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Embaixador de Mianmar na ONU denuncia militares após novo dia de protestos

Embaixador de Mianmar na ONU denuncia militares após novo dia de protestos - Ye Aung Thu/AFP
Embaixador de Mianmar na ONU denuncia militares após novo dia de protestos Imagem: Ye Aung Thu/AFP

26/02/2021 21h49

O embaixador de Mianmar na ONU, Kyaw Moe Tun, expressou nesta sexta-feira (26) oposição direta aos militares e exigiu "o fim do golpe", depois que este país do sudeste asiático vivenciou outro dia de tensos protestos.

"Precisamos da ação mais enérgica possível da comunidade internacional para colocar um fim imediatamente no golpe militar", afirmou com a voz trêmula perante a Assembleia Geral, em uma sessão especial sobre Mianmar.

"Mostraremos aos militares (birmaneses) que suas ações terão consequências", disse a embaixadora dos Estados Unidos na ONU, Linda Thomas-Greenfield.

Essas críticas coincidiram com a intervenção das forças de segurança birmanesas que dispersaram nesta sexta-feira em Yangon centenas de manifestantes que exigiam o retorno da democracia e a libertação de Aung San Suu Kyi, em um novo dia de tensões.

Mianmar continua mergulhada em uma onda de protestos, com manifestações que levaram centenas de milhares de pessoas às ruas, desde que os militares tomaram o poder em 1º de fevereiro.

Polícia atira pedras

A polícia e o exército intervieram com rigor em algumas localidades, mas em Yangon, a capital econômica, até agora tinham conseguido dispersar os protestos com importantes contingentes, sem o uso excessivo da força.

No entanto, nesta sexta, os agentes da tropa de choque foram de encontro aos manifestantes, embora a maioria deles estivesse sentada no chão e repetisse lemas a favor da democracia.

Segundo a imprensa, mais de 31 pessoas foram presas em Yangon, entre elas um jornalista japonês independente, que "levou um golpe na cabeça com um cassetete, mas usava um capacete", relatou o assistente do jornalista no Facebook.

Os manifestantes ergueram barricadas com mesas e arame farpado para barrar a intervenção policial.

"O fracasso da ditadura é a nossa causa, nossa causa!", gritavam os manifestantes.

Também houve protestos em Mandalay, a segunda cidade mais populosa do país.

Milhares de pessoas se concentraram no centro da cidade, muitas vestidas de branco e usando máscaras e chapéus vermelhos, cor da Liga Nacional para a Democracia (LND), o partido de Aung San Suu Kyi.

Ao final do protesto, a polícia usou estilingues para atirar pedras contra os manifestantes. Cinco deles ficaram feridos, um deles gravemente, informou o médico Thet Htay.

Segundo uma emissora pública, 39 pessoas foram presas em Mandalay e 25 em Naipyidó, a capital.

"Reverter essa situação inadmissível"

Em Yangon, o clima está tenso desde a quinta-feira, quando foi autorizada uma concentração pró-militar em uma região do centro da cidade que no geral fica vetada às manifestações.

O número de mortos desde o golpe de Estado subiu para cinco e são 720 os detidos desde então, segundo uma associação de ajuda aos presos políticos, inclusive um economista australiano, Sean Turnell, assessor de Aung San Suu Kyi.

De acordo com o jornal estatal Mirror Daily, as forças de segurança usaram granadas de dispersão e atiraram munição real para o alto para dispersar os protestos.

A enviada da ONU à Mianmar, Christine Schraner Burgener, condenou "energicamente" as ações recentes das forças militares, incluindo seu uso "inaceitável" de força letal, perante a Assembleia Geral da ONU.

"Não há justificativa para as ações dos militares e devemos continuar pedindo para reverter essa situação inadmissível, esgotando todos os canais bilaterais e multilaterais para voltar a encaminhar Mianmar no rumo da democracia", disse Burgener nesta sexta na Assembleia Geral das Nações Unidas, em videoconferência.

Além disso, o embaixador birmanês na ONU, Kyaw Moe Tun, expressou uma oposição categórica aos militares e exigiu o fim do golpe de Estado.

"Precisamos da ação mais enérgica possível da comunidade internacional para pôr fim imediatamente ao golpe militar", disse, com voz embargada, à Assembleia Geral.

A União Europeia e os Estados Unidos já tinham aumentado a pressão sobre a junta com o anúncio no começo desta semana de novas sanções econômicas contra líderes do governo militar.