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OMS prevê que pandemia irá durar menos de dois anos

21/08/2020 21h40

Montevidéu, 22 Ago 2020 (AFP) - Em meio ao alerta causado por uma nova onda de coronavírus na Europa, no momento em que o contágio parece perder força em Brasil e Estados Unidos, países mais afetados, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou nesta sexta-feira esperar que a pandemia dure menos de dois anos.

"Esperamos acabar com esta pandemia em menos de dois anos. Principalmente se conseguirmos unir nossos esforços e utilizarmos ao máximo os recursos disponíveis, e esperando que possamos contar com ferramentas suplementares, como vacinas, acredito que poderemos acabar com a mesma em um prazo mais curto que o da gripe de 1918", assinalou o diretor geral da OMS, Tedros Ghebreyesus.

Desde que a doença surgiu, em dezembro passado, na China, já causou 796.823 mortes no mundo e infectou 22,8 milhões de pessoas, segundo um balanço da AFP com base em fontes oficiais.

O país mais afetado, Estados Unidos, soma 5,6 milhões de casos e mais de 175 mil mortos. O número de novos infectados por dia diminuiu nas últimas três semanas, para 43 mil nesta quinta-feira.

"Podemos esperar que, na semana que vem, começaremos a observar uma redução do número de mortos", disse ontem o diretor do Centro para a Prevenção e Controle de Enfermidades (CDC), Robert Redfield, à revista médica "Jama".

Ao desafio de lidar com a pandemia , somaram-se esta semana na Califórnia, um dos estados americanos com maior número de infectados, incêndios que se propagam sem controle e provocam a retirada da população local.

A OMS também avaliou hoje que a situação da COVID-19 se estabilizou no Brasil, e considerou que seria "um sucesso para o mundo" que o país, o mais afetado pela pandemia na América Latina, freasse a rápida transmissão do vírus.

O diretor de emergências da OMS, Michael Ryan, afirmou durante coletiva de imprensa que houve "um claro declínio em várias partes do Brasil" dos casos da doença. O Brasil é, depois dos Estados Unidos, o segundo país do mundo com maior número de mortos e casos do novo coronavírus.

"A aceleração dos casos se estabilizou, mas continua havendo um número muito elevado de casos e alto demais de mortos", disse Ryan a respeito do país, onde, na última semana, foram registrados 6.900 óbitos e 290.000 casos de COVID-19.

A Organização Pan-Americana da Saúde (OPS), por outro lado, advertiu que as gestantes correm um risco maior de desenvolver as formas graves da doença, e que o Brasil é o país com maior mortalidade neste grupo.

- Pobreza e coronavírus -

Quase um terço das mortes causadas pelo novo coronavírus se deu na América Latina (252.233 óbitos), onde a pandemia acentua a pobreza, ameaçando apagar uma década de avanços sociais.

Milhares de famílias enfrentam o dilema de encher o estômago ou se proteger de uma infecção. "Por causa desta pandemia, fiquei desempregada. Tem dia que até pulamos uma refeição porque a situação é difícil", diz Milena Maia, que mora em Heliópolis, uma das maiores favelas de São Paulo.

A América Latina representa 9% da população mundial e registrou 40% das mortes globais nos últimos dois meses. "Isto nos dá uma ideia do tamanho do impacto", diz Luis Felipe López-Calva, diretor para a América Latina do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), que prevê um retrocesso "de até 10 anos nos níveis de pobreza multidimensionais", na ausência de políticas eficazes.

Somente na região, segundo a Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal), a pandemia colocará 45 milhões de pessoas na pobreza, elevando o total para 231 milhões, 37,3% da população latino-americana.

Os problemas sociais se multiplicam. Nas prisões brasileiras, por exemplo, o coronavírus isola ainda mais os detentos de suas famílias e mostra a deficiência dos serviços de saúde.

Na Argentina, que registrou nos últimos dias um novo recorde diário de infectados, superando 8 mil, foi anunciada a fase três dos testes do projeto de vacina do grupo chinês Sinopharm.

- Situação difícil na Europa -

Na Europa, o número de novos casos diários divulgado hoje em França, Itália, Alemanha e Espanha preocupa e mostra um novo surto da doença, em grande parte devido às viagens durante as férias de verão.

Na Espanha, autoridades da região de Madri recomendaram hoje que a população fique em casa nas áreas mais atingidas pelo novo coronavírus, enquanto o número total de casos no país aumentou mais de 8 mil em 24 horas. Já a França deu conta do segundo dia consecutivo com mais de 4 mil novos casos, cifra não registrada desde maio.

Mas não foi apenas na Europa que a flexibilização das medidas de confinamento foi revertida. Com hospitais transbordando de pacientes com a COVID-19 e os feridos na explosão mortal de 4 de agosto no porto de Beirute, o Líbano, que enfrenta taxas recordes de infecções, voltou a se confinar nesta sexta-feira, com toque de recolher diário durante a noite.

O país, que registra oficialmente 9.758 casos de coronavírus (107 mortes), está "à beira do abismo", alertou o ministro da Saúde, Hamad Hassan.

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