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Emir do Kuwait morre e príncipe herdeiro é nomeado chefe de Estado

O Emir do Kuwait, xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah, em foto de 2018  - YASSER AL-ZAYYAT/AFP
O Emir do Kuwait, xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah, em foto de 2018 Imagem: YASSER AL-ZAYYAT/AFP

29/09/2020 19h10

O príncipe herdeiro Nawaf Al-Ahmad Al-Sabah foi nomeado nesta terça-feira chefe de Estado do Kuwait, sucedendo o emir Sabah al-Ahmad al-Sabah, que morreu hoje, aos 91 anos. Nawaf prestará juramento amanhã.

"Com grande tristeza e pesar, lamentamos a morte do xeque Sabah al-Ahmad al-Sabah, emir do Kuwait", declarou o xeque Ali Jarrah al-Sabah, ministro encarregado dos assuntos reais, em uma gravação transmitida pela TV. O governo decretou 40 dias de luto nacional pela morte do decano da diplomacia numa região mergulhada em mais de cinco décadas de crises e conflitos.

Após se internar no Kuwait, em 18 de julho, o chefe de Estado, que assumiu o poder em 2006, delegou temporariamente parte de seus poderes ao irmão, o príncipe herdeiro. O xeque Sabah morreu nos Estados Unidos, para onde viajou no fim do mesmo mês com o objetivo de dar prosseguimento ao tratamento médico, informaram autoridades, que não revelaram a doença do emir. Desde 2002, ele se submeteu a várias cirurgias.

Mediador

O xeque Sabah foi considerado o arquiteto da política externa do Kuwait moderno, grande aliado dos Estados Unidos e da Arábia Saudita, enquanto mantinha boas relações com o Irã, arquirrival destes dois últimos. Riad expressou condolências e o Irã elogiou "a moderação e calma" do emir.

Após a morte do sultão Qabus, de Omã, em janeiro, Sabah se torna outro mediador influente falecido em uma região marcada por tensões com o Irã e a disputa que estourou em 2017 entre o Catar, de um lado, e a Arábia Saudita e seus aliados, do outro. Neste litígio, Sabah adotou um papel de mediação e pediu uma redução das tensões no Golfo.

As Nações Unidas elogiaram o dirigente "distinto, mundialmente reconhecido por sua sabedoria, generosidade e por seus êxitos em matéria de construção do Estado e da diplomacia preventiva". Emirados Árabes, Egito, Líbano e Catar decretaram três dias de luto em homenagem ao emir.

"Os mundos árabe e muçulmano perderam um de seus dirigentes mais valorizados", tuitou o presidente egípcio, Abdel Al-Sisi. Já o Barein lembrou o emir como um "dirigente sábio". O premier britânico, Boris Johnson, destacou "sua contribuição para a estabilidade regional e ajuda humanitária".

Sua morte "terá um impacto profundo, devido ao seu papel como diplomata e mediador regional, mas também como uma figura unificadora em seu país", disse Kristin Diwan, do Arab Gulf States Institute, com sede em Washington. "Os kuwaitianos apreciavam sua capacidade de manter o emirado fora de conflitos e rivalidades regionais."

Estabilidade e normalização

O reinado de Sabah, no entanto, foi marcado por turbulências políticas: manifestações e prisões de opositores, além da queda do preço do petróleo, do qual o país depende.

Embora fosse considerado um liberal, especialmente pelas reformas econômicas e sociais que realizou e pelos direitos das mulheres, ele descartou a legislação dos partidos políticos.

A política de seu sucessor não deve se afastar muito da do xeque Sabah, mesmo numa época em que dois de seus vizinhos - Emirados Árabes e Barein - decidiram normalizar suas relações com Israel, decisão que continua a ser impopular entre a sociedade kuwaitiana, que apoia o consenso que prevalecia até então e fazia da solução do conflito israelense-palestino a condição para qualquer normalização das relações.

Não há nenhum sinal de mudança de postura do Kuwait envolvendo a normalização, assinala Kristin Diwan, para quem "a prioridade dos dirigentes será a estabilidade interna" do Kuwait, onde eleições legislativas estão previstas para daqui a dois meses.

Nomeado príncipe herdeiro em 2006, o xeque Nauaf Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah ocupou vários cargos importantes no governo de seu país. Quinto filho do xeque Al-Ahmad Al-Jaber Al-Sabah, que liderou o Kuwait de 1921 até sua morte em 1950, o xeque Nauaf foi ministro da Defesa em 1990, ano da invasão do emirado pelas tropas iraquianas de Saddam Hussein.

Bagdá reagiu à morte do emir afirmando que ele soube deixar no passado a ocupação iraquiana, para apoiar o "novo Iraque" na era pós-Saddam Hussein, principalmente em sua luta contra o terrorismo.