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Centenas de libaneses vão às ruas no 1o aniversário de sua 'revolução'

17/10/2020 18h04

Beirute, 17 Out 2020 (AFP) - Centenas de libaneses tomaram as ruas, neste sábado (17), para celebrar o primeiro aniversário de seu inédito movimento de protesto popular, que abalou a liderança política, mas que ainda não conseguiu provocar reformas concretas.

No final da tarde, eclodiram confrontos no centro da cidade, em torno da Praça dos Mártires e do Parlamento. Alguns manifestantes atiraram pedras nas forças de segurança que responderam com gás lacrimogêneo, relatou um fotógrafo da AFP.

Dois governos renunciaram desde o início dos protestos. Ainda assim, apesar da pressão dentro e fora do Líbano, as principais figuras políticas continuem no poder.

Segundo jornalistas da AFP, centenas de manifestantes com bandeiras andaram por Beirute neste sábado.

Partindo da emblemática Praça dos Mártires, epicentro do protesto, passaram pelo Banco Central, acusado da crise econômica, antes de se dirigirem ao porto, onde uma explosão catastrófica deixou mais de 200 mortos e 6.500 feridos no último 4 de agosto.

Os manifestantes fizeram um minuto de silêncio em homenagem às vítimas. A responsabilidade pela tragédia é atribuída, principalmente, à negligência das autoridades.

- "Até o último suspiro" -Uma escultura de metal representando uma tocha, na qual está gravada "Revolução 17 de outubro" em árabe, foi iluminada às 18h07, horário local, hora exata em que ocorreu a tragédia.

"No dia 17 de outubro de 2020, dia em que a faísca se tornou uma chama que não se apaga. Continuaremos até o último suspiro [...] continuaremos a revolução", disse Sami Saab, um dos organizadores, à frente da assembleia.

Os protestos começaram no outono de 2019, em reação a um projeto do governo para taxar as ligações feitas pelo aplicativo WhatsApp.

Embora as autoridades tenham suprimido a medida, o levante acabou se espalhando por todo o país, ilustrando uma saciedade contra uma classe política tida como incompetente e corrupta.

O país também enfrenta sua pior crise econômica desde a guerra civil (1975-1990). Cada vez mais libaneses caem na pobreza e no desemprego, o que leva muitos deles a tentarem a sorte no exterior.

A situação se vê agravada pelo colapso da moeda nacional e pelas restrições bancárias a saques e a transferências para o exterior.

A este cenário, soma-se uma inflação galopante, dezenas de milhares de demissões e cortes nos salários. Tudo isso se agrava ainda mais no contexto da pandemia da covid-19.

O coordenador especial da ONU para o Líbano, Khan Kubis, comentou na sexta-feira que, "em um ano catastrófico, as queixas e demandas legítimas dos libaneses não foram ouvidas". Ele concluiu que "tudo isso agravou ainda mais a falta de confiança que os libaneses têm em seus líderes".

- "A revolução continua" -Em Trípoli, uma cidade do norte se transformou em um reduto de protestos, os manifestantes estão se mobilizando desde a noite de sexta-feira.

"Todos devem sair", disse Taha Ratl, referindo-se aos políticos.

A classe política, entretanto, continua absorta em negociações intermináveis para formar um governo, ignorando os apelos da comunidade internacional para iniciar reformas.

O governo de Hassan Diab renunciou após a explosão no porto de Beirute, o que grande parte da opinião atribui à negligência das lideranças.

A deflagração foi causada por uma enorme quantidade de nitrato de amônio, armazenada por mais de seis anos "sem medidas cautelares", como reconheceram as próprias autoridades.

As consultas parlamentares para nomear o futuro chefe de Estado, inicialmente agendadas para quinta-feira, foram adiadas por uma semana pelo presidente Michel Aoun.

"Minha mão continua estendida para trabalharmos juntos e realizarmos os apelos por reformas", reiterou o presidente no Twitter no sábado, depois que os manifestantes frequentemente recusavam seus convites.

Quanto a Saad Hariri, um ex-primeiro ministro que renunciou no outono de 2019, no auge dos protestos, ele agora se mostrou pronto para liderar um novo governo.

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