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Pompeo continua no Bahrein viagem para aproximar Israel aos países árabes

26/08/2020 12h29

Manama, 26 Ago 2020 (AFP) - O rei do Bahrein, Hamad bin Issa al-Khalifa, reafirmou nesta quarta-feira (26) que seu país apoia a criação de um Estado palestino, em declarações no encontro com o secretário de Estado americano, Mike Pompeo, rejeitando implicitamente a tentativa de Washington de estabelecer rapidamente relações com Israel.

Pompeo estava em Manama, terceira etapa de sua viagem pelo Oriente Médio, dedicada à tentativa de aproximar Israel dos países árabes.

De acordo com a agência oficial de notícias BNA, o rei Hamad destacou "a importância dos esforços para acabar com o conflito entre israelenses e palestinos por meio da solução de dois Estados".

Esta opção permitiria - segundo ele - "uma solução global e sustentável no Oriente Médio, que comportaria a criação de um Estado palestino com Jerusalém Oriental como capital, conforme o direito internacional e a iniciativa de paz árabe", que pede a retirada completa de Israel dos territórios palestinos ocupados desde 1967, em troca de uma normalização.

Em um comunicado, o Departamento de Estado americano informou que o Irã e a estabilidade na região foram os principais temas da reunião entre Pompeo e o rei do Bahrein, onde os EUA mantêm a base da V Frota de sua Marinha.

No Twitter, o chefe da diplomacia dos Estados Unidos indicou que conversou com o príncipe herdeiro Salman bin Hamad al-Khalifa sobre a "importância de fortalecer a paz e a estabilidade na região, inclusive fortalecendo a unidade (dos países árabes) do Golfo para conter a influência maligna do Irã".

No início da viagem, na segunda-feira (24), Pompeo disse estar otimista com a perspectiva de ver outros países árabes seguirem os passos dos Emirados Árabes Unidos, que anunciaram em 13 de agosto a normalização de suas relações com Israel.

Na terça-feira, depois de ter passado por Israel, ele enfrentou, porém, a rejeição do Sudão. Cartum disse não ter "mandato" para normalizar as relações com Israel durante o período de transição, iniciado após a queda do ex-presidente Omar al-Bashir e com previsão de término em 2022.

O Bahrein, que está em contato com Israel desde a década de 1990, foi o primeiro país do Golfo a entrar no acordo Emirados-Israel. Ambos compartilham com outros países árabes da região a mesma hostilidade ao Irã.

Manama acusa a República Islâmica de instrumentalizar a comunidade xiita do Bahrein contra a dinastia sunita governante. Uma autoridade do Bahrein disse, em 20 de agosto, que seu país é um Estado soberano e que suas decisões podem ser motivadas por seus "interesses nacionais", enquanto reafirma o apoio de Manama aos "direitos dos palestinos".

A reaproximação com Israel gerou críticas em alguns países árabes, e o Bahrein, um aliado próximo da Arábia Saudita e um peso-pesado na região, dificilmente estabelecerá relações sem a bênção de Riad.

- Papel de intermediário -A Arábia Saudita não criticou o acordo, mas reafirmou que não normalizará as relações com Israel até que haja um acordo de paz no Oriente Médio - uma posição que pode até afetar a imagem do reino como líder do mundo islâmico.

Analistas disseram que, mesmo que Pompeo não consiga convencer o Bahrein da utilidade das relações com Israel, este pequeno reino pode desempenhar um papel intermediário importante na diplomacia regional.

"Embora a Arábia Saudita não possa normalizar diretamente suas relações, devido ao impasse no processo de paz, o Bahrein pode se tornar um elemento central para o intercâmbio entre sauditas e israelenses", disse Andreas Krieg, do King's College London, à AFP.

Depois de Manama, Pompeo chegou esta tarde aos Emirados e iniciou encontros com o ministro das Relações Exteriores, Abdallah bin Zayed al-Nahyan, e com o conselheiro de segurança nacional, Tahnun bin Zayed al-Nahyan.

"Esperamos poder aproveitar este impulso para alcançar a paz na região", tuitou Pompeo, ao desembarcar em Abu Dhabi.

Na véspera, o secretário americano conversou por telefone com o príncipe herdeiro de Abu Dhabi, xeque Mohamed bin Zayed al-Nahyan, considerado o arquiteto do acordo com Israel.

Ambos falaram deste pacto histórico "e das perspectivas de fortalecê-lo para favorecer as bases da paz e da estabilidade na região", informou a agência oficial WAM.

O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, negou informações de que o acordo com Abu Dhabi inclua a venda de caças F-35 dos EUA aos Emirados. O premiê afirmou ainda que é contrário a tal transação, que poderia privar Israel de sua superioridade tecnológica na região.

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