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Governo Biden corre para salvar acordo nuclear iraniano

14/02/2021 14h14

Resumo da notícia

  • Governo dos Estados Unidos precisa definir uma estratégia para retomar acordo que foi abandonado por Trump
  • Lei aprovada pelo Parlamento iraniano diz que em 21 de fevereiro Teerã não estará mais sujeita a regime estrito de inspeções internacionais
  • Em junho, eleições iranianas também podem complicar negociações se a linha dura vencer.

Com o relógio contra o tempo, o governo do presidente dos Estados Unidos precisa definir uma estratégia para salvar o acordo nuclear iraniano, que fora abandonado pelo ex-presidente Donald Trump.

Uma posição precisa ser tomada rapidamente porque dentro de uma semana, as autoridades iranianas devem alcançar um marco que preocupa observadores e demais signatários do acordo - China, Rússia, Alemanha, França e Reino Unido. De acordo com uma lei aprovada pelo Parlamento controlado pelos conservadores, em 21 de fevereiro Teerã não estará mais sujeita ao regime estrito de inspeções internacionais.

Veja abaixo os principais pontos que envolvem essa negociação.

"Respeito total em troca de respeito total": é assim que o democrata resume seu retorno condicional ao acordo de 2015, que deveria impedir o Irã de adquirir armas nucleares. Em outras palavras, ele está disposto a assinar novamente o acordo e, assim, suspender as sanções draconianas impostas por seu antecessor republicano. Mas só quando Teerã voltar a assumir as restrições nucleares previstas no texto.

No entanto, a República Islâmica, que começou a ignorar esses compromissos precisamente em resposta às sanções dos EUA, exige que Washington suspenda todas essas medidas punitivas primeiro.

"A maioria das violações" do acordo até agora pelo Irã, especialmente na área de enriquecimento de urânio, "pode ser revertida rapidamente", disse Kelsey Davenport da Associação de Controle de Armas. Vários especialistas sugerem um período de menos de três meses.

"Mas as violações que o Irã planejou para os próximos meses são mais graves" e "mais difíceis de reverter", alerta Davenport. Começando com inspeções, porque "qualquer perda de acesso" a sites iranianos "alimentará especulações sobre as atividades ilícitas do Irã".

E em junho, as eleições iranianas também podem complicar as coisas se a linha dura vencer.

Como o dia 21 de fevereiro está se aproximando rapidamente, "é imperativo que a diplomacia comece", disse um ex-diplomata da União Europeia (UE) está preocupado. Para ele, "os próximos 10 dias serão cruciais para saber" se for "possível convencer o Irã a renunciar" a esta nova violação.

"O objetivo é garantir que esse limite não seja ultrapassado até lá", concorda uma fonte europeia, destacando que também seria uma "linha vermelha para Rússia e China".

Jon Wolfsthal, que assessorou Biden nesses assuntos quando ele era vice-presidente, garante que Estados Unidos e Irã "estão considerando, antes do dia 21, uma declaração que mostra a intenção mútua de voltar a respeitar o acordo".

O diálogo é possível?

"Não estamos estabelecendo nenhum prazo específico", disse o porta-voz diplomático dos EUA Ned Price, quando questionado na sexta-feira sobre o prazo final de 21 de fevereiro.

Oficialmente, o governo Biden, que nomeou Rob Malley - um dos arquitetos americanos do texto de 2015 - como emissário do Irã, está se concentrando no momento em contatar seus aliados europeus e outros signatários. O diálogo direto com Teerã, após o fim da era Trump, ocorreria em uma segunda etapa.

Quais são as opções?

Thomas Countryman, que foi subsecretário de Estado no governo Obama-Biden, acredita que o presidente dos Estados Unidos poderia suspender, por decreto, "certas sanções para demonstrar sua boa vontade".

A direita norte-americana, como alguns democratas, não é a favor de retomar o diálogo e exortam Biden a não fechar o acordo sem garantias concretas.

Outra opção, segundo o especialista, seria uma "declaração recíproca de intenções de Teerã e Washington de retomar integralmente o acordo", antes de uma negociação sobre as modalidades e o cronograma.

O chefe da diplomacia iraniana, Mohammad Javad Zarif, sugeriu que a UE desempenhe um papel na "coreografia" do diálogo dos dois países inimigos.

Observadores apontam outros gestos dos Estados Unidos em relação a Teerã para restaurar a confiança, como ajuda com vacinas contra covid-19, assistência humanitária ou garantias econômicas, como o desbloqueio do pedido iraniano de empréstimo ao Fundo Monetário Internacional.