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Prisão de Alexei Navalny, uma arma do Kremlin para dissuadir os mais obstinados

02/03/2021 10h28

Pokrov, Rússia, 2 Mar 2021 (AFP) - A prisão onde o opositor russo Alexei Navalny cumpre pena, em Pokrov, uma cidade russa de prédios soviéticos e casas de madeira precárias localizada a 100 quilômetros de Moscou, é um centro penitenciário que tem a reputação de conseguir "subjugar" os prisioneiros mais obstinados.

Cercado por uma cerca de chapa metálica com arame farpado no topo, o Complexo No. 2 está localizado perto de uma fábrica da gigante alimentícia americana Mondelez.

"Dizem que é uma das prisões mais severas da Rússia", afirma Denis, um empresário que se recusa a fornecer seu sobrenome, "talvez seja por isso que ele foi transferido para cá".

O opositor de 44 anos, que no ano passado sobreviveu a um envenenamento atribuído ao Kremlin e passou vários meses convalescendo na Alemanha, terá que cumprir uma sentença de dois anos e meio em Pokrov.

Ele foi preso ao retornar à Rússia e condenado em fevereiro. Sua condenação provocou indignação da sociedade civil russa e das capitais ocidentais.

Em Pokrov, a simpatia pelo adversário é menos evidente. "Não nos importamos onde ele foi preso, o mais importante é que ele esteja na prisão", diz a aposentada Iadviga Krylova, de 56 anos.

- Longas jornadas de trabalho -Nos arredores da capital, Pokrov e seus 17.000 habitantes são um ponto de passagem no caminho para Vladimir, uma cidade medieval cujas igrejas listadas como Patrimônio Mundial da Unesco estão entre as mais visitadas da Rússia.

No passado, a cidade também marcava o limite de 101 quilômetros ao redor da capital, além do qual as autoridades soviéticas enviavam muitos intelectuais e dissidentes ao exílio.

Foi precisamente na época soviética que a prisão foi aberta.

Longe do legado do Gulag, o sistema de campos de concentração estabelecido sob Stalin, é hoje um dos 684 campos de trabalho que abrigam 393.000 prisioneiros na Rússia.

Em tese, a prisão oferece aos presos a oportunidade de trabalhar em troca de um salário baixo, que mal cobre os custos de acomodação que lhes são impostos.

Mas o sistema é regularmente criticado por grupos de direitos humanos, que denunciam as condições adversas e as horas de trabalho intermináveis.

Maxime Troudolioubov, diretor do site de notícias Meduza, afirma que o sistema de liquidação de prisões é um instrumento usado pelo Kremlin para subjugar oponentes e marginalizar os críticos.

"Este é o seu objetivo: ou a pessoa se acaba psicologicamente ou ela deixa a Rússia imediatamente depois de cumprir a pena. Em qualquer dos casos, o adversário abandona o campo de jogo", explica à AFP.

- Assédio e humilhação -A severidade do sistema é famosa.

Em 2013, Nadezhda Tolokonnikova, membro do grupo de protesto Pussy Riot que foi condenada a dois anos de prisão por cantar uma "oração punk" contra Putin na Catedral de Cristo Salvador em Moscou, fez greve de fome para protestar contra a "escravidão" em seu campo de trabalho na Mordóvia.

O diretor do Serviço Penitenciário Russo (FSIN), Aleksandr Kalashnikov, garantiu à agência de notícias TASS que "não haverá ameaça" à saúde de Alexei Navalny, que pode ser empregado como cozinheiro, bibliotecário ou costureiro.

Mas desde que seu local de detenção foi anunciado, ex-presidiários do centro penitenciário nº 2 têm informado sobre a vida diária no local.

A administração da prisão tenta "quebrar psicologicamente as pessoas", disse Dmitri Demushkin, um político nacionalista que passou dois anos nesta prisão.

Para Konstantin Kotov, que também passou dois anos lá por violar a lei russa sobre manifestações, "esta prisão é considerada exemplar e consegue isso ao não tratar as pessoas como seres humanos".

Ele descreve um ambiente no qual os detidos quase não têm tempo livre e são completamente isolados do mundo exterior.

O objetivo é manter "as pessoas sob pressão e subjugá-las".

Privada de sua voz mais audível, a oposição russa se pergunta em que estado Alexei Navalny sairá da prisão e se continuará disposto a enfrentar o Kremlin.

"Haverá assédio e humilhação. O objetivo do sistema é quebrá-lo", afirma Marina Litvinovitch, membro de uma comissão oficial que supervisiona as condições das prisões.

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