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Fotógrafo da AFP conta invasão do Capitólio em imagens

07/01/2021 22h12

Washington, 8 Jan 2021 (AFP) - A primeira coisa que o fotojornalista da AFP Saul Loeb achou incomum ao chegar ao Capitólio, sede do Legislativo americano, para cobrir a certificação do democrata Joe Biden na quarta-feira foi o pequeno contingente policial.

"Nos termos de segurança, foi basicamente como qualquer outro dia no Capitólio. Foi um pouco surpreendente", contou Loeb, de 37 anos, cujo dia de trabalho estava prestes a sofrer uma reviravolta.

O fotojornalista registrou as imagens da invasão sem precedentes do Congresso americano, como a do apoiador de Donald Trump que pôs o pé sobre a mesa no gabinete da presidente da Câmara de Representantes, a democrata Nancy Pelosi, a um invasor vestindo um chapéu de pele com chifres.

O dia de trabalho de Loeb começou relativamente normal. Ele chegou cedo para se preparar, antes de tirar as primeiras fotos do início da sessão às 13h (15h em Brasília).

Foi quando ouviu um anúncio da segurança pelos alto-falantes, pedindo para que ninguém se mexesse.

"Como fotógrafo, você ouve algo assim e quer saber o que está acontecendo", disse Loeb, que trabalha há 14 anos no escritório da AFP em Washington.

- 'A matéria do dia' -"Então, fui para fora para descobrir o que estava acontecendo. Ouvi um tumulto, gritos. Havia cerca de uma dúzia de manifestantes dentro da Câmara", afirmou.

"É muito raro ver sequer um manifestante dentro do Capitólio, então ver uma dúzia aqui, às portas do Senado, foi realmente incomum. Em certo momento, pensei, 'esta vai ser a matéria do dia'", acrescentou.

Loeb passou alguns minutos tirando fotos dos manifestantes, enquanto a polícia tentava convencê-los a deixar o prédio.

"Sobretudo nos ignoravam ou nos deixavam fotografá-los", contou Loeb.

"Podíamos nos aproximar bastante deles. Com frequência eles nos encorajavam a fotografar. Estavam alegres, felizes por estar ali, onde nunca esperavam estar", acrescentou.

Loeb enviou estas fotos e então foi averiguar o que estava acontecendo no santuário da democracia americana, a princípio sem saber que centenas de manifestantes já estavam dentro do prédio.

"Podia-se ouvi-los cantar, o apoio a Trump e centenas de manifestantes correndo para a Rotunda aparentemente vindo de todas as direções", prosseguiu.

"Este é um dos prédios mais seguros de Washington e está tomado de manifestantes", disse Loeb, descrevendo a cena como "desconcertante".

"(Eles estavam) basicamente fazendo o que queriam, subindo nos bancos, fotografando as estátuas, fazendo barulho", explicou.

Loeb tentou chegar à Câmara do Senado, mas não conseguiu. A polícia havia bloqueado o corredor, o ar ficou pesado com fumaça, gás lacrimogêneo e spray de pimenta.

- 'Feliz em ser fotografado' -Ele tentou. então, chegar à Câmara baixa, mas se deparou com a mesma situação.

Enquanto avaliava para onde ir, ele viu manifestantes dirigindo-se ao gabinete da presidente da Câmara dos Representantes, Nancy Pelosi.

"É uma área de alta segurança, normalmente ninguém pode entrar no gabinete dela sem agendar e é comum haver policiais do Capitólio do lado de fora", acrescentou.

Dentro da sala, ele vê manifestantes usando bonés com a inscrição "Make America Great Again" (Fazer os Estados Unidos grandes de novo) - lema de campanha de Trump - tirando 'selfies', transmitido sua façanha nas redes sociais, vasculhando gavetas e afanando algumas lembrancinhas.

"Foi quando encontrei um dos manifestantes sentado numa cadeira e colocando seu pé sobre a mesa, vasculhando os documentos dela (Nancy Pelosi)", continuou.

"Muita gente viu essa foto", afirmou, referindo-se ao registro que ele fez de Richard Barnett, um ativista pró-armas originário do Arkansas.

"Ele estava feliz em ser fotografado. Ele não parecia preocupado de que seu rosto aparecesse", lembrou Loeb.

À medida que Loeb deixava o prédio, após um dia cheio, ele se surpreendeu ao descobrir que, apesar da invasão, o prédio "continuou intacto na maior parte".

"A maioria das estátuas parecia de pé, não parecia haver muitos danos nas telas ou nos objetos, o que de certa forma eu acho notável", acrescentou.

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