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Rússia ameaça e prende opositores antes de manifestações

22/01/2021 14h29

Moscou, 22 Jan 2021 (AFP) - As autoridades russas prenderam, nesta sexta-feira (22), novos apoiadores do opositor Alexei Navalny, na véspera de um dia de protestos que a polícia de Moscou prometeu "reprimir".

A equipe de Navalny, que está em detenção até pelo menos 15 de fevereiro e é alvo de vários processos judiciais, convocou protestos para o sábado (23) em 65 cidades russas para exigir a libertação do principal inimigo do Kremlin, reuniões "ilegais" de acordo com as autoridades.

A polícia de Moscou, onde costumam ocorrer os maiores protestos, prometeu "reprimir sem demora" qualquer reunião não autorizada, por considerar uma "ameaça à ordem pública".

As forças de choque russas são usadas para reprimir brutalmente os protestos da oposição.

E depois de prender vários colaboradores de Navalny na quinta-feira, a polícia deu continuidade às detenções nesta sexta com a coordenadora da sede do opositor em Vladivostok, no Extremo Oriente, Ekaterina Vedernikova, e uma colaboradora da sede de Novosibirsk, na Sibéria, Elena Noskovets.

Presa na quinta-feira, uma figura crescente da oposição, Liubov Sobol, foi condenada na sexta-feira a 250.000 rublos (2.750 euros, US$ 3.330) por ter convocado uma manifestação.

Por sua vez, Georgui Alburov, que participa das investigações anticorrupção de Navalni, foi condenado a 10 dias de prisão como punição.

A porta-voz da oposição, Kira Yarmish, foi sentenciada a nove dias de detenção após um julgamento que durou menos de cinco minutos na sexta-feira, segundo sua advogada Veronika Poliakova.

A equipe do opositor também informou a prisão da coordenadora de Tyumen, nos Urais, de outra colaboradora do enclave de Kaliningrado e de Serguei Boïko, cuja coalizão em Novosibirsk, na Sibéria, desafiou o partido do Kremlin nas eleições regionais de setembro.

A chefe da equipe de Navalny em Krasnodar, no sul da Rússia, Anastassia Pantchenko, também foi presa na quinta-feira.

A esposa de Navalni, Yulia, escreveu no Instagram sua intenção de se manifestar em Moscou no sábado, para a qual ela "nunca vai embora", lembrando o suposto envenenamento de seu marido em agosto e que ela imputa ao Kremlin.

- Advertências e apoios -Diante da mobilização marcada para sábado, o Kremlin, o Ministério Público e o Ministério do Interior advertiram contra a participação nos protestos, sugerindo uma possível dispersão brutal dos manifestantes.

O porta-voz de Vladimir Putin, Dmitri Peskov, reiterou nesta sexta que tais manifestações são "ilegais".

O gendarme de telecomunicações russo, Roskomnadzor, ameaçou as redes sociais com multas se não retirassem as chamadas para protestar e, em particular, alertou as plataformas Tik Tok e Vkontakte, o equivalente russo do Facebook.

A imprensa também noticiou advertências de universidades e escolas para desencorajar os alunos de protestar ou encorajar os pais a "protegerem seus filhos".

Nos últimos dias, milhares de vídeos e mensagens de apoio ao opositor têm circulado no Tik Tok, uma plataforma particularmente popular entre os adolescentes, incluindo chamadas para manifestações, conselhos para não ser preso pela polícia ou usuários se filmando substituindo o retrato de Vladimir Putin pelo de Alexei Navalny na sala de aula.

A chefe do canal de televisão estatal russo RT, Margarita Simonyan, acusou "Tik Tok, de propriedade chinesa, de tentar orquestrar uma guerra entre crianças na Rússia". Ela estimou que a empresa tinha meios de censurar esse conteúdo "em dois minutos".

Navalny também recebeu o apoio de atores, músicos e atletas, incluindo personalidades geralmente afastadas da política, como o ex-capitão da seleção de futebol russa, Igor Denisov, ou do astro da música Monetotchka, muito popular entre os jovens.

E no plano internacional, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, anunciou que havia telefonado para o presidente russo para exigir a "libertação imediata" de Navalny.

O líder europeu expressou "sérias preocupações" da UE em relação a Navalny e pediu "respeito total e incondicional por seus direitos".

Após sua prisão no domingo, Alexei Navalny contra-atacou na terça-feira publicando uma investigação sobre a enorme e suntuosa propriedade do presidente Vladimir Putin nas margens do Mar Negro, e cuja construção teria custado mais de um bilhão de dólares.

Esta manhã, a longa investigação acompanhada por um vídeo de quase duas horas já havia sido vista mais de 53 milhões de vezes no YouTube, um recorde para uma investigação de Navalny.

O opositor foi preso no dia 17 de janeiro, ao retornar de cinco meses de convalescença na Alemanha após suspeita de envenenamento, do qual acusou o Kremlin. Moscou rejeita essas acusações.

as-pop/alf/ia/mr/ap

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