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Rei emérito Juan Carlos pagou quase EUR 4,4 milhões ao fisco espanhol

26/02/2021 09h41

Madri, 26 Fev 2021 (AFP) - O rei emérito Juan Carlos I, exilado em Abu Dhabi e cercado por investigações judiciais, pagou de forma voluntária ao fisco espanhol quase 4,4 milhões de euros (5,3 milhões de dólares) para regularizar sua situação, informou nesta sexta-feira (26) seu advogado, uma operação para evitar um processo judicial, mas que desgasta ainda mais a imagem da monarquia.

"Juan Carlos me deu instruções para que tornar público que procedeu a apresentação (...) de uma declaração sem requerimento prévio de qualquer tipo, da qual resultou uma dívida tributária, já paga, de 4,395 milhões de euros", afirmou o advogado em um comunicado, que confirma informações da imprensa.

O pagamento pretende liquidar os impostos que o ex-chefe de Estado (1975-2014) deveria ter pago pelos voos em jatos particulares que foram financiados por uma fundação com sede em Liechtenstein pertencente a um de seus primos.

Esta é a segunda vez que o rei emérito, de 83 anos, faz um pagamento para liquidar dívidas fiscais.

Em dezembro, ele pagou 680.000 euros (820.000 dólares) ao fisco, uma regularização vinculada a uma investigação anticorrupção vinculada ao uso pelo rei emérito de cartões de créditos pagos por contas de terceiros: um empresário mexicano e um coronel da Aeronáutica espanhola.

Se não tivesse feito o pagamento, ele poderia ter cometido lavagem de dinheiro, em fatos que também teriam ocorrido após 2014, data a partir da qual perdeu a imunidade como chefe de Estado por abdicação.

Regularizando sua situação junto ao fisco, o rei emérito pretende evitar processos judiciais. Mas a Justiça, que deve ainda determinar a origem dos fundos usados para a liquidação, ainda não se pronunciou.

No exílio desde agosto nos Emirados Árabes, em meio a crescentes suspeitas sobre a origem de sua fortuna, Juan Carlos está envolvida em três investigações judiciais.

A principal delas, aberta pela justiça espanhola depois de uma investigação iniciada pela justiça da Suíça, busca determinar se o então monarca recebeu uma comissão pela atribuição a um consórcio de empresas espanholas em 2011 de um contrato de trem de alta velocidade na Arábia Saudita.

A investigação decorre de uma informação divulgada pelo jornal suíço La Tribune de Genève sobre uma transferência de 100 milhões de dólares do rei saudita Abdullah para Juan Carlos em 2008, em uma conta bancária em Genebra. O rei enviou posteriormente 65 milhões de euros (US$ 77 milhões) para sua ex-amante, Corinna Larsen, em um paraíso fiscal.

Outra investiga uma suposta lavagem de dinheiro, ligada, segundo a imprensa espanhola, a uma estrutura com milhões de euros em paraísos fiscais.

Para a cientista política da Universidade de Zaragoza, Cristina Monge, esta nova regularização fiscal "volta a manchar a sua imagem", poucos dias depois de Juan Carlos não comparecer na terça-feira à cerimônia oficial do 40º aniversário do golpe de Estado fracassado de 23 de fevereiro de 1981, que abriu o caminho democrático na Espanha.

Juan Carlos desempenhou um papel fundamental para abortar a tentativa, forjando sua imagem de "rei da democracia", muito distante dos escândalos que obscureceram a fase final de seu reinado.

Em um plano mais político, as novas notícias sobre Juan Carlos podem "complicar" a relação do Partido Socialista (PSOE) de Pedro Sánchez com seu parceiro minoritário no governo, a esquerda radical do Podemos, segundo Monge.

Preocupado com as revelações sobre o rei emérito e o seu impacto na opinião pública, "o PSOE tem uma posição de partido de Estado" e é prudente nas suas posições, aponta a cientista política.

"Ele ainda é um cidadão que tem que prestar contas", mas em todo caso não é uma "boa notícia", avaliou nesta sexta a vice-presidente do governo, a socialista Carmen Calvo.

Podemos, um partido abertamente republicano, não poupou críticas.

"É uma vergonha que o rei emérito continue a pagar milhões 'voluntariamente' ao Tesouro que ele deveria ter declarado anos atrás", disse um de seus deputados, Gerardo Pisarello, para quem a Justiça está "consentindo grosseiramente com sua impunidade".

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