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Jovem apelidada 'arco-íris' rompe o tabu da monarquia na Tailândia

15/10/2020 09h53

Pathum Thani, Tailândia, 15 Out 2020 (AFP) - Ela tem 22 anos e foi presa nesta quinta-feira (15) por ousar enfrentar o maior tabu da Tailândia: a monarquia, pilar de um sistema político militar que uma parte da juventude, sedenta por democracia, critica nas ruas do país há vários meses.

Panusaya Sithijirawattanakul, conhecida como Rung (arco-íris), foi detida após a promulgação de um decreto de emergência que pretende esmagar este movimento pró-democracia que inunda as ruas.

Na quarta-feira, a jovem liderava o protesto que reuniu milhares de pessoas no centro da capital tailandesa.

Essa estudante de sociologia e antropologia saiu do anonimato em 10 de agosto. Diante de uma maré de jovens reunidos em uma universidade dos arredores de Bangcoc, ela subiu no palco e, com a voz determinada, listou os dez pontos para reformar a monarquia.

Foi algo nunca antes visto neste país onde a instituição real é sagrada e protegida por um dos arsenais legislativos mais severos do mundo, que castiga com até quinze anos de prisão as difamações, insultos ou ameaças contra o riquíssimo rei Maha Vajiralongkorn, Rama X, e sua família.

Rung e seus colegas de luta pedem a revogação da lei de lesa-majestade, transparência das finanças reais e a não interferência do monarca nos assuntos políticos.

"Sabia que depois (do discurso) minha vida iria mudar para sempre", contou Rung à AFP em agosto.

Antes de subir ao pódio, "segurava a mão de meus amigos, estava muito nervosa", contou a jovem. Mas "estava disposta a correr o risco, senti que fazer isso era o meu dever".

Antes de ser presa, Rung foi acusada de "sedição", um crime que pode levar a sete anos de prisão.

- "Que venham" -O objetivo de Rung não é "demolir ou abolir a monarquia", mas "modernizá-la, adaptá-la aos nossos tempos".

Nascida em 1998 perto de Bangcoc, Rung cresceu em uma família de classe média longe da agitação política que abalava seu país.

Mas uma lembrança da infância a marcou para sempre: quando um cortejo real passava perto de sua casa, a polícia obrigou ela e seus familiares a sair da rua e ajoelhar-se na calçada.

Isso "forjou a minha consciência (...). Ninguém deveria ser mais importante ou estar acima dos demais", lembra a jovem, que se descreve como "introvertida" e "solidária".

Ela acredita que foi "além dos limites sobre o modo em que se pode falar da monarquia", disse em agosto.

Agora, "não me importo se eles me prenderem (...) Estou pronta. Se quiserem, que venham".

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