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Mianmar demite embaixador na ONU por pedir fim do golpe militar

27/02/2021 16h39

Yangon, 27 Fev 2021 (AFP) - A junta militar no poder em Mianmar destituiu neste sábado seu embaixador na ONU, que havia pedido o "fim do golpe" no país asiático, onde a repressão a protestos por democracia continua.

"Não seguiu aos ordens, nem as diretrizes do Estado, e traiu o país. Por isso, é retirado do cargo hoje", anunciou na noite deste sábado a TV estatal, referindo-se ao embaixador Hyaw Tun.

Uma onda de protestos sacode o país desde o golpe militar que derrubou a dirigente civil Aung San Suu Kyi em 1º de fevereiro. Autoridades aumentaram gradualmente o uso da força para dispersar os manifestantes, com gás lacrimogêneo, jatos d'água, balas de borracha e, em alguns casos, munição real.

O embaixador havia pedido ontem, em discurso emocionado, o "fim do golpe militar", depois que a polícia dispersou os manifestantes em três cidades importantes do país. Quase 100 pessoas foram detidas na sexta-feira, 31 delas em Yangon.

"Precisamos da ação mais enérgica possível da comunidade internacional para colocar um fim imediatamente ao golpe de Estado militar, acabar com a opressão das pessoas inocentes e devolver o poder do Estado ao povo", declarou Kyaw Moe Tun durante uma sessão especial da Assembleia Geral dedicada a Mianmar.

Em poucas frases em birmanês, ele pediu aos "irmãos e irmãs" que continuem a luta contra a junta. "Esta revolução deve vencer", afirmou, com três dedos levantados, o gesto de união dos manifestantes, ao final de seu discurso, que durou 12 minutos e foi muito aplaudido.

O anúncio da demissão do ministro foi feito após um novo dia de repressão e prisão de manifestantes, no momento em que o país entra na quarta semana de mobilização contra o golpe de Estado militar.

- Centenas de prisões -

Neste sábado, a polícia usou balas de borracha para dispersar uma manifestação no cruzamento Myaynigone, em Yangon, que havia sido cenário de um grande confronto na véspera. "O que a polícia está fazendo? Está protegendo um ditador louco!", gritaram os manifestantes.

Centenas de manifestantes da etnia Mon se reuniram para celebrar sua data nacional, aos quais se uniram outros grupos étnicos para protestar contra o golpe de Estado. Os manifestantes, muitos deles usando máscaras de gás, capacetes e escudos improvisados, montaram barricadas nas ruas próximas, para conter os agentes. Repórteres locais transmitiram as cenas caóticas ao vivo no Facebook, incluindo os momentos em que os tiros foram ouvidos.

Ao menos 20 pessoas foram detidas, incluindo três jornalistas: um fotógrafo da agência americana Associated Press, um cinegrafista e um fotógrafo das agências Myanmar Now e Myanmar Pressphoto, respectivamente.

Na cidade de Monywa, centro do país, uma manifestação havia acabado de começar quando a polícia e o Exército agiram contra os participantes, contou o socorrista Htwe Zin, dando conta de um homem gravemente ferido. Jornalistas locais foram detidos quando transmitiam pelo Facebook imagens ao vivo da manifestação.

A ONG AAPP, que apoia os presos políticos, calculou em mais de 770 o número de pessoas detidas, acusadas ou condenadas desde o golpe. Dessas, 680 foram presas, mas o balanço deve aumentar. "Mais de 400 pessoas foram detidas hoje", indicou Bo Gyi, representante da AAPP.

- Audiência segunda-feira -Para justificar o golpe de Estado, os militares alegaram fraudes nas eleições gerais de novembro, as segundas desde a dissolução da junta em 2011 e que foram vencidas por ampla margem pelo partido de Aung San Suu Kiy.

Suu Kyi, prêmio Nobel da Paz em 1991, não é vista em público desde sua prisão domiciliar na capital Naypyidaw no momento do golpe. Ela foi acusada de importar ilegalmente walkie-talkies e, posteriormente, de violar as restrições do coronavírus.

Apesar de vários pedidos, seu advogado Khin Maung Zaw não terá contato com a cliente até uma audiência programada para segunda-feira.

bur-dhc/qan/lch/pz/msr/fp/lb

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