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Fome mantém avanço na América Latina, afetando 47 milhões em 2019

Fome mantém avanço na América Latina, afetando 47 milhões em 2019 - Getty Images
Fome mantém avanço na América Latina, afetando 47 milhões em 2019 Imagem: Getty Images

02/12/2020 16h14

Cerca de 47,7 milhões de pessoas passaram fome em 2019 na América Latina, um agravamento que representa um acréscimo de mais de 13 milhões de pessoas nos últimos cinco anos e que deve ser intensificado pela pandemia do novo coronavírus, alertou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) em um relatório.

Os que sofreram com a fome são 7,4% dos mais de 620 milhões de habitantes da região, um aumento em relação aos 5,6% registrados em 2014, segundo o relatório sobre segurança alimentar e nutricional na América Latina e Caribe, apresentado nesta quarta-feira (2) pela FAO em sua sede regional em Santiago do Chile.

"A situação vem piorando nos últimos cinco anos, com um aumento de 13,2 milhões de pessoas desnutridas", que é o principal indicador utilizado para monitorar o progresso na erradicação da fome, explicou a instituição.

Outros 191 milhões de pessoas foram afetadas por insegurança alimentar moderada ou grave no ano passado, o que significa que um em cada três habitantes da América Latina não teve acesso a alimentos nutritivos e suficientes em 2019.

"Essa tendência de alta observada nos últimos cinco anos ocorre em um contexto econômico de desaceleração e declínio, aumento da pobreza, eventos climáticos extremos e conflitos políticos", disse a FAO.

Com isso, a organização prevê que é improvável que a região alcance a meta de "fome zero" que pretendia cumprir até 2030, quando esse flagelo afetaria 67 milhões de pessoas, de acordo com um cálculo que não inclui as repercussões da pandemia.

- Coronavírus -A FAO estima que o impacto da pandemia sobre a atividade econômica, o consumo de alimentos e as projeções de aumento da pobreza na região "sugerem um aumento significativo da fome, da insegurança alimentar e da desnutrição nos próximos anos".

Serão principalmente afetadas as áreas de maior pobreza e vulnerabilidade, com baixos níveis de educação, com grande presença de populações indígenas e mais suscetíveis às mudanças climáticas, segundo a instituição.

"A proteção social é uma medida-chave para mitigar imediatamente os impactos socioeconômicos da covid-19 e, ao mesmo tempo, permitir que as famílias afetadas reconstruam progressivamente seus meios de subsistência e fortaleçam suas capacidades de inclusão econômica e social", acrescentou o documento.

Até o início de dezembro, a América Latina já acumula mais de 13 milhões de infectados e 450 mil mortos pelo novo coronavírus. Além disso, segundo estimativas da ONU, a pandemia causará uma contração econômica de 9,1% e mais de 83 milhões de pessoas ficarão abaixo da linha da pobreza.

Desigualdade territorial

O relatório alerta, ainda, para a desigualdade territorial da desnutrição. Segundo o documento, o sobrepeso infantil nos territórios mais atrasados é duas vezes maior do que naqueles sem atraso: 13,1% contra 6,6%. Já o crescimento infantil mais lento afeta 27,6% nos territórios com grande atraso e 11,9% nos sem atraso.

"Em cada país temos lugares que atingiram padrões muito bons e outros onde as condições são muito graves. É essencial que os países concentrem seus esforços e canalizem recursos para territórios atrasados", declarou Julio Berdegué, representante regional da FAO.

O sobrepeso infantil também continua a aumentar em crianças abaixo dos cinco anos, afetando 7,5% da população infantil em 2019, número acima da média mundial, de 5,6%.