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Médicos afirmam que não encontraram veneno no opositor russo Navalny

21/08/2020 13h29

Omsk, Rússia, 21 Ago 2020 (AFP) - Os médicos que tratam o opositor russo Alexei Navalny, em cuidados intensivos após passar mal, disseram nesta sexta-feira (21) que não encontraram "nenhum veneno" em seu organismo, enquanto seus parentes e aliados tentam transferi-lo para o exterior.

Os médicos russos autorizaram a transferência do líder opositor Alexei Navalny de um hospital siberiano à pedido de seus familiares, disse o diretor adjunto do estabelecimento médico nesta sexta.

"Tomamos a decisão de não nos opor à sua transferência para outro hospital, o que nos foi pedido por seus familiares", disse à impensa o chefe do hospital de Omsk, Anatoli Kalinishenko, após informar que o paciente se encontra "estável".

Os aliados de Navalny e seus familiares recorreram à Corte Europeia dos Direitos Humanos (CEDH) para obter autorização das autoridades russas para transferi-lo para a Alemanha.

"Acredito que Alexei Navalny precisa de ajuda médica qualificada na Alemanha", escreveu sua esposa, Yulia Navalnaya, em uma carta ao presidente russo Vladimir Putin postada no Twitter.

Neste sentido, os médicos alemães que foram autorizados hoje a ver Navalny garantiram que são capazes de transportar o opositor para Berlim.

"A equipe médica alemã (no local) nos disse que pode e quer transportar o Sr. Navalny para Berlim e este é também o desejo de sua família", disse a ONG Cinema for Peace, que fretou um avião médico para Omsk.

França e Alemanha ofereceram na quinta-feira "toda ajuda médica" ao opositor e cobraram esclarecimentos sobre as circunstâncias que o levaram à internação na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do hospital, em coma e conectado a um respirador artificial.

Seus aliados acreditam que ele foi vítima de "envenenamento intencional", "com algo misturado ao seu chá".

"Até o momento, nenhum veneno foi identificado no sangue e na urina, não há traços dessa presença", declarou nesta sexta a jornalistas Anatoly Kalinichenko, vice-diretor do Hospital de Emergências nº1 de Omsk, onde o opositor foi admitido.

"Não acreditamos que ele tenha sofrido envenenamento", continuou. Segundo ele, o estado de Navalny é "instável", o que não permite sua transferência para o exterior.

O chefe do hospital, o médico Alexander Murakhovsky, também determinou que a questão da transferência era "prematura" antes de "uma estabilização completa do paciente".

Segundo ele, a hipótese privilegiada é a de um "desequilíbrio glicêmico, ou seja, um distúrbio metabólico" no opositor, que pode ter sido causado por "uma queda brusca dos níveis de açúcar no sangue".

- "Sem confiança" -Os médicos disseram que os testes continuariam por dois dias. Não houve complicações durante a noite e o estado de saúde do opositor melhorou ligeiramente esta manhã, embora continue inconsciente, de acordo com Murakhovsky.

A recusa de transferir Navalny para o exterior foi denunciada por seu braço direito Leonid Volkov como uma "decisão política e não médica".

"Eles esperam que as toxinas saiam e deixem de ser detectáveis no corpo. Não há diagnóstico ou análise. A vida de Alexei corre grande perigo", escreveu no Twitter.

O Kremlin, por sua vez, considerou que se trata de uma decisão "puramente médica" e que os médicos russos estão fazendo "todo o possível para apurar as razões do problema de saúde do paciente e para curá-lo".

A porta-voz do opositor, Kira Iarmych, estimou que seria "fatalmente perigoso" deixá-lo no hospital "não equipado" de Omsk.

"A recusa da transferência de Navalny só serve para ganhar tempo e esperar até que o veneno não seja mais detectado em seu corpo", garantiu ela no Twitter.

A embaixada americana em Moscou estimou que, se a tese do envenenamento for verdadeira, seria "um momento sério para a Rússia".

"Preocupada", a UE apelou a uma "investigação rápida, independente e transparente" da situação.

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos insistiu que o opositor "receba todos os cuidados adequados".

- Vítima de outros ataques -Navalny, um advogado de 44 anos cujas postagens sobre a corrupção das elites russas são amplamente acompanhadas nas redes sociais, já foi vítima de vários ataques físicos.

Em 2017, ele sofreu queimaduras em um olho quando indivíduos jogaram um líquido desinfetante em seu rosto.

Em julho de 2019, quando cumpria uma breve pena de prisão, também alegou ter sido "envenenado" com um "material químico desconhecido" e foi transferido para um hospital.

As autoridades afirmaram que se tratou de uma "reação alérgica" e não encontraram "nenhuma substância tóxica" em seu organismo.

Navalny e seu Fundo de Combate à Corrupção (FBK), criado em 2012, são constantemente perseguidos pelas autoridades e enfrentam multas e buscas repetidas. Seus seguidores são frequentemente detidos.

Nos últimos dias, Navalny fez campanha pelos candidatos da oposição para as eleições regionais de setembro.

Vários adversários do Kremlin foram envenenados nos últimos anos, na Rússia ou no exterior.

Em março de 2018, um ex-agente duplo e sua filha, Serguei e Yulia Skripal, foram encontrados inconscientes em um banco em uma pequena cidade no sul da Inglaterra.

Londres acusou Moscou de estar por trás de um envenenamento com Novichok, um poderoso agente nervoso fabricado na era soviética, acusações que o Kremlin negou. Este caso provocou uma crise diplomática.

Em 2006, um ex-agente secreto russo no exílio, Alexander Litvinienko, morreu vítima de polônio-210, uma substância radioativa extremamente tóxica. Londres também acusou Moscou.

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