Senado dos EUA dá início a segundo julgamento político de Donald Trump
Washington, 9 Fev 2021 (AFP) - O Senado dos Estados Unidos iniciou o segundo julgamento político de Donald Trump nesta terça-feira (9), com uma apresentação dos acusadores democratas argumentando que o ex-presidente deveria ser condenado pelos fatos "claros e sólidos" relacionados com o violento ataque ao Congresso no mês passado.
Acusado de "incitação à insurreição", o ex-presidente republicano, que deixou o poder em 20 de janeiro e agora reside na Flórida, não comparecerá para testemunhar.
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E é muito provável que acabe sendo absolvido pela Câmara Alta, como ocorreu há um ano.
Em silêncio, os congressistas democratas que atuam como promotores no processo, cruzaram os mesmos corredores do Capitólio, sede do Congresso, para o Senado, cenário da invasão dos manifestantes pró-Trump em 6 de janeiro, semeando o caos e forçando a evacuação dos legisladores.
Em uma situação inédita, os 100 senadores que atuam como jurados foram testemunhas e vítimas do atentado. Depois de uma oração, eles tomaram seus lugares neste processo duplamente histórico. É a primeira vez que um ex-presidente dos EUA é sujeito a impeachment.
E em 13 de janeiro, o magnata do mercado imobiliário se tornou o primeiro inquilino da Casa Branca a ser indiciado duas vezes na Câmara dos Representantes. Ele já o tinha sido após ser acusado de pressionar a Ucrânia para prejudicar seu então adversário Biden, um processo do qual foi absolvido em 5 de fevereiro de 2020.
Jamie Raskin, o democrata que lidera a acusação, disse que o caso é baseado em fatos "claros e sólidos" e postou um vídeo de 10 minutos para argumentar que o ex-presidente encorajou a invasão do Capitólio, que deixou cinco mortos.
O vídeo mostrou trechos das cenas de caos e declarações ferozes de Trump a seus apoiadores, reunidos em um comício em Washington pouco antes do Congresso se reunir para certificar formalmente a vitória de seu rival democrata Joe Biden na eleição presidencial.
"Lutem como o demônio", disse Trump, pouco antes do tumulto no templo da democracia americana.
Tropas da Guarda Nacional nos corredores e altas barreiras protegiam o Capitólio nesta terça em medidas de segurança sem precedentes que relembram a violência do ataque.
- Pressa -Acusação "absurda" contra provas "avassaladoras": os advogados do ex-presidente republicano e os democratas encarregados da acusação já deram o tom dos debates durante o julgamento.
A Constituição exige maioria de dois terços para um veredicto de culpado. E enquanto os senadores republicanos criticaram o papel do 45º presidente dos Estados Unidos no episódio violento, parece improvável que 17 deles se juntem aos 50 senadores democratas na condenação de Trump, ainda muito popular na base de seu partido.
Uma coisa é certa: os dois lados têm pressa: os republicanos porque não querem estagnar em um caso que divide suas fileiras e os democratas porque querem que o Senado possa se concentrar rapidamente na aprovação das nomeações e projetos do presidente Joe Biden.
Portanto, uma votação final pode ocorrer no início da próxima semana.
Apresentando-se como um "unificador" de uma América altamente polarizada, Biden teve o cuidado de evitar esse procedimento.
O presidente não vai comentar os argumentos nem assistir às audiências, enfatizou mais uma vez a porta-voz da Casa Branca Jen Psaki nesta terça-feira.
- Processo "absurdo" -Um debate jurídico sobre a constitucionalidade do processo acontecerá na abertura do julgamento: cada lado terá duas horas para apresentar seus argumentos e os senadores votarão em seguida para decidir se têm competência para julgar Trump.
Devido ao controle democrata na Câmara Alta, é provável que o julgamento prossiga.
Este ponto está no centro dos argumentos dos advogados de Trump, David Schoen e Bruce Castor, que consideram "absurdo e inconstitucional iniciar um processo de impeachment contra um cidadão comum". Um argumento repetido por vários senadores republicanos.
"É nosso dever constitucional solene realizar um impeachment justo e honesto das acusações contra o ex-presidente Trump, as acusações mais graves já feitas contra um presidente americano na história dos Estados Unidos", declarou o líder da maioria democrata, Chuck Schumer, no início do processo.
Nos argumentos apresentados na segunda-feira, os democratas que lideram a acusação afirmam que existem "provas avassaladoras" da culpa do ex-presidente, que foi responsável, segundo eles, pelo "delito constitucional mais grave que já foi cometido por um presidente americano".
Eles recordam como Trump se negou a reconhecer a derrota para Biden, denunciando - sem qualquer prova - fraudes eleitorais.
"Desta forma, ele acendeu a chama da insurreição", insistiram os 'promotores' democratas nesta terça-feira.
Para seus advogados, "Trump não incitou nenhuma pessoa a cometer atos ilegais". Dizer que poderia ser responsável pela violência de um "pequeno grupo de criminosos" que "o interpretou absolutamente mal" é "simplesmente absurdo", escreveram na segunda-feira.
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