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Autoridades afegãs celebram desejo dos EUA de rever acordo com talibãs

23/01/2021 14h13

Cabul, 23 Jan 2021 (AFP) - O governo Joe Biden comunicou ao Afeganistão sua vontade de rever o acordo assinado em fevereiro passado pelos Estados Unidos com o talibã, principalmente para "avaliar" o respeito dos rebeldes islamitas aos compromissos assumidos.

O conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, telefonou este sábado pela manhã (23) para o colega afegão, Hamdullah Mohib, a fim de expressar "o desejo dos Estados Unidos de que todos os líderes afegãos aproveitem esta ocasião histórica de paz e estabilidade".

Sullivan também "manifestou claramente a intenção dos Estados Unidos de reexaminarem o acordo de fevereiro de 2020 com o talibã, para, em particular, avaliar se este último honrou o compromisso de cortar todos os vínculos com grupos terroristas, reduzir a violência e manter negociações sérias com o governo afegão e outros atores", informou sua porta-voz.

Destacou, também, que os Estados Unidos pretendem apoiar os diálogos de paz em curso "com esforços diplomáticos firmes em nível regional".

Estes comentários foram recebidos com alívio neste sábado, por parte das autoridades afegãs, que aguardavam ansiosamente a posição do novo governo dos Estados Unidos sobre o tema.

"Decidimos continuar trabalhando por um cessar-fogo e por uma paz justa e duradoura em um Afeganistão democrático, capaz de preservar as conquistas das últimas duas décadas", tuitou Mohib.

"Continuaremos as negociações nos próximos dias e semanas", acrescentou.

O ministro afegão da Paz, Abdullah Khenjani, declarou-se satisfeito com o anúncio. Em um vídeo enviado para a imprensa, ele pediu que a revisão do acordo "leve ao fim imediato da violência, demandado pelo povo afegão, e a uma paz duradoura no Afeganistão".

Já o vice-ministro do Interior, Sediq Sediqqi, aproveitou as declarações de Sullivan para criticar o acordo entre Estados Unidos e os talibãs.

"O acordo não conseguiu, até o momento, acabar com a violência dos talibãs e obter um cessar-fogo", afirmou no Twitter.

"Os talibãs não estiveram à altura de seus compromissos", completou.

Os talibãs disseram, por sua vez, que estão dispostos a continuar respeitando seus compromissos no âmbito do pacto firmado com Washington.

"Esperamos que o outro lado também se comprometa a respeitar o acordo", declarou à AFP o porta-voz do braço político do grupo, Mohammad Naeem.

Na terça-feira passada, o futuro secretário de Estados americano, Antony Blinken, já havia indicado que o novo governo democrata pretende reavaliar o acordo e considerou "indispensável para preservar os avanços obtidos em favor das mulheres e meninas no Afeganistão nos últimos 20 anos".

O governo de Donald Trump fechou um acordo histórico com o talibã após 19 anos de guerra, que prevê a retirada total das forças americanas a partir de meados de 2021 em troca do compromisso dos rebeldes de não deixarem grupos terroristas agir nas áreas que controlam.

O acordo também dispõe o início das primeiras conversas de paz diretas entre os talibãs e as autoridades de Cabul. Iniciadas em setembro, elas ainda não alcançaram resultados concretos, principalmente em relação à redução da violência.

O Afeganistão também foi um dos temas centrais do primeiro telefonema entre o novo secretário de Defesa americano, Lloyd Austin, e o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Jens Stoltenberg, informou o Pentágono.

No último dia 15, o governo Trump reduziu a 2,5 mil o contingente militar dos Estados Unidos no Afeganistão, o número mais baixo desde 2001.

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