a região".

As pessoas seguiram em direção à estação de metrô de Pushkinskaya, zona oeste da capital Minsk, para prestar homenagem a um manifestante que morreu perto do local durante os protestos de segunda-feira passada.

"Não à violência!", "Viva Belarus", gritaram os manifestantes, com flores.

Paralelamente, entre 500 e 700 pessoas se reuniram em silêncio com a família do falecido, Alexander Taraikovsky, de 34 anos, em um funeral em outro bairro de Minsk.

A principal candidata da oposição à presidência, Svetlana Tikhanovskaya, refugiada há quatro dias na Lituânia, convocou manifestações pacíficas no fim de semana em todo o país.

- Ligação de Putin -O presidente Lukashenko teve uma conversa telefônica na qual abordo os acontecimentos com o presidente russo Vladimir Putin, informou a agência estatal Belta.

Lukashenko considera o cenário atual uma "ameaça" contra ele e "toda a região".

O presidente bielorrusso afirma que o seu país enfrenta uma "revolução colorida" - nome dado a várias revoltas registradas em países da ex-União Soviética nos últimos 20 anos - com "elementos de interferência externa".

O Kremlin afirmou que está "confiante" em uma solução rápida dos problemas em Belarus, segundo um comunicado divulgado pela presidência russa após a conversa entre os dois líderes.

Lukashenko disse que ele Putin concordaram com a necessidade de seguir fortalecendo as relações entre os dois países.

Também rejeitou a possibilidade de mediação estrangeira.

"Não precisamos de nenhum governo estrangeiro, de nenhum mediador", afirmou Lukashenko em uma reunião do governo, segundo a agência Belta.

Durante a semana, Letônia, Lituânia e Polônia apesentaram a proposta de um plano de mediação que previa a criação de um "conselho nacional" para resolver a crise política em curso.

"Sem querer ofender os governantes destas repúblicas, gostaria de dizer que devem tratar de seus assuntos", afirmou o presidente.

Muitos Estados ocidentais condenaram a violência e denunciaram uma fraude eleitoral.

Na sexta-feira, a União Europeia (UE) aprovou sanções às autoridades bielorrussas vinculadas à repressão e às fraudes.

As sanções foram anunciadas em um contexto de grande mobilização em Belarus: correntes humanas são cada vez mais numerosas em protestos contra a violência e as fraudes, ao mesmo tempo que trabalhadores das fábricas anunciam ações de solidariedade e greves.

Ao contrário das manifestações do início da semana, violentamente reprimidas, as ações de quinta-feira e sexta-feira aconteceram sem confrontos ou detenções em larga escala.

As autoridades, que parecem dar sinais de recuo, anunciaram a libertação de mais de 2.000 das 6.700 pessoas detidas durante as manifestações.

Lukashenko pediu na sexta-feira uma "certa moderação" em relação aos manifestantes, que nos dias anteriores ele descreveu como "ovelhas" que precisavam "voltar a colocar os cérebros no lugar".

Depois de acusar o regime de cometer um "massacre", Tikhanovskaya, que reivindica a vitória na eleição de 9 de agosto, anunciou a criação de um comitê para organizar a transferência de poder e pediu um diálogo com as autoridades.

- Relatos de tortura -Desde a noite de domingo, Belarus é cenário de protestos de dimensão inédita contra a reeleição de Lukashenko, que governa a ex-república soviética há 26 anos.

Sua vitória - oficialmente com 80% dos votos - foi considerada fraudulenta. A mobilização de apoio a sua rival Tikhanovskaya foi muito intensa antes das eleições.

Tikhanovskaya, que oficialmente obteve 10% dos votos, denunciou fraudes em larga escala.

As quatro primeiras manifestações foram sufocadas pela polícia: ao menos duas pessoas morreram e 150 ficaram feridas.

Alguns manifestantes que foram liberados denunciaram torturas durante a detenção.

Eles afirmaram que não tiveram acesso a água e comida, que foram agredidos e queimados com cigarros. Além disso, dezenas de pessoas foram colocadas em celas com capacidade para quatro ou seis detentos.

Novata na política aos 37 anos, Tikhanovskaya, professora de inglês de formação e dona de casa, abandonou Belarus depois de receber ameaças das autoridades.

Seu marido, que ela substituiu na disputa à presidência, está preso desde maio.

bur-rco/lp/mis/bc/mar/fp