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Governo do Haiti diz ter frustrado tentativa de golpe e assassinato do presidente

Manifestantes e forças de segurança entram em confronto durante protesto contra o presidente haitiano, Jovenel Moïse, em Porto Príncipe (Haiti) - Valerie Baeriswyl/AFP
Manifestantes e forças de segurança entram em confronto durante protesto contra o presidente haitiano, Jovenel Moïse, em Porto Príncipe (Haiti) Imagem: Valerie Baeriswyl/AFP

07/02/2021 20h37Atualizada em 08/02/2021 07h31

Porto Príncipe, 7 Fev 2021 (AFP) - Autoridades haitianas informaram neste domingo (7) ter frustrado uma "tentativa de golpe" de Estado contra o governo do presidente Jovenel Moise, que teria sido alvo de um atentado igualmente malsucedido em meio a controvérsias sobre o fim do seu mandato.

Esse plano foi uma "tentativa de golpe de Estado", segundo o ministro da Justiça haitiano, Rockefeller Vincent. Outras fontes oficiais disseram que 23 pessoas foram detidas, entre elas um juiz e uma oficial da polícia nacional.

"Agradeço ao responsável pela minha segurança e pela do palácio. O sonho dessa gente era atentar contra minha vida. Graças a Deus isso não ocorreu. O plano foi abortado", disse Moise.

O presidente disse ter havido uma tentativa de atentado contra a sua vida, mas que o plano "foi abortado".

O presidente, que está sendo pressionado pela oposição, falou no aeroporto de Porto Príncipe, capital do país, acompanhado de sua esposa e do primeiro-ministro, Joseph Jouthe.

Jouthe afirmou que os conspiradores entraram em contato com policiais no palácio presidencial que planejavam prender Moise e ajudar a instalar um presidente de "transição".

Vinte e três pessoas foram presas pelas autoridades, incluindo um juiz do Tribunal de Cassação e uma inspetora da polícia nacional, disse Jouthe a jornalistas.

O presidente governa sem o controle do Legislativo desde o ano passado e diz que se manterá no cargo até 7 de fevereiro de 2022, em uma interpretação da Constituição rejeitada pela oposição, o que gerou protestos por alguns que consideram que seu mandato termina neste domingo.

Segundo Leon Charles, diretor da polícia nacional do Haiti, os policiais apreenderam documentos, dinheiro e várias armas, incluindo rifles de assalto, uma submetralhadora Uzi, pistolas e facões.

Jouthe acrescentou que entre os documentos estava um discurso do juiz que planejava se tornar o líder interino em um governo de transição.

Oposição nomeia líder de transição

Os partidos de oposição no Haiti nomearam no domingo um líder de transição ante o questionado presidente Jovenel Moïse, acusado de prolongar ilegalmente seu mandato por um ano.

Em uma mensagem de vídeo, o juiz Joseph Mécène Jean-Louis, 72 anos, membro do Tribunal de Cassação desde 2011, leu um breve discurso no qual afirmou que aceita "a escolha da oposição e da sociedade civil para poder servir ao país como presidente interino da transição".

O ato aconteceu poucas horas depois de a oposição política, o Poder Judiciário e muitas organizações da sociedade civil terem anunciado que consideravam o domingo o último dia de mandato de Jovenel Moïse.

Moïse afirma que seu mandato como presidente do Haiti vai até 7 de fevereiro de 2022. A divergência sobre a data surgiu porque Moïse foi eleito em uma votação que foi anulada por fraude e venceu uma nova eleição um ano depois.

"Estamos esperando que Jovenel Moïse abandone o palácio nacional para poder proceder a posse de Mécene Jean-Louis", declarou à AFP o líder opositor André Michel.

Protestos contra o governo

Os Estados Unidos aceitaram na sexta-feira (5) a posição de Moise. O porta-voz do Departamento de Estado, Ned Prince, disse que Washington pediu "eleições legislativas livres e justas para que o Congresso possa retomar o poder que lhe corresponde".

A disputa sobre o fim do mandato é consequência da primeira eleição de Moise. Em outubro de 2015, ele foi eleito para um mandato de cinco anos em eleições cujo escrutínio foi cancelado por fraudes e depois voltou a ser eleito um ano depois.

Este ano deviam ser realizadas eleições legislativas e municipais, mas as mesmas foram adiadas, o que gerou um vácuo de poder e Moise diz estar habilitado para continuar no cargo por mais um ano.

Após as disputadas eleições, os protestos da oposição para exigir sua renúncia se intensificaram no verão de 2018.

Nos últimos anos, a sociedade civil fez campanha contra a corrupção e a insegurança, com a proliferação de gangues em todo o país.

Em carta difundida na sexta-feira, diversas organizações de defesa dos direitos humanos e civis criticaram a missão da ONU no Haiti por dar apoio técnico e logístico aos planos do presidente de celebrar um referendo constitucional em abril e depois eleições presidenciais e legislativas.

"Em nenhuma circunstância as Nações Unidas devem apoiar os planos antidemocráticos do presidente Jovenel Moise", destacou a mensagem.