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Draghi conquista confiança do Senado para 'reconstruir' Itália

17/02/2021 21h47

Roma, 18 Fev 2021 (AFP) - O novo primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, obteve nesta quarta-feira (17) o voto de confiança do Senado para seu programa de reconstrução do país, atingido pela crise sanitária e econômica, e a promessa de "combater a pandemia por todos os meios".

Draghi obteve 262 votos a favor, 40 contra e 2 abstenções, confirmando assim a maioria parlamentar. A Câmara dos Deputados fará sua votação de confiança nesta quinta-feira, última etapa para dar plena legitimidade ao novo governo.

"O principal dever para o qual fomos chamados, em particular o meu como presidente do Conselho de Ministros, é combater a pandemia por todos os meios e salvar as vidas dos nossos cidadãos", sublinhou Draghi na apresentação do seu programa.

O discreto novo primeiro-ministro italiano, de 73 anos e que recebeu uma educação jesuíta, substituiu Giuseppe Conte no sábado, forçado a renunciar após a implosão de sua coalizão, enquanto o país se aproxima de 100.000 mortos pela pandemia e registra no ano passado uma dos piores recessões econômicas na zona euro (-8,9%).

Draghi reconheceu que seu primeiro desafio será lutar contra a pandemia do coronavírus e cuidar daqueles que perderam seus empregos.

Cerca de 1,3 milhão dos 60 milhões de italianos foram vacinados contra a covid-19.

"Depois de recebermos quantidades suficientes de vacinas, nosso primeiro desafio é distribuí-las de forma rápida e eficiente", afirmou o primeiro-ministro.

"O vírus é inimigo de todos. Chega de rivalidades", continuou, referindo-se ao clima político na Itália, marcado por divisões e vetos cruzados entre as forças políticas.

O ex-presidente do Banco Central Europeu (BCE) também defendeu uma "União Europeia mais integrada que conduza a um orçamento público comum, capaz de sustentar os Estados membros em períodos de recessão" e reiterou que o euro "é irreversível", em um claro alerta ao partido de extrema direita de Matteo Salvini, que apoia o governo, mas nos últimos dias questionou a moeda europeia.

"Sem a Itália não há Europa", afirmou Draghi, liderando uma coalizão heterogênea que vai da esquerda à extrema direita de Salvini. "Hoje a unidade não é uma opção, a unidade é um dever", reiterou.

A terceira maior economia da Eurozona, que perdeu 440.000 empregos em 2020, depende em grande parte do fundo extraordinário concedido pela União Europeia de mais de 200 bilhões de euros para a reconstrução do país. O programa detalhado deve ser apresentado em abril.

- "Equilíbrio frágil" -"Teremos à nossa disposição cerca de 210 bilhões de euros num período de seis anos. Estes recursos terão de ser gastos na melhoria do potencial de crescimento da nossa economia", disse Draghi em discurso, no qual destacou algumas prioridades, como energia renovável, combate à poluição do ar e da água, ferrovia de alta velocidade, produção e distribuição de hidrogênio, digitalização e tecnologia 5G.

"É nossa missão como italianos deixar um país melhor e mais justo para nossos filhos e netos", lembrou.

Draghi também anunciou que deseja "fortalecer" as relações "estratégicas" com a França e a Alemanha.

Durante um segundo discurso na noite de terça-feira, Draghi defendeu um "mecanismo de redistribuição compulsória para migrantes" entre diferentes países europeus.

A Itália, sendo uma das portas de entrada de milhares de migrantes, há anos pede a renegociação dos tratados comunitários para que o país de chegada não tenha a responsabilidade de processar os pedidos de asilo dos viajantes sem documentos.

Apesar do apoio de boa parte da esfera política italiana, Draghi e seu governo não terão vida fácil pela frente.

Um exemplo: a polêmica que estourou no último fim de semana, iniciada pela direita contra o ministro da Saúde, Roberto Speranza (esquerda), depois da proibição da reabertura das pistas de esqui em curto prazo devido ao surgimento de novas variantes do coronavírus.

"Temos um governo muito forte do ponto de vista da competência dos ministros, mas com um equilíbrio político muito frágil", resumiu à AFP a analista Teresa Coratella, do Conselho Europeu de Relações Exteriores.

kv/mar/fp/am