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Martuni, cidade na linha de frente de Nagorno Karabakh

09/10/2020 15h35

Martuni, Azerbaijão, 9 Out 2020 (AFP) - As letras de plástico vermelho do alfabeto armênio marcam, no estilo soviético, a entrada da cidade: Martuni. Acompanham um retrato grande e sorridente de Monte Melkonian, um "herói nacional" armênio da guerra de 1990, contra o Azerbaijão.

A poucos quilômetros da linha de frente, a pequena cidade de Martuni, nos altos planaltos agrícolas das montanhas de Nagorno Karabakh, está na vanguarda da nova guerra que há quase duas semanas acontece contra as populações armênias locais e as forças do Azerbaijão.

Um canhão é ouvido ao longe. Depois de um começo de dia relativamente tranquilo, mísseis ou talvez pesados projéteis começam a cair em intervalos regulares sobre a cidade, sacudindo o solo a cada golpe de aço.

Em torno do monumento aos combatentes da Segunda Guerra Mundial, entre os vidros quebrados e as janelas demolidas dos prédios oficiais, pode-se ver as instalações da prefeitura.

- Carros antigos dos anos 1980 -Cercado por seus militares, o vice-prefeito - um homem enérgico nos seus trinta anos, vestido com um traje militar - recebe jornalistas da AFP do alto de uma escada do porão que serve de abrigo antiaéreo.

"Podem verificar a destruição", autoriza o prefeito Aznavur Saghyan. "Mas tomem cuidado e mantenham a cabeça baixa se estiver em uma área bombardeada", alerta, enquanto fuma um cigarro, antes de ir resolver problemas mais sérios com homens em trajes civis ou militares.

Foi em Martuni que dois jornalistas franceses do jornal Le Monde ficaram feridos num atentado a bomba no dia 1º de outubro, durante uma visita organizada pelas autoridades locais para os meios de comunicação.

Desde então, o acesso à linha de frente está totalmente fechado à imprensa internacional, geralmente limitado à capital separatista Stepanakert, a cerca de 20 km e desde o início da semana alvo dos ataques das forças azerbaijanas.

As bombas também caem aqui, principalmente porque o front está muito mais perto. Pode-se sentir a tensão. O cansaço está nos olhos dos poucos homens que ainda se veem na cidade deserta.

Alguns carros Lada antigos, da década de 1980, estão estacionados na principal avenida arborizada da cidade, mas nunca à vista, sempre à sombra de um telhado ou parede que os proteja dos estilhaços.

Além do vidro no chão e das janelas quebradas, o dano não é surpreendente à primeira vista. Provavelmente, por causa da variada ordem desta cidade tipicamente caucasiana, que combina a feiura da arquitetura comunista com o encanto rural das antigas casas de vários andares e suas vinhas carregadas de uvas.

- "Venceremos essa nova guerra" -Mas depois de uma curva, passados os dois pomares de romãs vermelhas, ou uma rua de asfalto destruído, é inevitável encontrar casas destruídas e cheias de escombros, depois de ser atingidas pelas bombas azerbaijanas.

"Não tenho medo, sou um veterano da guerra de 1990", brinca o proprietário barrigudo de uma casa, intacta até o momento, a poucos metros da prefeitura.

Perto dali, uma mulher de cabelos escuros, na casa dos 30 anos - vestida com roupa preta e chinelos com meias, à moda local - aparece sorrindo como "uma das duas únicas voluntárias nessa parte da frente de guerra".

"Eu cozinhei para as unidades implantadas no campo de batalha. Voltei aqui para tomar banho e descansar um pouco", conta.

"A guerra de hoje é muito pior do que a de 1990. Naquela época eles atiravam contra nós com armas automáticas. Hoje são bombas e artilharia", acrescenta.

"Que diferença faz", responde Svetlana Siranyan: "venceremos essa nova guerra."

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