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Guatemala dispersa à força caravana de migrantes rumo aos EUA e culpa Honduras

18/01/2021 21h59

Vado Hondo, Guatemala, 19 Jan 2021 (AFP) - A Guatemala dispersou à força nesta segunda-feira uma caravana que reunia milhares de migrantes hondurenhos e estava posicionada desde o fim de semana em uma estrada no povoado de Vado Hondo (leste), dificultando o trajeto dos mesmos rumo aos Estados Unidos.

Um contingente policial e militar avançou sobre a multidão, que se deslocava a pé, fazendo com que muitos migrantes retrocedessem e outros corressem, dispersando-se pelo território guatemalteco.

"Não estávamos roubando, somos boas pessoas. Só queremos passar", disse Angie, uma migrante de Honduras, 21 anos, à beira das lágrimas. Assim como milhares de compatriotas, ela busca nos Estados Unidos melhores oportunidades econômicas.

Angie estava conformada em retornar à fronteira com Honduras para tentar documentar sua entrada e apresentar um teste negativo para Covid-19, requisitos que as autoridades guatemaltecas exigem para entrar no território. "Quero continuar para os Estados Unidos, não quero ficar na Guatemala", frisou.

Durante a fuga, vários migrantes tentaram atirar pedras nos policiais, que responderam disparando gás lacrimogêneo para continuar a afastá-los em direção à fronteira com Honduras, localizada a uns 50 quilômetros de distância.

Cerca de 4.000 pessoas permaneceram nesse grupo, das 9.000 que se estima terem entrado com a caravana. Outras 800 foram contidas em uma cidade vizinha, centenas se dispersaram pela área e pelo menos 1.568 pessoas voltaram para Honduras, incluindo 208 menores.

Após o tumulto, que deixou migrantes e oficiais feridos, a caravana se dissipou na fronteira e vários optaram pelo "retorno voluntário", informou Alejandra Mena, porta-voz da Migração da Guatemala.

- Diálogo esgotado -As forças de segurança agiram após esgotarem o diálogo com os migrantes, aos quais foi pedido que abrissem passagem para permitir o avanço do transporte de cargas, cujas mercadorias corriam o risco de estragar. Ao contrário, um grupo apreendeu momentaneamente três caminhões e tentou abrir caminho lentamente, constatou uma equipe da AFP, o que desencadeou a ação da polícia.

O clima já era pesado desde domingo, quando os caminhantes tentaram avançar e foram reprimidos com gases e espancados pelos militares.

"Se tivéssemos dinheiro não estaríamos indo para o norte (EUA). Eles nos tratam como cachorros, não tem que ser assim", disse outra mulher, que levava consigo duas meninas, segurando uma em cada mão.

- Sombra da Covid-19 -Os uniformizados agiram ante o risco de contágio da covid-19, conforme decreto do presidente Alejandro Giammattei, que autoriza o uso da força, recurso rejeitado por organizações de direitos humanos.

Vinte e uma pessoas do grupo que passaram pelos pontos de controle de saúde testaram positivo para o vírus e devem ficar em quarentena na Guatemala antes de retornar ao seu país, segundo o Ministério da Saúde.

Os migrantes hondurenhos alegam que fogem da violência, pobreza, do desemprego e da falta de educação e saúde, e responsabilizaram por essa situação o presidente Juan Orlando Hernández. A crise foi agravada pela pandemia e pela destruição causada pelos furacões Eta e Iota em novembro passado.

O êxodo hondurenho começou na madrugada da sexta-feira de San Pedro Sula e os caminhantes já dão sinais de cansaço. Durante o dia, uma pequena caravana de 300 salvadorenhos entrou no país sem apresentar documentos ou prova negativa de cobiça.

- Acusações -A caravana gerou tensão entre Guatemala e Honduras, a ponto de Tegucigalpa apelar ao país vizinho para a ação repressiva das forças de segurança contra os migrantes e solicitar a investigação dos fatos. A Guatemala, por sua vez, acusou Honduras de não cumprir os acordos "fechados em semanas anteriores" entre autoridades dos países do norte da América Central, México, Estados Unidos e agências da ONU para que impedisse a caravana, anunciada no começo de janeiro.

O grupo diz ter esperança em um relaxamento das políticas de imigração nos Estados Unidos após o presidente eleito, Joe Biden, tomar posse, na próxima quarta-feira. Washington descartou essa possibilidade.

"Instamos Honduras a avaliar e fortalecer as medidas de controle de fronteira e protocolos de saúde para prevenir futuras caravanas", disse Michael Kozak, vice-secretário de Estado em exercício para o Hemisfério Ocidental.

Desde outubro de 2018, mais de uma dezena de caravanas, algumas com milhares de migrantes, deixaram Honduras rumo aos Estados Unidos, mas a maioria fracassou devido à intensificação dos controles.

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