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Armênia diz que nova trégua humanitária foi violada por Azerbaijão

Conflitos entre Armênia e Azerbaijão na região Nagorno Karabakh tem nova tentativa de trégua humanitária - KAREN MINASYAN/AFP
Conflitos entre Armênia e Azerbaijão na região Nagorno Karabakh tem nova tentativa de trégua humanitária Imagem: KAREN MINASYAN/AFP

17/10/2020 21h35

O Ministério da Defesa da Armênia disse ontem que a trégua humanitária em Nagorno Karabakh foi violada pelo Azerbaijão poucas horas depois de o novo acordo ter entrado em vigor na região.

"O inimigo disparou tiros de artilharia para o norte entre 00:04 e 02:45 e disparou foguetes na direção o sul entre 02:20 e 02:45", disse o porta-voz do ministério, Shushan Stepanyan, no Twitter

O Azerbaijão, até o momento, não se manifestou.

Armênia e o Azerbaijão anunciaram ontem uma nova trégua humanitária, que entrou em vigor à meia-noite (horário local, 17h de Brasília), para tentar interromper os combates que já duram três semanas na região disputada.

"A República da Armênia e a República do Azerbaijão concordaram com uma trégua humanitária a partir de 18 de outubro, às 00H00, hora local", informou o Ministério das Relações Exteriores da Armênia na noite deste sábado.

O Ministério das Relações Exteriores do Azerbaijão confirmou a informação em um comunicado idêntico.

O anúncio da trégua ocorreu depois que o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, manteve conversas telefônicas com seus colegas da Armênia e do Azerbaijão, nas quais, segundo o Ministério das Relações Exteriores da Rússia, ele enfatizou "a necessidade de seguir estritamente" o acordo de cessar-fogo acordado em Moscou no sábado passado.

O presidente francês Emmanuel Macron "celebrou" a trégua, acrescentando que ela havia sido concluída "depois de uma mediação francesa realizada nos últimos dias e horas em coordenação com os co-presidentes do Grupo de Minsk (Estados Unidos e Rússia)".

A retomada dos combates há três semanas deixou centenas de mortos e após uma primeira tentativa fracassada de cessar-fogo, concluída há uma semana com a mediação de Moscou, o conflito aumentou no sábado.

O Azerbaijão jurou vingar a morte de 13 civis em um bombardeio noturno a uma área residencial em Ganya, a segunda maior cidade do país.

Horas antes do bombardeio a Ganya, foram registrados ataques azerbaijanos contra a capital do território separatista, Stepanakert.

A cidade foi abandonada pela maioria de seus habitantes desde o início dos confrontos, em 27 de setembro passado.

O ataque em Ganya na madrugada deste sábado foi seguido de um segundo bombardeio em outra parte dessa localidade, além de um disparo na estratégica cidade de Mingachevir, a uma hora de distância por estrada.

Povoado principalmente por armênios cristãos, esse enclave se separou do Azerbaijão, um país muçulmano xiita de língua turca, pouco antes da desintegração da União Soviética, em 1991. Essa mudança levou a uma guerra que deixou 30.000 mortos na década de 1990.

Desde 1994, existe um cessar-fogo, frequentemente interrompido por confrontos.

Em Ganya, jornalistas da AFP viram casas destruídas pelo míssil, que caiu por volta das 3h locais (20h de sexta em Brasília). De acordo com o procurador-geral, 13 civis morreram, e mais de 45 ficaram feridos.

Aos prantos, moradores fugiram da área, alguns apenas de pijama e chinelo.

O presidente do Azerbaijão, Ilham Aliyev, garantiu que vingaria os civis mortos no ataque.

"Este crime covarde não vai quebrar a vontade do nosso povo. Vamos responder no campo de batalha, vamos nos vingar no campo de batalha", frisou, prometendo que vão "caçar como cães" seus inimigos separatistas armênios.

Principal aliado de Baku, a Turquia acusou a Armênia de "crimes de guerra". Já a União Europeia (UE) lamentou os ataques e voltou a convocar "todas las partes a pararem de atacar os civis".

"Minha mulher estava ali"

Dezenas de equipes de resgate correm contra o tempo para encontrar sobreviventes sob os escombros. Após várias horas de busca, uma equipe colocou vários sacos pretos com corpos, um deles com cabeça e braço, em uma ambulância.

Ganya, uma cidade com mais de 300 mil habitantes, já havia sido bombardeada no domingo por um míssil que causou dez mortes.

Na cidade de Mingachevir, uma hora ao norte de Ganyá, jornalistas da AFP disseram ter ouvido uma potente explosão que sacudiu os prédios, mais ou menos na mesma hora.

Mingachevir está protegida por um sistema antimísseis, pois abriga uma barragem estratégica. Ainda não se sabe se os mísseis foram destruídos em voo, ou se atingiram a cidade.

Os separatistas armênios não fizeram comentários específicos sobre o ataque a Ganya. Afirmaram apenas que, como o Azerbaijão visava à infraestrutura civil nas cidades de Stepanakert e Chucha, "operações foram lançadas para deter o adversário", segundo o centro de informações do Governo armênio.

No "front", os combates continuavam, e Azerbaijão e Armênia se acusam mutuamente de violar o cessar-fogo e alvejar civis.

O Exército do Azerbaijão anunciou que avançou pelo norte e pelo sul da linha de frente, destruindo equipamentos militares, armas e deixando "muitos mortos".

Além do alto custo em vidas, a comunidade internacional teme que o conflito se internacionalize. A Turquia apoia o Azerbaijão, enquanto a Armênia, que dá suporte financeiro aos separatistas, faz parte de uma aliança militar com a Rússia.