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Polarizado, Equador elege no domingo seu novo presidente

Arquivo - Um recorde de 16 candidatos competem para suceder o presidente conservador Lenín Moreno (foto) - Orlando Estrada/AFP Photo
Arquivo - Um recorde de 16 candidatos competem para suceder o presidente conservador Lenín Moreno (foto) Imagem: Orlando Estrada/AFP Photo

Em Quito

05/02/2021 07h55

O retorno da esquerda com Andrés Arauz ou uma guinada clara à direita com o ex-banqueiro Guillermo Lasso: o Equador elege no domingo (7) seu novo presidente em um ambiente polarizado e sob a sombra do ex-presidente socialista Rafael Correa.

Um recorde de 16 candidatos competem para suceder o presidente conservador Lenín Moreno, que entregará o poder em 24 de maio, após quatro anos de um governo que chegou ao poder com o apoio da esquerda e se despede respaldado por empresários e organismos financeiros com o FMI.

Mas Arauz, um economista de 35 anos, e Lasso, de 65, são os favoritos.

"Considerando como esquerda uma maior intervenção do Estado e como direita, mais mercado, encontramos os candidatos nos polos, a opção eleitoral se situa nos polos, não no centro, e isso é preocupante porque dá um resultado que é o da polarização política, não mais apenas eleitoral", disse à AFP o cientista político Simón Pachano.

O catedrático da Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais (Flacso), em Quito, acrescentou que a corrida presidencial está "exasperada, muito dura, com posições radicalmente diferentes".

Rumo ao segundo turno

Arauz, da aliança União pela Esperança (Unes, esquerda) e afilhado político de Correa, estava há uma semana à frente das intenções de voto totais, com 32%, seguido de Lasso (21%), que disputa a Presidência pela terceira vez com o movimento Creo.

Assim, parece improvável que a disputa seja definida no primeiro turno, o que exigiria que o vencedor obtivesse metade mais um dos votos válidos ou pelo menos 40% com vantagem de 10 pontos sobre o adversário mais próximo.

Haverá um "segundo turno disputadíssimo", previsto para 11 de abril, disse à AFP o diretor do instituto de pesquisas Market, Blasco Peñaherrera.

Para o cientista político Paolo Moncagatta, da privada Universidade San Francisco de Quito, o segundo turno "veria uma campanha suja, violenta, que na verdade desprestigiaria ainda mais a já desprestigiada política", que levou o Equador a ter sete presidentes entre 1996 e 2007, três deles destituídos em revoltas sociais.

Ele não descarta, no entanto, uma decisão no primeiro turno. "Sempre há uma possibilidade, sobretudo levando-se em conta um grande percentual de indecisos", disse Moncagatta à AFP.

Outro dos principais presidenciáveis é o ambientalista de esquerda Yaku Pérez, que aparece com 12% das intenções de voto e teria uma votação "considerável" para o movimento do qual se originou, mas insuficiente para ser finalista.

Os outros 13 aspirantes, entre eles a ex-membro da Assembleia Ximena Peña, única mulher na disputa e candidata do enfraquecido partido governista Aliança País (AP), aparecem muito longe, com menos de 4% e alguns até mesmo abaixo de 1%.

Estas serão as primeiras eleições gerais desde o fim do governo de Correa (2007-2017). O ex-presidente, que mora na Bélgica desde que deixou o cargo, está inabilitado para cargos públicos no Equador após ter sido condenado a oito anos de prisão por corrupção em 2019.

Seu ex-vice-presidente Jorge Glas (2013-2017) e vários de seus ex-ministros estão na prisão cumprindo penas pelo mesmo delito.

Os "traços" de Correa

Apesar da ausência de Correa, as eleições presidenciais serão celebradas à sombra da disputa entre Moreno e seu antecessor e ex-aliado, que nos últimos quatro anos mergulhou a AP, no poder desde 2007, em uma crise.

Moreno chegou ao poder impulsionado por Correa, de quem foi vice entre 2007 e 2013. Mas depois de assumir o poder em 2017, distanciou-se do ex-chefe de Estado por não compartilhar com suas posições, como a de enfrentar a imprensa, os bancos e os empresários, e deu uma guinada, retomando os vínculos com os Estados Unidos, país do qual o antecessor foi um duro crítico.

A credibilidade e a aprovação à gestão de Moreno caíram de quase 70% no começo de seu mandato a 7% em novembro, segundo a consultoria Cedatos.

Uma vitória de Arauz acabaria com qualquer traço da direita na administração de Moreno, a quem o correísmo chama de "traidor".

"O modelo político e econômico do país não será exatamente do correísmo, mas sim, terão os traços fundamentais dos dez anos do ex-presidente Correa", disse à AFP o cientista político Santiago Basabe, também da Flacso.

No domingo, cerca de 13,1 milhões dos 17,5 milhões de habitantes do Equador também vão eleger os 137 membros da Assembleia Nacional (unicameral), na qual o próximo governo carecerá de maioria, devido à fragmentação das forças políticas, que poderiam consolidar uma frente de oposição.

O Equador irá às urnas afetado pela pandemia de covid-19, que deixa prejuízos acima de 6,4 bilhões de dólares, agravando sua crise financeira e o desemprego, que foi de 8,59% em setembro passado.

Sua economia dolarizada sofrerá em 2020 um decrescimento de 8,9%.