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Após absolvição de Trump, republicanos enfrentam luta por 'alma do partido'

27.set.2020 - O então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante coletiva na Casa Branca - Brendan Smialowski/AFP
27.set.2020 - O então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, durante coletiva na Casa Branca Imagem: Brendan Smialowski/AFP

14/02/2021 17h20

Um dia depois que o Senado absolveu Donald Trump em um histórico segundo julgamento de impeachment, os Estados Unidos debatem por quanto tempo o ex-presidente fará sombra sobre o Partido Republicano e também sobre o país.

Aos olhos de grande parte do mundo, o Senado votou 57-43 no sábado para condenar Trump por incitar o ataque em 6 de janeiro ao Capitólio dos Estados Unidos.

Foi uma conquista para os democratas, já que sete republicanos se juntaram a eles na votação de impeachment mais bipartidária da história. Mas não foi suficiente: eles não tiveram os 67 votos necessários para uma condenação.

A dura divisão interna que assola o Partido Republicano em relação ao polêmico ex-presidente foi exposta.

Enquanto alguns membros dizem que é hora de virar a página, Trump insinuou um possível futuro político.

Um crítico frequente de Trump, o governador Larry Hogan, de Maryland, previu neste domingo que uma "verdadeira batalha pela alma do Partido Republicano" se aproximava.

"Isso não acabou", disse o governador republicano à CNN, acrescentando que teria votado para condenar Trump se tivesse a opção.

'Mais do que uma pessoa'

O senador Bill Cassidy, da Louisiana, um dos sete republicanos que votaram a favor da condenação, previu neste domingo que o domínio ainda forte de Trump sobre os republicanos irá desaparecer.

"Acho que sua força está diminuindo. O Partido Republicano é mais do que apenas uma pessoa. Acho que nossa liderança será diferente no futuro", declarou Cassidy ao programa This Week, da ABC.

Vários republicanos, incluindo aqueles que votaram pela absolvição de Trump, expressaram consternação com o papel que o ex-presidente desempenhou na violência ocorrida em 6 de janeiro e nas semanas anteriores.

Em várias ocasiões, Trump alimentou a raiva dos seus apoiadores com falsas alegações de que as eleições de novembro haviam sido fraudadas.

Mas um dos defensores ferrenhos do ex-presidente, o senador Lindsey Graham, da Carolina do Sul, insistiu neste domingo que Trump, com seus fervorosos apoiadores, manterá um enorme papel político nas eleições de 2022 (a meio termo das eleições presidenciais de 2024), e chamou Trump de "o membro mais vibrante do Partido Republicano".

Apesar da absolvição de Trump, os democratas insistiram neste domingo que haviam alcançado uma vitória moral e política que abre caminho para o novo presidente Joe Biden avançar rapidamente por uma agenda ambiciosa, começando com seu plano de recuperação da pandemia de 1,9 trilhão de dólares.

Incerteza

Trump flerta com a ideia de concorrer à Casa Branca novamente em 2024, algo que ele não poderia fazer se tivesse sido condenado no sábado.

A mera sugestão de uma possível candidatura o manterá nas conversas políticas e permitirá que Trump continue arrecadando grandes quantias de dinheiro.

Vários republicanos se distanciaram do ex-presidente. Entre eles, 10 parlamentares da Câmara dos Deputados que votaram a favor do processo de impeachment e vários dos que estão na fila para tentar a candidatura presidencial em 2024.

Mas os republicanos que se opuseram abertamente a Trump enfrentaram duras retaliações das bases do partido. Muitos temem que o ex-presidente continue no poder e siga tentando se vingar dos críticos.

Trump tem uma longa lista de incógnitas para o futuro. Ele perdeu o megafone que o Twitter lhe fornecia anteriormente, ao ter sua conta suspensa. Também não está claro se Trump voltará a organizar os grandes comícios com os quais ganhou popularidade e, se isso acontecer, se eles atingirão os mesmos níveis de entusiasmo entre a população.

O líder republicano do Senado, Mitch McConnell — que votou contra a condenação argumentando que um ex-presidente não poderia ser cassado — identificou outro grande desafio para Trump no sábado.

Em um ataque fulminante desde o plenário do Senado após a votação, McConnell disse: "não há dúvida nenhuma de que o presidente Trump é prática e moralmente responsável por causar os eventos" de 6 de janeiro.

McConnell essaltou que Trump, agora um civil, enfrenta vulnerabilidade legal em uma série de questões que vão de problemas fiscais levantadas por seus vastos ativos financeiros a alegações de agressão sexual. "Ele não se livrou de nada ainda", lembrou McConnell.

Os democratas atacaram McConnell por lançar tais críticas somente depois de votar por sua absolvição.

Ainda assim, como o líder de fato do partido, McConnell parecia determinado a anular qualquer futuro político para Trump e reconduzir os republicanos para suas inclinações mais tradicionais.

Trump se isolou em seu clube de golfe na Flórida desde que deixou o cargo em 20 de janeiro.

Em seu pronunciamento no sábado, o magnata comemorou o veredicto, denunciando o processo como "mais uma fase da maior caça às bruxas" da história do país.

Em seguida, acrescentou: "Temos muito trabalho pela frente e em breve teremos uma visão de um futuro americano brilhante, radiante e ilimitado".