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Donald Trump, um 'showman' pronto para o combate

29/09/2020 18h06

Washington, 29 Set 2020 (AFP) - Donald Trump costuma se gabar de sua astúcia e firmeza. Nesta terça-feira, ele deverá usar seus ataques verbais no primeiro debate com Joe Biden antes das eleições de 3 de novembro nos Estados Unidos.

"É como uma luta no ringue. A mesma coisa, um pouquinho menos físico, apenas", disse ele dias atrás, comparando o dabate de terça-feira com uma luta de Artes Marciais Mistas (MMA).

Entretanto, 35 dias antes das eleições, os discursos por vezes contraditórios e confusos do presidente, 74, podem voltar-se contra ele em relação ao oponente democrata, de 77 anos. Seu ponto forte é a capacidade de impor suas regras.

Como no exercício do poder, Trump busca no debate se livrar das tradições que se enraizaram nesses confrontos desde o primeiro organizado há 60 anos, em Chicago, entre o democrata John F. Kennedy e o republicano Richard Nixon.

Trump é "único", disse à AFP Aaron Kall, professor da Universidade de Michigan e co-autor do livro "Debating The Donald". "Não existe uma fórmula para confrontá-lo".

- Mudança de tom - O 45º presidente dos Estados Unidos adora os holofotes, mas está acostumado a ficar sozinho no palco, como em seus comícios de campanha onde ocupa, com verdadeiro talento, todo o espaço.

O ex-apresentador de "reality shows" participou de 14 debates políticos em sua vida: 11 durante as primárias republicanas em 2015-2016 e três contra quem foi finalmente sua rival, Hillary Clinton. Agora, atrás nas pesquisas, ele tem que aproveitar a oportunidade do encontro em Cleveland, Ohio.

Ele mesmo, no entanto, se colocou em uma posição desconfortável com ataques pessoais de virulência e piadas incomuns durante meses sobre o estado de saúde física e mental de seu oponente, quem ele apresenta como um idoso um pouco perdido, manipulado por seu entorno e pela "esquerda radical".

"Joe, O Dominhoco sequer sabe onde está ou o que está fazendo"; "sequer sabe que está vivo", disse sobre o ex-vice-presidente de Barack Obama, na política há décadas.

No entanto, uma das razões pelas quais ganhou há cinco anos as primárias republicanas é que insistiu em que era um novato na política contra governadores e senadores experientes.

Nos últimos dias, portanto, ele tentou um giro espetacular de 80 graus em sua estratégia. "O favorito é Joe, o dorminhoco", disse no início desta semana. "Eu sou o que não tem experiência, só estive fazendo isso por alguns anos, ele está na arena por mais de 47 anos".

- Falta de treinamento? - Outro obstáculo para o magnata nova-iorquino: o primeiro debate sempre é uma armadilha para o atual presidente, envolto há quatro anos na bolha da Casa Branca.

Em Washington, todos lembram do desempenho ruim de Obama em 3 de outubro de 2012 contra o republicano Mitt Romney. Tenso, cansado, com os olhos cravados em suas anotações, frequentemente se perdia em respostas longas e tortuosas.

Não faltam exemplos semelhantes. Jimmy Carter contra Ronald Reagan em 1980, George H.W. Bush contra Bill Clinton em 1992: muitos presidentes que buscam um segundo mandato vão mal nos debates.

"Geralmente carecem de treinamento, nem sempre têm tempo para se preparar (...) e encontram ao seu redor muitos bajuladores e pessoas que hesitam em contradizê-los", explica o professor Kall.

Trump pode, de fato, ter menos experiência que seu oponente: debateu pela última vez em outubro de 2016.

Biden, por sua vez, participou em 11 debates entre junho de 2019 e março de 2020, o último deles contra o senador de esquerda Bernie Sanders, um oponente formidável.

Além disso, resta outra pergunta importante: como o ex-vice-presidente democrata reagirá diante de Trump? Uma coisa é certa: mesmo que a dinâmica seja diferente em muitos aspectos, a anterior de 2016 estará na mente de todos.

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