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Brexit é oportunidade para União Europeia, dizem analistas

Para presidente da Comissão Europeia, "é hora de deixar o Brexit para trás" - GETTY IMAGES
Para presidente da Comissão Europeia, "é hora de deixar o Brexit para trás" Imagem: GETTY IMAGES

Em Bruxelas

01/01/2021 12h02

A retirada do Reino Unido da União Europeia (UE) é uma perda inegável para o bloco europeu, mas a ruptura com um sócio desconfiado e difícil pode ser uma oportunidade única para a UE, avaliam especialistas.

"Foi um longo caminho. É hora de deixar o Brexit para trás. Nosso futuro está construído na Europa", disse a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, ao anunciar o acordo comercial com Londres que evitará novos traumas após a entrada em vigor deste divórcio nesta sexta-feira (1º).

A saída britânica das instituições da UE e da união aduaneira representa, para os europeus, a exclusão de sua segunda maior economia e de uma potência nuclear, embora também retire do palco um ator cético quanto a uma integração mais profunda.

"O Reino Unido nunca foi favorável ao surgimento de uma segurança europeia autônoma. Sempre defendeu o papel central da OTAN", disse Pierre Vimont, pesquisador associado da Carnegie Europe.

"Foi, porém, após o referendo sobre o Brexit, precisamente o momento em que começou a surgir a ideia de uma defesa europeia", disse.

Embora agora esteja totalmente fora da UE, o Reino Unido ainda faz parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).

Na política externa, analistas duvidam de que Londres esteja se distanciando das posições europeias em questões internacionais importantes, como o programa nuclear iraniano, ou as relações com a Rússia e o Oriente Médio.

"Há muitas convergências em uma série de questões, em que britânicos e europeus estão na mesma frequência de onda", comentou o historiador Robert Frank.

A retomada das sanções ao Irã anunciadas unilateralmente por Washington é um bom exemplo, já que os Estados Unidos enfrentaram um bloco unido de França e Alemanha, mas que também incluiu o Reino Unido do primeiro-ministro Boris Johnson.

Vimont, o ex-representante da França junto à UE, disse que Londres vai querer continuar tendo uma "relação especial com França e Alemanha, e esse casal franco-alemão não quer romper essa relação".

Aparentemente, a esperança do Reino Unido é "voltar a entrar pela janela nas discussões diplomáticas europeias", brincou.

Um lugar especial

Os diplomatas britânicos também precisarão do apoio da UE para suas "relações bilaterais, ou para tentar estabelecer laços com grupos de países", como o de Visegrado (Hungria, Polônia, República Tcheca e Eslováquia), acrescentou.

A chegada de um novo presidente dos Estados Unidos em janeiro também é um fator a ser levado em consideração, já que o presidente eleito, o democrata Joe Biden, sempre se opôs ao Brexit.

"Acho que ele estará menos inclinado do que (Donald) Trump a dividir os europeus", disse Eric Maurice, da Fundação Schuman.

Economicamente, a aprovação do enorme acordo europeu sobre o plano de recuperação pós-pandemia, que cria uma dívida comum, teria sido, sem dúvida, muito mais difícil com o Reino Unido.

"Com os britânicos, não poderíamos nem mesmo ter discutido" o bilionário plano de reativação, estimou Frank, autor de um livro dedicado às relações anglo-europeias.

Além disso, o Reino Unido sempre ocupou um lugar especial, à margem da UE. Ficou de fora de muitas políticas de integração (como os acordos de Schengen sobre livre-circulação e a moeda única) e se opôs, ferozmente, a qualquer protecionismo em questões comerciais - em particular em relação à China, ou aos Estados Unidos.

Sua contribuição para a construção europeia terá sido, sobretudo, a de uma Europa liberal.

"No entanto, com a pandemia, percebemos que o Estado era, em última análise, necessário, e estamos nos afastando dessa visão ultraliberal que muitos eurocéticos denunciam", explicou Frank.

Embora o Brexit seja um novo capítulo na tumultuada história entre a ilha e o continente, pode não ser o último.

"Durante séculos, eles estiveram às vezes próximos e às vezes distantes. Essa oscilação vai continuar, a menos que a Europa fracasse. Mas, se, graças ao Brexit, a UE puder se reformar e funcionar melhor, podemos contar com o pragmatismo para que os britânicos digam 'voltamos!'", concluiu Frank.