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Prisão não silencia dissidentes tailandeses

18/09/2020 10h47

Bangcoc, 18 Set 2020 (AFP) - Eles passaram anos na prisão por crimes de lesa-majestade, mas os dissidentes tailandeses não jogam a toalha e, neste fim de semana, participarão de manifestações anunciadas como históricas, em apoio ao movimento estudantil que ousou enfrentar o assunto tabu do país: a monarquia.

"A luta não terminou", disse, entusiasmado, Somyot Prueksakasemsuk.

"Nossos esforços continuam. As novas gerações descobriram a realidade (...) e pedem abertamente uma reforma da monarquia", afirma.

Condenado em virtude do artigo 122 do Código Penal tailandês por crime de lesa-majestade, que castiga com severidade qualquer difamação contra a família real, este jornalista passou sete anos na prisão.

Apesar dos riscos, neste fim de semana, este ativista de 58 anos participará das manifestações. Ao menos 40.000 pessoas são esperadas nas ruas, segundo a imprensa local.

Será a maior manifestação da oposição desde o golpe de Estado de 2014, que levou o atual primeiro-ministro, Prayut Chan-O-Cha - que depois ganhou as eleições -, ao poder.

- "As pessoas acordaram" -O movimento estudantil pede uma reforma da monarquia, defende, principalmente, que o rei não deve se meter em assuntos políticos, assim como reivindica a eliminação da lei sobre os crimes de lesa-majestade e que a realeza devolva bens ao Estado.

Nada parecido foi visto até então no reino, onde a monarquia parecia estar sempre acima das turbulências políticas que derrubaram os sucessivos governos.

O objetivo desses estudantes não é acabar com a instituição, mas "modernizá-la e adaptá-la à nossa época".

Também pedem o fim da perseguição de opositores, a dissolução do Parlamento junto com a renúncia de Prayut Chan-O-Cha e a reforma da Constituição, considerada muito favorável ao Exército.

O governo afirma que a lei de lesa-majestade não foi usada nos últimos anos, o que demonstraria o espírito conciliador do rei, que assumiu o trono no ano passado. Muitos militantes ainda são acusados, porém, de "sedição", um crime que pode levá-los a sete anos de prisão.

Nos últimos dois anos, pelo menos nove militantes pró-democracia que fugiram da Tailândia após o golpe de Estado de 2014 desapareceram, segundo a ONG Human Rights Watch.

Nas ruas, em paralelo ao movimento estudantil, surgiram grupos de defesa da monarquia, o que multiplica a tensão.

Para Jatupat Boonpatararaska, conhecido como "Pai" e que ficou dois anos preso por criticar o atual rei, as ameaças não funcionam mais.

"Nos consideravam pessoas que não faziam parte da sociedade, mas isso não funciona mais. As pessoas acordaram", afirma.

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