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Monges birmaneses divididos a respeito da junta militar

13/05/2021 08h31

Bangcoc, 13 Mai 2021 (AFP) - Onde estão os monges? O poderoso clero budista, que ficou na linha de frente da revolta popular de 2007 em Mianmar, agora está dividido a respeito do movimento contra o golpe de Estado e a violenta repressão dos militares.

Alguns religiosos estão dispostos a "renunciar a (sua) preciosa vida monástica para participar na revolução", como Shwe Ohh Sayardaw, que fugiu do mosteiro na região de Yangon e está escondido desde então em comunidades religiosas de todo o país.

Outros, ultranacionalistas, denunciam a política "maléfica" da ex-governante Aung San Suu Kyi e consideram o exército o "protetor da nação e da religião".

De Mandalay, a capital religiosa, até os vilarejos mais remotos, centenas de monges participam nas manifestações quase diárias desde o golpe de 1º de fevereiro.

Mas, ao contrário da "revolução do açafrão" de 2007 contra a anterior junta militar, batizada assim em homenagem à cor dos trajes dos religiosos, desta vez os monges não invadiram as ruas e nenhum deles tomou a dianteira dos protestos.

Isto não impede que as forças de segurança monitorem de perto um grande número de mosteiros. "Eles inclusive atiram dentro de vários edifícios", conta à AFP o ex-monge Gambira, um dos líderes da "revolução do açafrão", que retornou à vida civil.

Além disso, uma dezena de monges estão detidos, segundo a Associação de Assistência aos Presos Políticos (AAPP).

Em 2007, a repressão do exército foi brutal contra os religiosos. "Muitos foram assassinados ou estão desaparecidos, outros, detidos por vários anos, estão em más condições físicas. Muitos fugiram para o exterior", explica Gambira, refugiado na Austrália depois de ter sido condenado a 68 anos de prisão e de passar quase cinco em detenção.

Hoje, o movimento está desorganizado e com muitas divergências.

Alguns monges acusam Aung San Suu Kyi de ter iniciado um processo para limitar o budismo no país, ao tentar reduzir o financiamento estatal para as universidades monásticas.

A violência entre budistas e muçulmanos rohingyas, que provocou um êxodo destes últimos para Bangladesh em 2017, exacerba as divisões.

Uma organização monástica de "defesa da raça e da religião" (Ma Ba Tha) surgiu em 2014 para lutar contra uma suposta islamização de Mianmar, país que tem menos de 5% de muçulmanos.

Proibida e depois rebatizada, a organização é liderada por monges extremistas próximos ao exército e que defendem o golpe de Estado.

Se Mianmar tivesse mantido Aung San Suu Kyi no poder, o país "teria observado uma extinção das religião e das especificidades étnicas" em seu conjunto, afirmou à AFP um de seus membros influentes, o monge Parmaukkha, condenado a três meses de prisão em 2017 por incitação do ódio contra os rohingyas.

"Os birmaneses que são conscientes dos riscos protegem o atual governo (militar) e não vão protestar", completa.

Desde o golpe de Estado, o novo regime corteja o clero e reabriu os pagodes fechados há vários meses por causa da covid-19.

O chefe da junta militar, o general Min Aung Hlaing, e outros altos funcionários também intensificaram as visitas e doações a importantes monastérios.

Irritados com os abusos das forças de segurança, vários monges se uniram ao movimento de desobediência civil.

O código de vida monástico proíbe aos quase 300.000 monges de votar ou participar em manifestações políticas.

bur-sde/ybl/mab/pc/fp