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Acordo de paz na Colômbia faz quatro anos assombrado por violência e críticas

25/11/2020 00h07

Bogotá, 25 Nov 2020 (AFP) - A Colômbia recordou nesta terça-feira (24) os quatro anos do acordo de paz que pôs fim à guerrilha mais antiga e poderosa das Américas, em um contexto de divisão social e violência.

Não houve atos para comemorar o pacto apoiado pela ONU que transformou a guerrilha das Farc em partido de esquerda depois de mais de meio século de uma sangrenta luta pelo poder.

O governo e os ex-rebeldes se confrontam sobre o cumprimento dos compromissos negociados durante quatro anos em Cuba e que foram rejeitados em um plebiscito antes de serem analisados e assinados em novembro de 2016.

A onda de ataques - que só neste ano deixou 59 ex-combatentes mortos - talvez seja a maior ameaça à paz, mas não a única.

Embora cerca de 13.000 guerrilheiros - a maior parte das Farc - tenham aceitado o pacto, facções "dissidentes" permaneceram armadas. Sem um comando unificado, esses grupos se fortaleceram com o apoio do narcotráfico e da mineração ilegal.

"Passou-se de uma guerra de 'ordem nacional' para vários conflitos locais", indicou a fundação independente Ideas for Peace. Já o observatório Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz documentou este ano 76 massacres, com 306 mortos.

Um novo ciclo de violência se formou entre vários grupos que disputam o controle territorial, plantações de drogas e as rotas da máfia. Suas principais vítimas são ex-guerrilheiros, ativistas de direitos humanos e líderes sociais.

Entre os dissidentes, o ELN - a última guerrilha reconhecida na Colômbia - e gangues do narcotráfico, como o Clan del Golfo, somam pelo menos 7.600 combatentes que atuam em 240 dos 1.100 municípios colombianos, segundo a Paz y Reconciliação, outra ONG especialista no conflito.

- Repreensão às Farc - O aumento da violência é agravado pela divisão social. A direita opositora ao acordo chegou ao poder em 2018 com a promessa de modificar parte de seu conteúdo, criticando a impunidade aos responsáveis por crimes hediondos.

O sistema de justiça estabelecido no pacto permite que os rebeldes recebam penas alternativas à prisão, em troca de confessar seus crimes e de indenizações às vítimas, que segundo o governo não têm sido cumprido.

O partido do presidente Iván Duque promove um referendo para desmantelar essa jurisdição, que ainda não emitiu nenhuma sentença por violações de direitos humanos na guerra interna.

Em seis décadas de confronto, são mais de nove milhões de vítimas, a maioria deslocadas, embora nem todas devido à ação da guerrilha. Agentes do Estado e grupos paramilitares de extrema direita também estiveram envolvidos.

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