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Polêmica eleição legislativa na Venezuela revela divisão internacional sobre Maduro

Yuri Cortez/AFP
Imagem: Yuri Cortez/AFP

AFP

07/12/2020 23h06

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, recuperou no domingo o controle do Parlamento em uma eleição duramente criticada pelos Estados Unidos, a União Europeia e vários países da América Latina, e elogiada pela Rússia, um de seus principais aliados.

As eleições legislativas foram boicotadas pelos principais partidos políticos da oposição, liderados por Juan Guaidó, que a denunciaram como fraudulentas. Houve apenas 30,5% de comparecimento às urnas.

A aliança de partidos que apoiam Maduro conquistou 68,43% dos 6,2 milhões de votos apurados, com 98,6% das atlas transmitidas, informou nesta segunda-feira (7) Indira Alfonzo, presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE).

Maduro, em cerimônia com observadores russos no palácio presidencial, comemorou que o Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) e seus aliados alcançaram "quase 250" das 277 cadeiras em disputa. O CNE ainda não deu um balanço final sobre a distribuição dos assentos.

O resultado consolida o domínio do presidente socialista, que já controlava antes as demais instituições do Estado com o apoio do Forças Armadas, sustentação do governo chavista.

- "Roubou as eleições" -A vitória do chavismo desencadeou reações de repúdio e apoio na comunidade internacional, o que coloca em evidência a polarização existente sobre a Venezuela.

O chefe da diplomacia dos Estados Unidos, Mike Pompeo, reiterou nesta segunda que a Casa Branca "seguirá reconhecendo" Guaidó como o presidente em exercício na Venezuela.

"A comunidade internacional não pode permitir que Maduro, que está no poder de forma ilegítima porque roubou as eleições de 2018, se beneficie de roubar uma segunda eleição", alertou Pompeo, que no domingo já havia expressado seu posicionamento.

Em 2015, a oposição rompeu 15 anos de hegemonia chavista e assumiu a Assembleia Nacional, em eleições com 71% de participação.

No entanto, em 2018, os opositores boicotaram as eleições presidenciais por considerá-las uma fraude e a maioria opositora do Parlamento declarou Maduro um "usurpador". Chefe da casa legislativa, Guaidó reivindicou então a presidência da Venezuela com o apoio de 50 países.

Washington é o principal aliado de Guaidó e lidera a pressão contra Maduro com sanções econômicas contra a Venezuela, incluindo um embargo petroleiro em vigor desde abril de 2019.

O Reino Unido, por sua vez, indicou que "não reconhecerá a legitimidade" desta nova Assembleia Nacional que emergiu de "eleições profundamente falhas", disse o chanceler Dominic Raab nesta segunda, reiterando seu apoio a Guaidó.

"Cuide da sua vida", respondeu o chanceler venezuelano Jorge Arreaza em inglês no Twitter.

- "Transparência" -A União Europeia, que tentou sem sucesso adiar o processo para enviar uma missão de observação, indicou que não houve "padrões internacionais mínimos" no domingo.

O bloco "não pode reconhecer este processo eleitoral como credível, inclusivo ou transparente", afirmou o chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell.

Em meio à rejeição internacional, no entanto, Maduro encontrou algumas vozes de apoio.

A Rússia celebrou a "transparência" do processo. "Partimos do princípio de que a nova Assembleia Nacional será a base (...) para um diálogo construtivo entre todas as forças políticas" e ajudará "a superar as divergências que existem na sociedade venezuelana por meio de negociações", ressaltou a chancelaria russa.

O discurso está em sintonia com o que disse na véspera o ex-presidente do governo espanhol José Luis Rodríguez Zapatero, um dos convidados internacionais do governo socialista para acompanhar o processo eleitoral junto com os ex-presidentes Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador) e Fernando Lugo (Paraguai), assim como a ex-senadora colombiana Piedad Córdoba.

Luis Vicente León, diretor da firma de pesquisas Datanálisis, disse à AFP esta semana que não esperava o reconhecimento dos Estados Unidos ou da Europa.

Maduro "valida uma instituição que pode ser útil para seus aliados", afirmou ele. O presidente quer que países como China, Rússia, Índia ou México sintam "que existe um quadro institucional que pode respaldar acordos, por exemplo, de petróleo ou infraestrutura".

- "Chantagem" -"Não houve eleição ontem", afirmou Guaidó em uma coletiva de imprensa na segunda-feira. "Nos chantagearam e simplesmente não aceitamos".

Apesar do boicote da maioria, uma fração dissidente da oposição indicou candidatos, incluindo alguns com cartões dos partidos de oposição que lideraram o veto, depois que a Suprema Corte entregou o controle aos opositores de Guaidó.

"A resposta à fraude (...) é agir na rua", declarou Guaidó, que convocou um plebiscito, de segunda a sábado, para estender a legislatura até que haja "eleições livres, verificáveis e transparentes".

Segundo Guaidó, a participação no primeiro dia dessa consulta - simbólica, já que Maduro exerce controle territorial e institucional - foi "maior" do que o esperado, embora ele não tenha fornecido números.

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